segunda-feira, 22 de junho de 2015

O dia que eu quase matei o Walnei e outras histórias do mar.

Boas!

O Walnei Antunes, do Veleiro Vivre, é amigo e parceiro já há bastante tempo. Como eu sempre digo, eu sei quase nada, mas estou sempre perto de pessoas que sabem muito. Por isso, aproveitei seus dotes de eletricista e o contratei para refazer o sistema elétrico do Malagô.

O Walnei, velejando com a gente no Malagô em Ubatuba, em março de 2013.
Antes de terminar essa história é preciso um pequeno parênteses. Já aqui em Santos eu resolvi dar uma olhada no sistema elétrico do Malagô. A situação estava meio feia e ao invés de fechar tudo e fingir que não vi nada, adotei mais uma vez a "solução Juca Andrade": arrancar tudo, tudo mesmo, e refazer do zero. Nisso peguei um alicate e depois de algum par de horas sai de dentro do barco com quase duzentos metros de fios, direto para o lixo. Agora o Walnei terá de refazer tudinho, pois não tenho como acender sequer uma lâmpada.

Mas, voltando ao "causo" deste post... eu peguei o Walnei na Rodoviária de Santos às 14h00 da sexta-feira (ele veio de Caçapava) e de lá fomos direto para a sede náutica do clube. Chovia aos cântaros, por isso ficamos fazendo hora na lanchonete da Dona Lúcia. O tempo foi passando e foi preciso instalá-lo de uma vez no "Velho Mala", pois lá pelas 17h30 o motorista da família (eu, no caso) teria que sair buscando todo mundo por ai. Deixei o Walnei no Malagô (munido apenas da Helmman´s Light) e fui.

Na catraia do clube o Sr. Augusto, gerente da marina, puxou papo e perguntou do Malagô. Eu respondi que a coisa ia indo, que agora está mais devagar, mas que um amigo meu estava ai e ia começar a refazer a parte elétrica e ... Não teve tempo para "e". O Sr. Augusto me fuzilou com os olhos e disparou (com perdão para o trocadilho) "- O seu amigo vai dormir ai? Você avisou na portaria?!". "- Não!" - respondi, já entendendo onde ele queria chegar.

Nisso eu só vi o Sr. Augusto sacando o celular (o trocadilho, de novo) para tentar evitar o pior. "- Juca, os seguranças verão ele lá,  pensarão que invadiu o barco e ...". Pois é, nem precisava terminar.  Nisso, porém, a ligação nunca completava e eu só me imaginava tendo que pagar as faculdades dos filhos do Walnei - e são QUATRO! Nããããããããããooooooo!!!

Ainda naquela noite acabei voltando na marina para levar um lanche para o Walnei e um saco de dormir. Estava 15º C. Mas dentro do Malagô é sempre quentinho no inverno e fresco no verão (vantagens de um barco de madeira - alguma deveria mesmo haver!). Ele estava bem, com a cara amassada apenas pelo sono precoce e a portaria já havia sido avisada. A ignorância é uma das mães da felicidade!

No dia seguinte eu dei aula de vela no Grandpa para o Eduardo e o Carlos Eduardo. O Alan tocou outra turma, no Meltemi, tendo a bordo o Paulo, o Marcos, o Flávio e a Camila. A lestada comia solta, na casa dos vinte nós e a aula rendeu: foi uma senhora velejada! 

Já o Tio Spinelli, a bordo do Soneca, levava nossos alunos Mauro, Elder, Rogério e Roney para uma velejada sensacional de Ubatuba até o Saco do Sombrio, em Ilhabela. Houve momentos de o Soneca voar a 9 nós, apenas no pano, tendo andado sempre acima de 7 nós (nada mau para um 33 pés nada regateiro)! As ondas - o mar estava ressacado - estavam na casa dos 2,5, com uma malvada com o dobre disso de quando em vez. Desde fevereiro temos conseguido manter a meta de uma travessia de instrução por mês e isso só foi possível graças a parceria que fizemos com o Spinelli, a quem eu só tenho que agradecer por levar e trazer nossos alunos sempre em segurança e com excelentes memórias.

O SPOT da travessia.

O Mauro, pensando como seria o jantar naquela ressaca toda.

