quarta-feira, 30 de julho de 2014

Seguro Obrigatório de Embarcações - DPEM ON LINE

Boas!

Todos os anos as embarcações de esporte e recreio devem renovar seu seguro obrigatório - DPEM. Esse seguro não cobre sinistros com a embarcação em si, mas com danos causados por embarcações à integridade e à vida de pessoas, transportadas ou não, nos moldes do DPVAT. O valor do prêmio varia entre R$ 17,20 e R$ 93,23 por ano e gera em caso de morte ou invalidez uma indenização de R$ 13.500,00 e para o custeio de despesas médicas e suplementares, de R$ 2.700,00.  A contratação desse seguro é orbigatória e o porte do comprovante na embarcação também é!

A contratação e a renovação é um processo simples e pode ser feito totalmente on line no site do DPEM On Line: http://www.dpemonline.com.br/ - dica do Matheus Eichler.

Seu DPEM está em dia? Não marque bobeira!

E vamos no pano mesmo!!!

terça-feira, 29 de julho de 2014

São Francisco do Sul - SC



Boas!

Nosso plano era sair na sexta, 25, bem cedinho para irmos até São Francisco do Sul, no norte de Santa Catarina. Essa era nossa terceira tentativa de ir até lá. A primeira foi com o Malagô, no final do ano passado, frustrada por um fuzil rompido em regata. A segunda foi no início desse mês de julho, brecada por um exame médico da Priscila. Dessa vez iríamos  de qualquer jeito.

Na quinta, porém, atendi o celular e acabei tendo que vir trabalhar na sexta. Um testamento que eu tinha que redigir e formalizar deixou se ser "para quando você puder" e tornou-se "urgente, para ontem". Essas coisas levam tempo e demandam atenção (e, mais do que isso, pagam muitos meses de marina) e São Chico (já estou íntimo) ficaria para depois. 

Trabalhei o dia inteiro, o que atrapalhou nosso cronograma. Conversamos e  acabamos decidindo ir assim mesmo, no sábado. Seria uma viagem longa e cansativa, mas do contrário faríamos o quê? Entre ver o mundo e o sofá, melhor ir lá ver como é que era!

Nessa partimos  às 05h00. Chegamos ao meio dia, depois de rodarmos 589 Km e nos instalamos na Pousada Canto das Ondas, da família Ville Floriani. Se eu tivesse me arrependido um segundo que fosse de ter ido, esse arrependimento teria passado ao conhecer essa família e sua casa. Que pessoas especiais! Educadas, gentis, interessantes e atenciosas em um nível que não se vê mais por ai. O Rico, a Luciane e seus filhos são daquele tipo de gente que você quer ser amigo e ver todo final de semana!

Eu acompanho o blog do Rico desde o começo e sempre achei bastante interessante e extremamente bem escrito. A pousada é  lugar fantástico! Simples, mas extremamente elegante e super aconhegante. A atenção que o casal dá para os mínimos detalhes (até para aqueles que ninguèm vê) é algo digno de nota. Nós já estivemos em muitos lugares por ai, mas como a Canto das Ondas, sem demagogia alguma, eu não consigo me recordar.É nessas horas que você percebe que esse lance de náutica envolve muito mais do que apenas velejar. Os lugares e as pessoas que a gente conhece pelo caminho tornam essa expeirência muito mais rica. Se existem velejadores mesquinhos e chatos, eu sinceramente ainda não os conheci. 

De brinde ainda encontramos por lá o Julio França (nosso aluno e amigo, que por uma dessas coisas do destino comprou o Hoje! - veleiro dos Ville Floriani) e sua família e meus queridos sogros Celso e Fabiana. De quebra (FINALMENTE) conhecemos o Museu Nacional do Mar, um dos sonhos que estavam no pote há tempos. O lugar é bem como eu imaginava e de certa forma émaravilhoso e  triste (ao memso tempo) que exista um lugar assim, pois as tradições náuticas nele retratadas deviam permanecer vivas em nossa cultura lá fora, no mundo real. Eu já vi uma Costeira navegando em São Luís e vi outra ali, no Museu. A Alice, a Brida e os filhos delas, porém, se quiserem ver uma, terão de ir até São Francisco do Sul...

