sábado, 7 de abril de 2012

Travessias e cruzeiros costeiros em pequenos veleiros...

Existe um mito no meio náutico brasileiro de que pequenos veleiros não servem para cruzeiros costeiros. Travessias, em nossa cultura náutica, são destinadas apenas aos veleiros maiores do que trinta pés e poucos são os que discordam disso. Os pequenos são destinados para as pequenas baias, rios, lagos e lagoas abrigadas. Isso se deve basicamente ao fato de que a maior parte dessas embarcações está concentrada no eixo Niterói/Santos, região onde venta relativamente pouco (vinte nós já é “ventão”).


Mas quem fica algum tempo na baía da Ilha Grande logo percebe que há mesmo algo de errado em nossos conceitos. Não raro aparecem por ali embarcações de 23, 25 ou 27 pés que cruzaram o Atlântico – algumas sem um motorzinho de popa sequer, só no vento (as francesas, aliás, geralmente têm um estado de conservação que não inspira muita confiança!).

Daí logo percebemos que veleiros pequenos podem fazer travessias ou pequenos cruzeiros costeiros. Tudo depende apenas e tão somente de um minucioso  planejamento.


Em 2010 fiz a travessia entre Paraty e Guarujá no primeiro Cusco Baldoso, um Rio 20. A experiência serviu para mostrar que barcos pequenos são capazes de fazer percursos que no geral são destinados aos barcos grandes. Mas também mostrou que meu planejamento era pífio: errei na rota (sem escalas); errei na escolha da tripulação; errei no tempo (tinha pressa, muita pressa).

Essa semana refiz essa travessia com o novo Cusco Baldoso (atoll 23). Fiz tudo diferente da primeira vez: reservei uma semana interia para o trajeto; antes de sair testei todos os equipamentos essenciais; pensei muito bem em quais provisões levar e, mais importante do que isto, escolhi um excelente tripulante: meu amigo Ricardo Stark, do veleiro Gaipava, alguém dotado da generosidade e do respeito pelo mar que só os navegadores de verdade têm.  Desde já faço questão de deixar registrado aqui meu muito obrigado a essa grande figura, que sabe dizer o que é preciso, quando é preciso e de forma bastante precisa.


A viagem começou às 05h00 do dia 02 de abril de 2012, quando levantamos a âncora do fundo lamacento da Ilha da Cotia (enseada da paz celestial, como diz meu amigo Hélio Solha, um dos muitos que ficaram por lá). Navegamos cento e vinte e seis milhas ao longo de quarenta horas, com paradas longas para comer e dormir bem: a primeira na Ilha Anchieta e a segunda no Saco da Capela. Motoramos, velejamos, rimos, conversamos e ficamos em silêncio admirando a beleza do mar e do desenho da costa (a muralha). Às 17h10 (obrigado pela precisão, Priscila!) do dia 04 de abril, amarrei o Cusco na poita (sua nova velha casa) e fui ao encontro das minhas meninas que me esperavam no cais...

O relato dessa travessia será feito aqui no blog na próxima segunda-feira, 09 de abril e virá em quatro pernas: a preparação; Paraty/Ilha Anchieta; Ilha/Anchieta Saco da Capela e Saco da Capela/Guarujá.


E vamos no pano mesmo!

15 comentários:

  1. Juca, obrigado pelas palavras amigas. São esses momentos que fazem a vida valer a pena!!

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    1. Eu é que agradeço. Bora pensar na próxima, afinal, Floripa é logo ali!

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  2. Juca, os que pensam que é a partir de trinta pés o tamanho do veleiro para se fazer cruzeiro, tivessem consciência do que dizem... deixando de lado a opinião pessoal e avaliando de verdade as possibilidades de um pequeno veleiro oceânico, as limitações recaem sobre os comandantes...
    O rio 20 é um pequeno grande barco, assim como o Atol, que apesar de seus anos, se bem mantido te levará até o Caribe, se o desejar.

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    1. Pois é Marcos! Não quero dizer que com um 23 pés se possa sair para qualquer lugar, em qualquer tempo e condição de vento e mar. Longe disso. Mas com planejamento e tempo (esse último, cada dia mais raro na vida moderna), é possível fazer, sim, tudo o que um veleiro maior faz. Se com mais ou menos conforto, ai é questão pessoal. Penso que é possível fazer do barco sua casa, mas não da casa um barco. É a segunda vez que faço essa travessia com veleiro pequeno. A primeira (feita numa tocada só) foi uma droga. Já essa, feita em três dias, deixou muitas saudades... Bons ventos!