Amanhecer no Saco do Sombrio. Coisas que só quem vai ao mar vê.
O Walnei fez todo o projeto elétrico durante o sábado, cheio de detalhes e com muito carinho e cuidado. Voltou para Caçapava no ônibus das 18h30. Eu senti apenas não poder ter dado mais atenção ao meu amigo. Ele me contou que gosta apenas de cação e eu achei que precisava fazer alguma coisa, pois cação não é peixe! Para que comer o coitado do tubarãozinho, quando Deus nos fez o robalo?! Mas não foi dessa vez...

O domingo foi especial. Pela manhã fui surpreendido pela minha filha mais velha, que resolveu assistir um filme comigo abraçadinha. A gente sempre fazia isso quando ela era menor, mas agora, que eu "não sei de mais nada", isso é raro. Ela gosta mais de filmes e de livros do que de barcos. E eu a amo  mais que qualquer coisa. Ficou bom assim. Depois almoçamos em família no Estrela de Ouro, quando encontramos casualmente o Cassio e a Chris, do veleiro Serelepe. Como eu gosto desses dois! Para terminar depois do almoço levei a Alice comigo para o Malagô, para terminar de desmontar o interior: o marceneiro deve começar essa semana, se o Eduardo Coton, do Pelayo, deixar (brincadeirinha!). A pequena adora o barco e eu tenho certeza de que se no futruro ela não seguir na vela, ao menos sempre terá uma lambrança boa de mim  e da infância dela quando vir por ai um barquinho com um pano branco, levado pelo vento.

Dona Pescoçuda, Dona Alice e um saco de jujubas a bordo do Malagô.

Vaidoso do jeito que é...

... tenho certeza que o Malagô está sofrendo...

... nesse processo de desconstrução...

... mas é para o bem dele!

Os novos esticadores chegaram na quinta-feira. Ai meu saldo!
E vamos no pano mesmo!

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Nossos alunos na Regata de 150 anos de Aniversário da Batalha do Riachuelo

Boas!

Uma de nossas preocupações frequentes é colocar a disposição de nossos alunos opções para continuar velejando após a finalização do curso. Após o término do curso básico o caminho natural seria fazer uma travessia de instrução, nosso curso intermediário. Porém isso atende apenas uma parcela de nosso público, que tem por objetivo horizontes mais ao longe. Um outro tanto planeja, no futuro, ir só até ali. Nesse cenário participar de regatas é uma oportunidade ímpar de aprendizado.

(c) Leguth Edson
 Por isso firmamos parcerias com alguns comandantes da flotilha santista de veleiros de oceano e já na última regata do campeonato santista de 2015, que aconteceu sábado passado, nossos alunos foram para a raia, com resultados expressivos.

(c) Leguth Edson
O Rogério, que fez o curso conosco em maio, correu no Pelayo, um Skipper 30 do Comandante Eduardo Coton. O Felipe, que fez o curso na mesma época, mas em outra turma, correu no Sabá, um Delta 32 do Comandante Marco Calil. Esses dois barcos correram na regra RGS, na qual correu também nosso veleiro Meltemi, do Comandante Alan Trimboli levando a bordo nossos alunos Eduardo, Rodrigo e Simone. O Pelayo foi o fita azul da prova (o primeiro a chegar na linha de chegada) e no tempo corrigido foi o vencedor de sua classe. O Sabá temrinou a prova em terceiro e o Meltemi, que sofreu muito com as condições de vento (abaixo de seis nós), não conseguiu completar a prova. Nós havíamos inscrito o Grandpa, mas dadas as condições e por ser a primeira aula da turma (Paulo, Flavio, Camila e  Marcos) decidi não largar.

(c) Leguth Edson
Em uma regra mais competitiva, a IRC, nosso aluno Eduardo participou da regata a bordo do veleiro Inti, um Delta 32 do Comandante Rogério Miranda. Eu conversei com o Eduardo após a regata e ele estava simplesmente eufórico! O Inti terminou em quarto lugar na IRC.

Aos Comandantes que abriram vagas para nossos alunos fica nosso muito obrigado! E se você quiser participar a próxima regata por aqui será no dia 25/07, sábado. Vamos nessa!