Infelizmente fomos forçados a retornar no domingo no final da tarde, mas ainda voltaremos lá para navegar na Babitonga!

E vamos no pano mesmo!

Galeria:

Da Babitonga...

... dessa vez...

... vimos apenas isso.

Santista não sabe sentir frio.
Juca, Priscila, Alice, Luciane e Rico.

Júlio França, no comando do agora seu Hoje! - (c) Rico Floriani
Fabiana, Celso, Priscila e Brida.

Vitor e Alice acabando com a horta  - (c) Rico Floriani
Museu Nacional do Mar

Detalhes da pousada.













segunda-feira, 28 de julho de 2014

Adeus roda de leme!

Boas!

Semana passada, seguindo o cronograma interminável de reformas e manutenções do Malagô, fomos para Ubatuba trabalhar. Para isso tirei uma semana de férias, o que é algo meio contraditório, pois férias são por definição um período para não se trabalhar... Originalmente, confesso, essas férias tinham outro propósito: fui convidado pelo Alexandre Dangas, do Superbakanna, para participar da 41ª Semana de Vela de Ilhabela (um antigo sonho). Porém, contudo, todavia e entretanto a logística para deixar as meninas sem mim durante todo esse tempo sacrificaria demais a Priscila e todo homem do mar sabe que a vida em terra fica muito mais difícil se a Almiranta está descontente. Como meu potinho de sonhos anda cheio esse ano (travessia Rio - Angra vindo ai, conhecer o Museu Nacional do Mar ontem e a Refeno em setembro, isso sem falar do que faremos em janeiro) abaixei a bola e escolhi ficar com as mocinhas, sem arrependimentos a não ser o de ter sido indelicado com o Alexandre. Mas ele é marido também e sabe como são essas coisas.

Nisso, depois do aniversário da sobrinha Maria Eduarda no sábado, 19, tocamos para a Ribeira e iniciamos os trabalhos. Três eram as missões: iniciar a substituição do estaiamento; trocar os cabos do comando de engate e aceleração do motor e substituir a roda de leme por uma cana.

Adeus roda de leme. Como a Itapira do poeta Andrade (o outro), ela virou apenas uma lembrança na parede de minha sala.
Muitas pessoas acharam que eu surtei, afinal, uma roda de leme é muito melhor do que uma cana. Será?

A questão é um pouco complexa e vai além do gosto pessoal. Para ser breve, devo dizer que veleiros com roda de leme apenas valem a pena quando são projetados para receber uma roda, não apenas no que diz respeito ao sistema, mas principalmente pela ergonomia do cockpit. Se em abril, quando eu fracassei na tentativa de levar o Malagô de Ilhabela para Ubatuba, eu tivesse uma cana, teria se não atingido o objetivo, pelo menos me exposto menos ao risco de uma queda no mar - pois a saída do posto de pilotagem era complicada e me fazia ficar em pé sobre o banco. E essa segunda parte para mim era muito mais importante.

O Malagô foi projetado para ser timoneado através de uma cana. Sim, ela é pesada e faz a gente cansar mais. Mas em compensação permite que a gente SINTA o barco de uma forma que a roda nem em sonho permite. A ponta dos dedos se torna um INSTRUMENTO de navegação e você, quase como que sendo uma extensão natural do barco, sabendo instantaneamente se as velas estão bem trimadas (preservando a integridade do leme) e a velocidade do barco. Claro que  isso demanda um pouco de prática, mas nada que VELEJAR não resolva. Quem já foi meu aluno sabe que eu gosto de ensianr a ler os elementos e saber o que está acontecendo, sem depender de nada movido a 12 volts. Quanto ao esforço físico, existe NESCAU. 

Outra coisa que me motivou a fazer essa mudança era o constante desgate do sistema, em especial dos cabos que faziam a tranferência do movimento da roda para o quadrante da cabeça do leme. Parte dele eu troquei por spectra e nunca mais me incomodei. Porém, quando desmontei o pedestal vi que os demais cabos de aço já estavam por se partir. O que não se tem, não se quebra. Essa é outra lição que o mar nos dá.

