terça-feira, 1 de julho de 2014

Cadê o horizonte?

Boas!

Quem frequenta as praias do litoral norte paulista e sul fluminese  tem uma relação íntima com a Rodovia Rio Santos, a "infinta highway".  Com pista simples e cheia de curvas, a estrada nos provoca  as sensações mais variadas e ouso dizer que ela é um passeio dentro do passeio. Mata atlântica por todos os lados, cachoeiras aqui e ali, a "muralha" da serra do mar acolá e de tempos em tempos vislumbres do mar de tirar o fôlego.

Para ir até Ubatuba eu a pego desde o seu fim, em Santos, no quilômetro 246. O Saco da Riberia está no quilômetro 62. Desde a travessia de balsas até o pier da Ribeira são exatos 199 quilometros, que quando não há trânsito temos feito em três horas e meia. 

O trecho mais íngreme é a serra entre Boiçucanga e Maresias. Sete quilômetros de suplício; o mais lento vem logo a seguir, entre Maresias e o centro de São Sebastião. Vinte quilômetros de curvas para lá e para cá, a uma velocidade média de cinquenta quilômetros por hora. Esse trecho, apesar da baixa velocidade, é um dos mais belos, pois é elevado e traz vistas senacionais do mar, das ilhas ao largo e da Ilhabela. 

É nesse pedacinho da estrada que fica uma obra de arte pouco convencional e genial. Em uma das curvas há um muro e é evidente que  esse muro não foi erguido sem razão. A curva fica em um barranco e logo abaixo há uma dezena de casas de veraneio e não devem ter sido poucos os carros que voaram por ali. Mas antes do muro havia uma das mais belas vistas do litoral de São Paulo - sem exageros.

Não, a obra de arte não é o muro. Aliás, o muro é bem sem graça: feito de blocos, revestido com cimento e com arame farpado em seu topo, é um emblema da civilização humana, que teima em trazer o cinza pálido para onde quer que vá, para onde quer que invada.

A obra de arte é uma pixação feita no muro. Não, não falo de um grafite. Falo de uma pixação das mais ordinárias, feita com "spray" verde musgo e que em qualquer outro lugar seria apenas um ato de vandalismo. Acontece que se a forma não é a mais adequada, o conteúdo redime seu pecado original: "Cade o horizonte?", é o que ela nos indaga, franca e cruel como um soco no estômago.

O ser humano é um animal contraditório. Conquista o território; loteia o território; se instala no território e, depois, teima em criar mecanismos a artifícios que o prendam ali: uma cerca, um muro, um arranha céu. Matar o hozironte é o mais eficaz deles, afinal ninguém quer estar em um lugar que não vê. Um muro é controle. Não porque impede as pessoas de ir para outro lugar, mas porque antes as impede de ver outros lugares. Navegadores são seres diferentes. Não gostamos de muros.






2 comentários: