domingo, 29 de abril de 2012

Curso de vela oceânica

Boas!


Quando eu era iniciante tive dificuldade em achar um curso do jeito que eu achava que um curso de vela deveria ser: pura imersão! Por isso desenvolvi o curso que na verdade eu mesmo queria ter feito: passar o dia embarcado e aprender a USAR o veleiro, desde soltar a poita até içar as velas; saber como fundear, como regular as velas, como e para que usar o VHF. Sob supervisão de alguém mais experiente, mas comigo pondo a mão na massa.

Pois é. Depois de um balão de ensaio com alguns amigos e de já ter tido alguns alunos pagantes, creio que já posso dizer que sou, oficialmente, instrutor de vela oceânica. Dar aulas não é exatamente uma novidade para mim, afinal eu faço isso desde meus quinze anos... comecei com o português, passei pelo direito do trabalho, pelo direito previdenciário e, agora, a ciência de Éolo. 



Com o Cusco Baldoso aqui perto essa atividade ficou mais fácil. As aulas têm sido realizadas em Guarujá, a partir do canal Bertioga.

O curso tem funcionado assim: embarcamos às 10h00 e enquanto o vento não entra, o aluno é apresentado ao barco e aos seus equipamentos. Prática e teoria, tudo junto e misturado em um bate papo leve - mas sempre atento à técnica. Por volta do meio dia já estamos em mar aberto (mas em área abrigada -navegação interior 2),

 V-E-L-E-J-A-N-D-O! 



O aluno conduz o barco nas diversas mareações: orça, través, popa. O fundeio é feito no cantão do Indaiá ou na praia de Iporanga, a depender do vento predominante, onde é feito um lanche. O retorno ocorre por volta das  17h00 , amarrando o veleiro na poita e tendo experimentado as principais situações do dia a dia de um veleiro de oceano.





Não tenho planos, por agora e com esse barco, de fazer passeios ou charters, mas estou estudando uma forma segura (para mim e para o barco, rs) de alugar o Cusco, em princípio para ex-alunos.


Mais informações AQUI!

E é isso ai, vamos no pano mesmo!

sábado, 28 de abril de 2012

Adeus ao Zé Peixe...

José Martins Ribeiro Nunes, ou Zé Peixe, foi com certeza o Prático menos convencional que já existiu. Ao contrário de seus colegas de profissão, não usava lancha de apoio para ir ou voltar até os navios que entravam ou saiam da barra. Do alto de seus 1,60 m de altura, Zé Peixe guiava o navio até o mar aberto e de lá pulava de uma altura de até quarenta metros. Se outro navio estivesse para entrar, aguardava abraçado em uma bóia de sinalização até ser içado; se não, simplesmente voltava nadando mais de dez quilômetros e, segundo dizem, saia da água sem sequer estar ofegante. Nunca achou que o que fazia era excepcional, nem se achava um herói ou coisa que o valha. Não bebia água doce, não tomava banho e se alimentava basicamente de frutas, pão e café. Ontem,  depois de oitenta e cinco anos de amor à vida e ao mar, ignorou a tradição de que não se inicia uma travessia em uma sexta-feira e deixou Aracaju/SE com destino à eternidade...

(c) www.infonet.com


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Marina Pública em Santos?

Boas!

Um projeto que há tempos está na pauta de aspirações do Prefeito-Velejador João Paulo Tavares Papa está para sair do papel: a revitalização da região do Valongo (no centro histórico de Santos), que prevê a criação de um complexo com centro de negócios, hotel e marina na área hoje ocupada pelos degradados armazéns 01 a 08 do cais. Tem muita gente graúda de olho nisso, desde Amyr Klink (que veio muitas vezes a cidade tratar do assunto com o Prefeito), passando pela  MSC Cruzeiros, e pelas grandes empreiteiras e construtoras. Se a ideia vingar - oxalá vingue! -, eu troco o apartamento por um barcão e vamos morar na tal marina! Será?!



segunda-feira, 23 de abril de 2012

Previsão do tempo...

Boas!


Dia desses comentei aqui no blog sobre o serviço meteoromarinha, prestado pela Marinha do Brasil no site: http://www.mar.mil.br/dhn/chm/meteo/. No começo o linguajar parece um tanto complicado, mas na verdade a coisa é bem simples. No boletim, que tem duas rodadas diárias (00h00 e 12h00), são trazidos avisos de mau tempo, avisos de vento forte (força 7 para mais) e de mar grosso, por exemplo. 

É feita, ainda, a análise do tempo, no geral e em específico para cada região do litoral brasileiro, identificada por uma letra do alfabeto fonético. A maior parte do litoral sudeste do Brasil fica na área Charlie (verifique onde fica sua área aqui!), mas esta área também sofre influência da área Bravo (atenção!). 

Fazem parte do serviço as cartas sinóticas, representações gráficas dos fenômenos atmosféricos em andamento, como esta:



 Para entendê-las melhor é preciso, porém, dominar a principal simbologia:


/



A muito grosso modo e de uma forma extremamente simplista (atenção!) pode-se esperar tempo bom quando se está sob uma zona de alta de pressão, e tempo ruim quando se está sob ou perto de uma baixa, de uma frente fria ou de um cavado (aréa de instabilidade, que pode virar uma frente fria). Por isso não se fie apenas na carta, leia o boletim e consulte outros sites, como o windguru e o climatempo.

Lembre-se: consulte sempre a previsão do tempo antes de se fazer ao mar!

E vamos que vamos!


domingo, 22 de abril de 2012

Há tempos não via uma ideia tão boa!


Como adoçar o motor de popa sem tirá-lo do barco:




Vale para bote, veleiro, lancha...só quem já carregou 31 kgs para lá e para cá sabe o valor disso!!!

Os créditos são para o Mario, do veleiro Redboy, de Angra dos Reis (in http://www.nautica.com.br/forum/viewtopic.php?f=5&t=11596).

Bons ventos!

sábado, 21 de abril de 2012

Devaneios ...



Velejar é estar em comunhão com Deus, é surfar nos ventos... 


MAS não é um barquinho ao por do sol numa brisa leve. Em geral, quando o sol se põe nem venta (aqui em Santos, pelo menos, é assim).



Para cada hora velejando, você passa quatro consertando... (velejar é consertar o veleiro em lugares exóticos, me ensinou o amigo Stark dia desses). Às vezes faz calor demais, outras frio... vc se programa, mas o tempo não ajuda... chove na hora errada, venta na hora errada, ou o oposto, ou o telefone toca... Às vezes é o céu, outras o inferno. Muito raramente será o meio termo. Você precisa lidar bem com a frustração, esperar a hora certa de fazer as coisas e aprender, com isso, a valorizar aquele dia perfeito (que são tão poucos...)



Viver a bordo não é algo tão romântico e simples quanto parece. Mas pode dar certo. Sem fazer filosofia de botequim, quando se está em paz consigo mesmo, qualquer lugar pode ser um lar. Mas se não estiver... ao invés de solução, provavelmente você terá um monte de problemas que não tinha antes.






E claro que pode se fazer de um barco, uma casa; mas não de uma casa,um barco. Quanto mais peso, quanto mais conforto, menos "vela" de verdade haverá...



Dia desses íamos passar dez dias no barco. Depois de seis eu pedi para voltarmos para casa. Minha mulher não acreditou: "nunca pensei que fosse ouvir você dizer isso". Pois é, ouviu... sem neuras, sem patrulha. Estava satisfeito, queria minha casa. 



Eu já pensei em morar a bordo. Hoje, depois de experimentar passar longos períodos no barco (ainda que em barco beeeeem pequeno), já deixei esse pensamento para lá. Prefiro morar perto do barco e, se Deus quiser, nunca ficar sem barco!



Mas não existe solução pronta. Cada um, cada um e meus votos são de felicidades e sucesso a todos!



e bons ventos, sempre.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Ventos de 35 nós na Regata do Rio Boat Show 2012!

Boas!

Parece que vento é o que não faltou na Regata do Rio Boat Show 2012. Apesar de ser um evento festivo, as tripulações viveram momentos de Volvo Ocean Race em plena Baia da Guanabara: SW de 35 nós, resultado da entrada de uma frente fria (que nem foi das mais fortes!).

Veja abaixo os vídeos feitos pelos veleiros Drunk Turtle (um belíssimo Atoll 23 - o Cusco quer ser como ele quando crescer, rs) e pelo Piacere (um Velamar 34). É interessante notar as estratégias diferentes de cada tripulação para encarar a situação.









E com esse ventão, mais do que nunca vamos no pano mesmo!