A cana de leme "gigante".

O Miguel, marceneiro naval lá da Ribeira, fez a nova cana em cedro e freijó (laminados com epoxy) e manteve o encaixe da cana original, em bronze.
 A faina levou um dia inteiro, mas ao final eu ganhei não apenas um cana como eu queria (com 1,71m - ou seja, maior do que eu!), como também um convès à popa muito mais livre. Ganhei uns 4 pés de barco, antes estorvados. Gostei!


A Helmann´s Light ganhou na cana um novo suporte. Esse dispositivo supermoderno nada mais é do que um LED dentro de um vidro de maionese que usamos para iluminar o ambiente externo à noite. É bem simples de fazer (já veio com o Malagô) e não gasta praticamente nada de bateria.


No dia seguinte, para não cansar as meninas fomos tomar sorvete em Paraty e, ao final da tarde, fomos até a casa do Ricardo Stark tomar café da tarde e tentar botar o papo em dia. Como sempre, foi muito legal.

De um jeito ou de outro...

... a gente sempre acaba...

... onde para a gente, nossa família começou: Paraty!

Na quarta troquei os cabos do comando e achei melhor trocar a manete também (estou esperando chegar). Contratei um marinheiro para subir no mastro e baixei o estai de popa, o primeiro que será substituído. Infelizmente esticadores de bronze não se fazem mais. Os meus virarão presentes e enfeites para mim e para amigos queridos, conforme forem sendo substituídos e o Malagô vai, aos poucos, conhecendo o aço inox... faz parte.

Apesar do trabalho os dias e as noites foram bem agradaveis. Mas na quibta já era hora de ir. Então começou uma nova etapa nessas férias de inverno: colocamos a proa para a baia da Babitonga, mas essa é outra conversa.

E vamos de touca e cachecol mesmo! 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

SOS Malibu


Eu velejei muitos anos em monotipos, antes de ir para os veleiros de oceano. O penúltimo deles foi o Dom Fernando, um Dinghy Andorinha projetado pelo Cabinho, construído pelo meu amigo Fernando Leitão no Rio de Janeiro (no galpão de São Cristovão) e terminado aqui no Guarujá, na Náutica Sangava.
O Dom Fernando...

... nosso Dinghy Andorinha/Roberto Barros YD.

Ainda na "fase de testes", sai com a Priscila (que opção ela tinha?) e fiquei velejando na entrada do canal de Santos. O vento apertou, pois estava entrando uma frente fria e decidi reduzir os panos, abaixando a buja. Dizem que cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Mas nesse dia não foi bem assim.

Um navio estava saindo do porto e, como sempre ocorre nessas situações, nós evitamos cruzar o canal, mantendo a navegação na região próxima a uma das margens. Estávamos na margem de Guarujá, em frente à sede náutica do CIR quando ouvimos o  PLAFT!

O estai de proa estourou. Pudera! Ele era mais fino do que o especificado no projeto e sem o cabo de aço que havia na testa da buja (que, por cautela, eu havia abaixado) o peso que ele passou a suportar foi além de sua capacidade. 

O mastro não caiu imediatamente. Como sempre ocorre nessas situações (essa foi minha terceira) a jaqueira veio abaixo em ultra slow motion, fazendo a gente até acreditar que ele ficará lá em cima. Mas não, ele não fica. O mastro caiu em cima de mim e da Priscila, por sorte sem machucar ninguém.

- O remo! - pedi para ela.

Remei, remei, remei mas esse barco sempre teve por característica RODAR quando remado, mesmo com alguém no leme. Não tinhamos motor - era no pano mesmo! O navio que estava de saída já estava bem próximo de nós. Acho até que dava para toca-lo com a ponta dos dedos...  foi então que tivemos uma visão que nos motivou a remar ainda mais: o hélice do navio semi submerso, dizendo: VENHAM! 


Eu tirei essas fotos no sábado...

... pois essa imagem mepareceu bastante familiar.

Remei, remei, remei, remei, remei, remei, remei, remei mas não adiantava! Continuavamos girando,  girando, girando e girando, indo sempre para o hélice do navio e, acreditem, ele não é pequeno. 

