terça-feira, 25 de abril de 2017

Um belo sábado...

Boas!

Faz tempo que não escrevo aqui, sei disso. É que o que rende leitores são os perrengues, e nos últimos tempos, apesar de velejar praticamente todo final de semana, nada fora do usual tem acontecido. bem, isso até pelo menos o último sábado, 22 de abril, aniversário de Itanhaém e do descobrimento do Brasil, entre outras coisas mais interessantes.

Na sexta comecei uma turma de básico, tendo na tripulação o Wagner, o Fernando, o Antonio e o Marcos. Não ventou nada o dia todo e havia previsão de entrada de frente fria. Fiz um dia de teoria intensiva e o final do dia motoramos a bordo do Jazz 4 (Velamar 31) pela baia de Santos, espelhada como há muito eu não via,a penas para matar a curiosidade dos novatos. Aquela calmaria era o prenúncio de momentos complicados.

No dia seguinte, sábado, saímos cedo para cumprir o programa do básico, atrasado em sua parte prática em um dia. Por sorte havia vento. Fomos dessa vez no Easygoing (Delta 32), com uma outra tripulante a bordo, a Vivian, aluna da Escola de Vela de Monotipo do Clube Internacional de Regatas, onde guardo os barcos da Cusco Baldoso.


Demos vários bordos pela baía, sempre ganhando altura. No horizonte, ao sudoeste,  o céu plúmbeo avisava que os ventos de dez nós iriam sofrer ligeiro aumento. Poucos minutos depois a Vivian nos alertou que os veleiros mais ao sul, ou seja, mais para o mar, estavam adernando demais. Era a dica. Qual a hora de rizar as velas, pessoal? Bem, quando você pensa em rizar, já está atrasado meia hora, pelo menos.  Vamos ao rizo da mestra, na primeira forra. Gosto muito de rizar com os alunos em situações em que o rizo é de fato necessário.





Não demorou muito e o vento entrou. Vinte, vinte e cinco, trinta... Por cautela liguei o motor para voltar para o clube na máquina (espero que o Spinelli nunca leia isso - mas eu tinha motivos concretos para adotar essa medida). Girei a chave e... nada. Praga do Spinelli, que ele me jogou mesmo sem saber. Seria sem motor, que tinha problemas claramente de ordem elétrica. Seria no pano mesmo, o prato da casa.

O vento subiu. Uivava nos estais. O mar cresceu. Olhei para a mestra e percebi que os ilhoses estavam esgarçando com o esforço (amarramos os cabinhos sempre na vela, nunca na retranca). Ela iria rasgar. Tínhamos que abaixar a mestra e ir só de genoa. O problema é que esse barco, com vento e mar, fica ruim de leme só de genoa, orçando pouco (no mar liso, sem ondas, isso já não acontece). Mas não tinha jeito. A Vivian me ajudou a baixar a mestra, ficando junto ao mastro; o Francisco no leme e os demais membros da tripulação que ainda estavam ativos me ajudaram a amarrar a mestra na retranca. No convés o primeiro litro de vômito se fez presente - e não seria o último.

O vento, ao contrário da minha expectativa,  cresceu absurdamente. Chegou aos quarenta nós em algumas rajadas.

Ao longe vi um veleiro passando dificuldades na Ilha Urubuqueçaba. Velas em cima, ele claramente estava indo para as pedras. Eu poderia jurar que era o Grandpa e isso me fez ter calafrios.



Mais ao sul, no mar, um tripulante de um Fast 23 caiu na água durante uma manobra. O outro tripulante disse, depois, que não conseguia fazer nada: apenas levar o barco em linha reta, cada vez mais para longe do MOB (homem ao mar). Por puro acaso uma lancha passou pelo local e viu uma pessoa de boné vermelho, sem colete, nadando.

O tripulante caído, na verdade, era o comandante do pequeno Fast 23 e precisava voltar para o barco. A lancha, então, alcançou o veleiro e pareou. O tripulante do veleiro lançou um cabo longo e o náufrago se jogou na água, conseguindo pegar o cabo e voltar, sei lá a que custo, para o barco. Se eu cansei apenas escrevendo, imagino lá, no sufoco.

Nós também quase tivemos um MOB, pois a Vivian escorregou na proa e quase se fez ao mar. Um belo susto, mas nada sério. Já na cabine o Antonio, que veio lá do Acre velejar conosco, tentava descobrir o que havia com o motor. Uma onda mais malvada, porém, nos acertou e ele foi jogado para o outro lado do barco com alguma violência.

Eu assumi o leme e ficamos cruzando a baía, no eixo leste - oeste, indo para lá e para cá, até ter condições seguras de entrar no canal doporto. Alguém quis servir comida para todos (!) e me ofereceu um casaco. Eu disse que não precisava.  Nessa hora veio uma onda e me lavou. Não apenas com água do mar, mas também com o vômito que estava no convés - e que não adiantava limpar, pois era sempre reposto. "-Tudo bem, quero sim o casaco!".

Liguei para o Rafael, nosso aluno e membro de nosso clubinho de uso compartilhado de veleiros e me tranquilizei: o Jazz 4  (Velamar 31) e o Grandpa (Fast 23) estavam na marina há tempos e não pegaram o grosso da tormenta. Combinei que quando a coisa melhorasse ele e o pai da Vivian, Valter, também velejador, nos rebocariam com o Jazz 4 da entrada do canal da marina até a vaga. Isso deveria acontecer em no máximo uma hora, quando o temporal amainasse.

Foi exatamente isso o que aconteceu. Mas não tão fácil assim.

Quarenta minutos depois o vento, de fato, diminui bem. Velejamos com vento pela alheta até a Fortaleza da Barra e ao avistarmos o Jazz a caminho abaixamos a genoa (que também estava rasgando!), ficando à deriva. O Jazz, porém, se aproximou demais e.... a churrasqueira que estava no suporte foi parar no colo da Vivian, espalhando carvão pelo convés do Easygoing. Ainda assim consegui passar o cabo de reboque para o Rafael. Mas o tal cabo se soltou do cunho de popa do Jazz. Uma segunda tentativa foi feita, dessa vez com mais distância e, enfim, deu tudo certo. Pouco tempo depois estávamos na vaga.


No caminho para a vaga vimos o Inti, aquele Delta 32 que estava na Ilha Urubuqueçaba, pedindo apoio para entrar na marina porque estava sem motor também. Entrava na barra apenas de genoa. Chamei no rádio VHF para dizer que depois de deixar o Easygoing  voltaríamos para buscá-lo, mas a marina dele, a Boreal, já havia mandado uma lancha e não seria preciso.

Juntamos as tralhas, arrumamos do jeito que deu o barco e no dia seguinte terminamos o curso, no Jazz 4, sob ventos de dez nós e voltando para entrada da marina na vela e com motor ok. O problema do motor do Easygoing foi apenas um fio solto no motor de arranque... e nada mais. Depois que tudo se acalma fica muito mais fácil trabalhar.

A tripulação se comportou muito bem e deu tudo certo. Estamos prontos para a próxima, mas sem muita pressa disso acontecer.

E vamos no  mesmo!

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