Eu quero um!!!

domingo, 8 de abril de 2012

Travessia Paraty - Guarujá em um atoll 23 - Abril de 2012 - Parte 01/02

Relato da travessia

No dia 02 de abril de 2012 eu e meu amigo Ricardo Stark deixamos a Ilha da Cotia com destino ao Guarujá. Mas essa travessia começou antes, quando eu decidi que não ficaríamos mais em Paraty (pelo menos não o ano inteiro). A primeira coisa que defini foi o tipo de clima que eu gostaria de encontrar pelo caminho: sol ameno, sem chuva, pouco vento e ondas baixas, ou seja, uma típica semana de outono. A navegação seria apenas diurna. Mas era preciso atenção, pois essas semanas costumam cobrar um preço alto: as frentes frias, quando entram, vêm com mais força.

Desde os primeiros dias de março passei a acompanhar diariamente, em suas duas rodadas, o meteoromarinha, serviço sensacional prestado pela Marinha do Brasil que disponibiliza além da análise do tempo e da altura das ondas, as cartas sinóticas que permitem visualizar melhor a previsão. Há até uma previsão detalhada para o litoral do Rio de Janeiro e uma ainda mais específica para a baía da Guanabara.

Carta sinótica do dia 03/04/2012.

Foi um período bastante interessante de estudo, pois no começo a simbologia e a linguagem é um tanto complexa. Eu sempre achei, por exemplo, que um cavado era um biquíni mais ousado! Ok, essa foi péssima...

Acompanhando a previsão deu para perceber que a semana de 01 a 08 de abril reuniria as condições ideais.  Aproveitei que o escritório não abriria nos dias 04, 05 e 06 e devidamente autorizado pela Priscila fui para Paraty, de carona com meu tripulante.

Eu e Ricardo preparando o Cusco Baldoso na Pier 46

No sábado - 31 de março - aproveitamos para por o barco em ordem. Já havíamos feito as compras na sexta (quarenta litros de água mineral, linguiças, provolone, salame, enlatados, massas, pães, frutas, verduras, doces e pratos pré-cozidos). Subi no topo do mastro, aproveitando a força do meu amigo Stark, para passar a adriça do assimétrico. Imaginei que ele nos faria falta pois a previsão era de ventos abaixo de dez nós e de través (SE).  Acertei, em parte.


A vista é linda...


... e balança bastante!

Orgulho gaúcho, tchê!

No domingo - 01 de abril -  saímos para velejar e testar tudo, inclusive como nós nos comportaríamos a bordo, já que eu e o Stark nunca havíamos velejado juntos. O motor de popa estava ok; o Zé (piloto automático - ST 1000) estava em dia e o assimétrico subiu fácil.  O Cusco adernou um pouquinho e  velejou bonito na merreca. A vela de proa seria uma buja 100% e no geral o plano vélico estava bem conservador. 

Foi ai que as coisas começaram a complicar um pouquinho. O motor de popa deu problemas no carburador e a adriça do assimétrico impedia que o enrolador funcionasse. Primeiro não enrolava nem desenrolava, depois apenas não desenrolava. Fundeamos na Ilha do Mantimento e resolvemos o problema da adriça da única maneira que encontramos: a eliminamos. Doeu, mas foi o que deu para fazer e apesar de certo aperto no peito, funcionou. Para compensar a trabalheira, avistamos vários golfinhos (o que aconteceria de novo, mais a frente e de forma mais intensa). 

Faltava ainda resolver o problema motor. Minha ideia era levar em um mecânico para limpar o carburador. Era domingo e isso só seria possível na segunda-feira, atrasando a travessia. Mas isso acabou não acontecendo, pois meu tripulante deu  uma grande prova de sua generosidade, de companheirismo e do quanto estava comprometido com aquele projeto que deixava de ser apenas meu, para ser nosso: fomos no vento até a marina do Engenho e trocamos o meu motor pelo Mercury 15 hp do Gaipava!

Estava tudo pronto. A travessia poderia começar. Aliás, já havia começado quando deixamos o cais da Píer 46...

O plano inicial era seguir até a praia do pouso (23º16'495 - 44º32'912), último ancoradouro seguro antes da Juatinga e bem pertinho dela. Mas já estava tarde e havíamos nos cansado baixando e subindo a buja na tentativa de resolver o enrosco. Achamos mais seguro, então, seguir para a Ilha da Cotia, onde fundeamos às 19h00. Sempre que estive por ali a pequena enseada estava repleta de barcos. Dessa vez éramos os únicos. Foi bom, mas também estranho. Um pouco depois chegaram mais duas lanchas, que passaram a noite pescando.  O voltímetro caiu um pouco - 11 volts - e cairia mais. Como sempre, subi um lampião de led para servir de luz de fundeio e depois da janta (feijoada!) fomos dormir.  