Foi então que pela primeira vez na minha vida dei a ordem de abandono: "- Priscila,  vamos pular e nadar para o mais longe possível desse bicho!". Ela me olhou com uma expressão que ia da incredulidade ao medo, passando pela raiva de eu tê-la colocado naquela fria até que, então, seus olhos começaram a brilhar de alegria: 

 "- PEEEEEEEEGGGGAAAAA!!!!" - ela gritou.

Eu,m tonto como sempre, retruquei:

- Pegar o quê????

Ela insistiu:

 "- PEEEEEEEEEEEEEEGGGGAAAAA!!!!"

Virei o corpo (e os olhos) para a proa do barco e vi uma lancha do Corpo de Bombeiros e, mais do que isso, vi um cabo voando no ar.

Eu sou cegueta e tenho péssimos reflexos, a ponto de se alguém me arremessar um maço de notas de cem reais a dois metros eu certamente irei deixar cair no chão. Nesse dia, contudo, o impossível aconteceu: mesmo sem entender direito o que estava acontecendo, eu peguei o cabo no ar e o segurei a ponto de "esquiar" com o veleirinho (não havia tempo para amarrar em um cunho, que a essa altura também sequer havia sido instalado).

Ufa!

Fomos rebocados até a Sangava pelos bombeiros, com as pernas bambas e pensando a todo instante que poderia ter acontecido algo desagradavel, para dizer o mínimo. Pelo que soubemos depois a lancha estava passando ali por acaso e viu, por acaso, nossa onça. Foi a primeira vez que um bombeiro me socorreu no mar, mas não a última. Houve outra, mais séria. Essa, porém, é uma história para outro dia...

E vamos no pano mesmo! 

Vento!

Boas!

Esse final de semana fiz instrução de monotipo para dois alunos, o Luciano (no sábado) e o Eduardo, (no domingo). No sábado ventou bem (quase dez nós), mas no domingo a coisa ficou boa demais da conta, sô - nas rajadas o vento chegou a quinze nós. 

Luciano e...
... Eduardo.
Nos dois dias fizemos uma velejada típica de dias de vento leste na baía de Santos: saímos do clube (no vento), empopamos no sentido de São Vicente (W) e de lá retornamos em vários zigue-zagues, em  uma orça bem apertada, até voltar para a rampa, no pano mesmo. Como estava "a trabalho" levei o mercury 3,3 HP na popa do Daysailer. Apenas um placebo, pois nem gasolina havia no tanque.




Uma conclusão que cheguei é que preciso de uma GO-Pro urgentemente, pois fiquei tão ocupado caçando e folgando escotas (e fazendo escoara, claro) que fotografar ou fazer um vídeo foi algo simplesmente impossível. Em compensação hoje nem parece que um caminhão me atropelou, ou seja, meu condiconamento físico está retornando, graças a essas velejadas!

A próxima será no Malagô.

E vamos no pano mesmo!

domingo, 6 de julho de 2014

Velejando na bruma...


Boas!

Quando eu tinha barcos pequenos vivia sonhando com os grandes. Dizem que o barco ideal tem sempre três pés a mais do que o nosso atual. Comigo, porém, tem  ocorrido o oposto: tenho lançado os olhos para os pequenos. Por conta disso nesse sábado  decidi  velejar no Cusco Baldoso, o Daysailer de nossa escola de vela que fica em Guarujá. 

Para a "aventura" convidei o Cassio Souza e o Aruã Covo, que prontamente aceitaram. O dia amanheceu com um espesso nevoeiro e não tínhamos certeza se daria para sair, especialmente porque não levaríamos o motor de popa - a coisa tem que ser no pano mesmo! Montamos e desmontamos o barco duas vezes, para eles aprenderem os macetes e fomos esperar o vento no bar do clube. Nessa o Jefferson, do Goludo, apareceu e como ele sempre atrai muito vento não deu outra: após meia hora de papo o dia foi salvo e o vento entrou - fraquinho, mas o suficiente para o Cusco. Grande Jefferson!!!