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  3. Nada, Cath Stark! Ele agora vai um bocadinho mais longe, afinal, o que são 20 milhas para quem fez 126 numa tocada só?! Bons ventos!

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  4. parabéns camarada, faltam 14 anos para me aposentar, quando chegar o dia, pretendo percorrer todo o litoral brasileiro em um atoll 23, inicialmente, talvez mude, para quem acha que é uma grande façanha que veja essa: http://www.ilhasailing.com.br/historias/RussoDaVoltaMundoSozinhoVeleiroPequeno.htm navegante russo Evgeny Gvozdev, com um barquinho de 12 pés construído na varanda de seu apartamento na Rússia, sem GPS, Cartas, Motor, etc, a bordo do veleiro Getan II estava dando, ao que consta, sua terceira volta ao mundo.
    Detalhe: quando esteve na Ilhabela já tinha vendido o motor de popa e o GPS para comprar comida e só ia na navegação tradicional.
    Em entrevista à Revista Náutica na época perguntaram se tinha algum problema durante a navegação pelos oceanos da vida, ao que respondeu: " No motors, no eletronics, no woman ... no problems"(rsrsrs)

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  5. desculpe, me identifico: sg-am-adriano@hotmail.com
    sou sargento da Marinha do Brasil, mas tenho muito a aprender com os homens do mundo da vela, os verdadeiros navegantes.

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  6. Sargento Adriano, é um imenso prazer tê-lo a bordo do Cusco Baldoso. Espero que em breve vc possa estar no mar, com eu próprio veleiro! Bons ventos, sempre! Em tempo: Evgeny era um sábio (mas minha mulher que não me leia!!!)

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  7. Caro Juca! Posso afirmar a vc que a tua conquista, que a realização desta aventura que acaba de fazer eh meu projeto de vida, mesmo sabendo que nao será fácil pois nao sou uma pessoa de posses, ou mesmo alguém que já tenha atingido a estabilidade financeira necessária para uma aposentadoria decente. No alto de meus 50 anos recém feitos, cultivo diariamente este sonho e busco o caminho que me levara a realiza-lo. Parabéns comandante o mar eh todo seu.

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    1. Jose Barreto, nunca e terde para ser feliz, veja eu sou caminhoneiro e sempre cultivei este sonho, e logo que fiz 52 anos vendi um caminhao ,para comprar o meu primeiro barco ,o Hagatanga, um ano depois, infartei ,e perdi 80% do curacao, nao pude mais trabalhar, resultado? vandi o Hagatanga ,Morava no Rio de Janeiro, hoge estou com 65 ,mudei-me para os usa ,e durante 4 anos pilotei carretas aqui, juntei um dim dim e comprei o meu sonho um balboa 26 ,1971, o estou equipando para fazre um outro sonho , costiar as America e parar no Brasil , percista amigo e nunca desista ,.... E nas tenpestades que se talha grandes marinheiros ,abracos Fredy.

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  8. Jose Barreto, encontro-me na mesma situação. Quase aposentado, poucas posse e pequeno benefício. Mas com enorme vontade de aprender a velejar e "sair sem destino". Quem sabe acho um companheiro a me acompanhar. aij2007@UOL.com.br

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  9. Jose Barreto, encontro-me na mesma situação. Quase aposentado, poucas posse e pequeno benefício. Mas com enorme vontade de aprender a velejar e "sair sem destino". Quem sabe acho um companheiro a me acompanhar. aij2007@UOL.com.br

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  10. Caro Comandante,
    Muito interessante o seu relato. Gostaria de sua avaliação sobre o comportamento do Rio 20 em mar aberto. Já tive um em Brasília. Gostei muito. Estou pensando em comprar um para velejar na costa da Paraíba, que possui ventos médios a fortes e águas rasas (muito corais e baias). Estou avaliando a compra de um Microracer 19, com quilha retátil. Se puder me ajudar agradeço sua atenção!
    Bons ventos!!!

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  11. gostaria de saber mais sobre este projeto

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  12. Parabéns a todos... sou mais um sonhador querendo velejar e deixar minhas aventuras relatadas aqui,,, Obrigado Comandante Juca e Comandante Ricardo... cada palavra nos enche o coração de esperança e força para essa aventura..

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