O crepúsculo na Ilha da Cotia, deserta...

Às 05h50 do dia 02 de abril recolhemos o ferro e ligamos o motor. Antes das 09h00 começamos a montar a Juatinga. Eu planejava me afastar umas cinco milhas, mas acabamos nos afastamos cerca de duas. Ganhamos altura depois que avistamos a Ilha Cairuçu. O mar estava liso e havia várias redes de pesca para desviarmos. Passamos a Ponta Negra as 13h00 e, então, subimos as velas. Vento de través, menos de dez nós, mar baixo. O Cusco implorava pelo assimétrico, mas não havia meio de subi-lo;  preferimos não trocar a buja pela genoa (ainda mas ali)... nos arrastamos até a Cabeça do Índio (Ponta da Trindade) a dois nós. Não estávamos mais no Rio de Janeiro, mas também não  avançávamos rumo ao Guarujá. Apenas nos afastávamos cada vez  mais da costa. Ligamos o motor. O voltímetro caiu para 9 volts e praticamente nada do sistema elétrico funcionava. O painel solar não recarregava as baterias (duas estacionárias de 70 amperes) e não usamos o carregador do motor de popa pois não sabíamos se os pólos estavam certos (afinal, aquele não era o motor do Cusco).  Após 14h19 de navegação e de quase cinquenta milhas, fundeamos na Ilha Anchieta. Jantamos (x-calabresa e uma gororoba de arroz que doeu para descer ) e fomos dormir.

Acertamos em cheio: a Juatinga estava dormindo (mas ainda assim, deu seus roncos).

Rumo à Ponta Negra.
Azul encontrando azul.

No través da Cabeça do Índio. Ao fundo, a Ilha das Couves.

No dia 03 de abril levantamos ferro da Ilha Anchieta por volta das 8h30. Fomos até o Saco da Ribeira e enchemos os tanques de gasolina. Até ali havíamos gasto trinta e oito litros, nossa capacidade máxima. Quando a Ilha do Mar Virado estava na bochecha de boreste, desligamos o motor e começamos a negociar lentamente nossa saída daquela bela baía. Ao meio dia estávamos no través do Mar Virado. Vento de través, mar baixo, sol ameno. O Cusco implorava por mais pano... A dois nós chegamos na Ilhabela às 18h00 e apesar da lentidão o dia foi bem divertido e silencioso. Ligamos o motor. Fundeamos no Saco da Capela em torno das 19h00 (com nosso próprio ferro, uma bruce de 7kgs, com doze metros de corrente e cinquenta de cabo). Jantamos e fomos dormir. Ou pelo menos tentamos. Para mim a ancoragem foi péssima. O mar batia muito e a todo instante nos lembrava que não estávamos mais na Cotia. Às 02h00 o vento entrou forte, com chuva. Fiquei no cockpit vigiando o fundeio. Estava louco para ir embora, sair dali. Só não propus isso ao Stark porque já havia aprendido que estar descansado é fundamental para que erros bobos (e potencialmente mortais) não sejam cometidos. Dormimos.

Ancoradouro na Ilha Anchieta. Alguém no antigo presídio nos guiou com uma lanterna. Obrigado!

Deixando o Saco da Ribeira.

Ilhabela, ai vamos nós!

A Ilha Anchieta vai ficando para trás...

...e  a Ilhabela fica cada vez maior.

No dia 04 de abril recolhemos o ferro às 05h00, sem sequer tomarmos café da manhã. Seguimos em silêncio, atentos a tudo ao redor. Às 09h00 já estávamos fora do canal, no través de Maresias, rumo ao Montão de Trigo, onde chegamos às 11h30. Sempre quis passar por lá... teria sido legal fundear e mergulhar, mas acabou que isso não aconteceu (dessa vez). Seguimos para o canal de Bertioga. Nada de baterias, nem no barco, nem no celular (que esqueci ligado, inutilmente).


O Zé não trabalhou desde a baía de Paraty. Nos revezamos em turnos de duas horas cada um no leme. Comecei a usar o Facebook para me comunicar com a Priscila (viva a Vivo Internet 3G, que funcionou bem desde a Juatinga, no notebook), aproveitando para deixar registrada nossa posição para os amigos velejadores (vai que, não é?).


Não velejamos  sequer meia milha nesse dia. Às 15h00 estávamos no través da Riviera de São Lourenço, quando muitos golfinhos cercaram o Cusco e fizeram a festa. É incrível como esse animal tão inteligente nos faz sentir como crianças... Às 16h00 estávamos no través da Pedra do Corvo, entrada do Canal de Bertioga.. Era quarta-feira e não haveria lanchas, pois as marinas estão fechadas (até nisso o planejamento deu certo!).