Mesmo com um ventinho de nada e com três tripulantes o barquinho andou muito bem!

Aruã...

... Cassio e...

... Juca.

Velejamos pela baia de Santos e conseguimos simular três pernas de regata (barla-sota), aproveitando para explorar as regulagens do barquinho. Na prática as regulagens de vela são as mesmas de um oceano, orbitando entre as tensões nas adriças e nos pontos da buja para cada mareação. Uma diferença é a bolina, que vive em um sobe e desce e a posição da tripulação, que influi mais do que nos veleiros lastreados. Algo muito interessante é que o resultado se nota de maneira muito mais vívida do que em um oceano e os conceitos ficam mais bem fixados. Um exemplo claro é a tensão da adriça da buja na orça e a da esteira da mestra no popa. O veleiro muda completamente. Uma grande pena foi não ter outro daysailer para "competir" conosco. Pode-se velejar todos os dias, mas só se começa a velejar bem e de forma competitiva quando velejamos com (contra) outro barco.




Voltamos para o clube no pano até a Fortaleza da Barra. Lá o vento, de S, miou e tivemos que apelar para a corrente da maré e para o vento sueco: o remo. Chegamos por nossa própria conta um pouco antes das 17h00.

E é isso ai, vamos no pequeno mesmo!
    


terça-feira, 1 de julho de 2014

Cadê o horizonte?

Boas!

Quem frequenta as praias do litoral norte paulista e sul fluminese  tem uma relação íntima com a Rodovia Rio Santos, a "infinta highway".  Com pista simples e cheia de curvas, a estrada nos provoca  as sensações mais variadas e ouso dizer que ela é um passeio dentro do passeio. Mata atlântica por todos os lados, cachoeiras aqui e ali, a "muralha" da serra do mar acolá e de tempos em tempos vislumbres do mar de tirar o fôlego.

Para ir até Ubatuba eu a pego desde o seu fim, em Santos, no quilômetro 246. O Saco da Riberia está no quilômetro 62. Desde a travessia de balsas até o pier da Ribeira são exatos 199 quilometros, que quando não há trânsito temos feito em três horas e meia. 

O trecho mais íngreme é a serra entre Boiçucanga e Maresias. Sete quilômetros de suplício; o mais lento vem logo a seguir, entre Maresias e o centro de São Sebastião. Vinte quilômetros de curvas para lá e para cá, a uma velocidade média de cinquenta quilômetros por hora. Esse trecho, apesar da baixa velocidade, é um dos mais belos, pois é elevado e traz vistas senacionais do mar, das ilhas ao largo e da Ilhabela. 

É nesse pedacinho da estrada que fica uma obra de arte pouco convencional e genial. Em uma das curvas há um muro e é evidente que  esse muro não foi erguido sem razão. A curva fica em um barranco e logo abaixo há uma dezena de casas de veraneio e não devem ter sido poucos os carros que voaram por ali. Mas antes do muro havia uma das mais belas vistas do litoral de São Paulo - sem exageros.

Não, a obra de arte não é o muro. Aliás, o muro é bem sem graça: feito de blocos, revestido com cimento e com arame farpado em seu topo, é um emblema da civilização humana, que teima em trazer o cinza pálido para onde quer que vá, para onde quer que invada.

A obra de arte é uma pixação feita no muro. Não, não falo de um grafite. Falo de uma pixação das mais ordinárias, feita com "spray" verde musgo e que em qualquer outro lugar seria apenas um ato de vandalismo. Acontece que se a forma não é a mais adequada, o conteúdo redime seu pecado original: "Cade o horizonte?", é o que ela nos indaga, franca e cruel como um soco no estômago.

O ser humano é um animal contraditório. Conquista o território; loteia o território; se instala no território e, depois, teima em criar mecanismos a artifícios que o prendam ali: uma cerca, um muro, um arranha céu. Matar o hozironte é o mais eficaz deles, afinal ninguém quer estar em um lugar que não vê. Um muro é controle. Não porque impede as pessoas de ir para outro lugar, mas porque antes as impede de ver outros lugares. Navegadores são seres diferentes. Não gostamos de muros.