 Olhamos o tanque e mais trinta e oito litros haviam ido para o espaço. Navegamos no vapor de gasolina e, para fazer durar o nada que tínhamos, tocamos o barco a um nó. Abrimos a buja para ajudar, pois havia uma brisa. Dois nós. Para ajudar a correnteza estava forte e contra (assim como a chuva). Passamos pela balsa, pela Porto do Sol, pelas Nacionais... E, enfim, às 17h10 amarramos o Cusco na poita. A derrota estava cumprida. Foram cento e vinte e seis milhas navegadas desde a Ilha da Cotia, ao longo de trinta e seis horas de navegação, distribuídas entre três dias. Havia dado tudo certo.


Stark pagando mais um quarto de leme, no canal de São Sebastião.
O almoço que o Stark fez no último dia: a melhor refeição da travessia!
O Montão de Trigo.


O Canal de Bertioga. Como diria o brinquedinho da Alice: abeeeeeeerto!


Motorando no vapor de gasolina...


E vamos que vamos!


sábado, 7 de abril de 2012

Travessias e cruzeiros costeiros em pequenos veleiros...

Existe um mito no meio náutico brasileiro de que pequenos veleiros não servem para cruzeiros costeiros. Travessias, em nossa cultura náutica, são destinadas apenas aos veleiros maiores do que trinta pés e poucos são os que discordam disso. Os pequenos são destinados para as pequenas baias, rios, lagos e lagoas abrigadas. Isso se deve basicamente ao fato de que a maior parte dessas embarcações está concentrada no eixo Niterói/Santos, região onde venta relativamente pouco (vinte nós já é “ventão”).


Mas quem fica algum tempo na baía da Ilha Grande logo percebe que há mesmo algo de errado em nossos conceitos. Não raro aparecem por ali embarcações de 23, 25 ou 27 pés que cruzaram o Atlântico – algumas sem um motorzinho de popa sequer, só no vento (as francesas, aliás, geralmente têm um estado de conservação que não inspira muita confiança!).

Daí logo percebemos que veleiros pequenos podem fazer travessias ou pequenos cruzeiros costeiros. Tudo depende apenas e tão somente de um minucioso  planejamento.


Em 2010 fiz a travessia entre Paraty e Guarujá no primeiro Cusco Baldoso, um Rio 20. A experiência serviu para mostrar que barcos pequenos são capazes de fazer percursos que no geral são destinados aos barcos grandes. Mas também mostrou que meu planejamento era pífio: errei na rota (sem escalas); errei na escolha da tripulação; errei no tempo (tinha pressa, muita pressa).

Essa semana refiz essa travessia com o novo Cusco Baldoso (atoll 23). Fiz tudo diferente da primeira vez: reservei uma semana interia para o trajeto; antes de sair testei todos os equipamentos essenciais; pensei muito bem em quais provisões levar e, mais importante do que isto, escolhi um excelente tripulante: meu amigo Ricardo Stark, do veleiro Gaipava, alguém dotado da generosidade e do respeito pelo mar que só os navegadores de verdade têm.  Desde já faço questão de deixar registrado aqui meu muito obrigado a essa grande figura, que sabe dizer o que é preciso, quando é preciso e de forma bastante precisa.


A viagem começou às 05h00 do dia 02 de abril de 2012, quando levantamos a âncora do fundo lamacento da Ilha da Cotia (enseada da paz celestial, como diz meu amigo Hélio Solha, um dos muitos que ficaram por lá). Navegamos cento e vinte e seis milhas ao longo de quarenta horas, com paradas longas para comer e dormir bem: a primeira na Ilha Anchieta e a segunda no Saco da Capela. Motoramos, velejamos, rimos, conversamos e ficamos em silêncio admirando a beleza do mar e do desenho da costa (a muralha). Às 17h10 (obrigado pela precisão, Priscila!) do dia 04 de abril, amarrei o Cusco na poita (sua nova velha casa) e fui ao encontro das minhas meninas que me esperavam no cais...

O relato dessa travessia será feito aqui no blog na próxima segunda-feira, 09 de abril e virá em quatro pernas: a preparação; Paraty/Ilha Anchieta; Ilha/Anchieta Saco da Capela e Saco da Capela/Guarujá.


E vamos no pano mesmo!