(c) Leguth Edson

quarta-feira, 10 de junho de 2015

A aposentadoria do futuro: o ano sabático.

Boas!

Quem de nós não conhece alguém que planeja se aposentar e então curtir a vida por ai, sem lenço nem documento? Pois eu tenho uma má notícia para as gerações mais novas: esse modelo de vida, em que se trabalha muito na juventude e depois se aproveita anos de ócio criativo na velhice está com seus dias contados.

Hoje em dia já são poucos os que conseguem se aposentar pelo regime geral da previdência social (INSS) e viver apenas com esses proventos. A maioria acaba tendo que continuar trabalhando, pois o ganho se mostra insuficiente e quando não conseguem conciliar a aposentaria a outro trabalho, o padrão de vida cai significativamente. Alguns que se aposentaram por regimes próprios (servidores públicos) ainda conseguem, aos trancos a barrancos, segurar a onda. Vivemos, porém, um momento de transição cujos efeitos ainda não foram percebidos pela maioria.

A aposentadoria como a de meu avô Synval, comandante de longo curso do Loyd Brasileiro e que durou de seus 60 aos 89 anos (idade que tinha quando morreu), com salário integral e paridade com o pessoal da ativa será coisa do passado. Minha filha Alice, hoje com 04 anos de idade e os filhos dela trabalharão até o último suspiro, aposentados ou não. 

Nosso modelo de previdência social se assenta no princípio da solidariedade, sendo que não há contrapartida entre o que é arrecadado pelos economicamente ativos e o que esses mesmos pagadores receberão quando chegar sua vez. O modelo é de repartição, não de capitalização e o mais afortunado custeia o benefício do menos privilegiado economicamente. Cada um contribui de acordo com a sua capacidade e receberá aquilo que a legislação vigente à época da aposentadoria determinar, sem uma relação direta de proporcionalidade.  Forma-se um bolo com recursos provenientes de várias fontes e, depois, divide-se esse bolo de forma mais ou menos igualitária. Na prática quanto menor e renda ao longo da vida contributiva, menor será o impacto no orçamento quando chegar a hora. O oposto é cruelmente verdadeiro. 

Em regra o menor valor de uma aposentadoria paga pelo INSS é atualmente equivalente a um salário mínimo, ou R$ 788,00. O maior valor representa o teto previdenciário, hoje fixado em R$ 4.663,75. No regime geral (INSS) ninguém pode receber uma aposentadoria menor do que o mínimo, nem maior do que o teto (embora exista uma exceção, que é a chamada grande invalidez, em que o aposentado por invalidez que necessite do amparo de um cuidador, dada a extensão de sua incapacidade, recebe um acréscimo de 25% em seu benefício mesmo se já receber o teto). 

Na prática sua aposentadoria será muito próxima ao teto - R$ 4.663,75 - apenas se você se aposentar hoje, for homem, tiver 65 anos de idade e 35 de contribuição (sendo que nesses anos terá que ter contribuído por pelo menos 28 anos sobre o teto). Se tiver 53 anos de anos de idade e  trinta e cinco de contribuição - sendo 28 anos sobre o teto - , sairá com metade, ou R$ 2.331,87  (é o tal do fator previdenciário, talvez extinto em breve). As mulheres têm um desconto de 5 anos nessa conta e os professores (desde que tenham exercido apenas atividades de docência), também.

Em maio de 1995 o salário mínimo era equivalente a R$ 100,00 e o teto previdenciário era R$ 832,66 (oito vezes mais que o mínimo); em maio de 2015, vinte anos depois, o mínimo passou a ser R$ 788,00 e o teto previdenciário R$ 4.633,75 (cinco vezes mais que o mínimo). Todos os governos alardeiam o aumento do salário mínimo, mas ninguém fala sobre a redução do teto. A aproximação entre o salário mínimo e o teto previdenciário é notória, não é sem motivo e a diferença só tende a diminuir. A ideia é que no futuro o salário mínimo e o teto sejam uma mesma peça, tenham o mesmo valor, lembrando que não existe vinculação entre o valor que se começa a receber de aposentadoria e o número de salários mínimos da época. Minha mãe aposentou-se em 1995 com o equivalente a oito salários mínimos. Hoje recebe um pouco mais de dois. Se viver mais vinte anos, encontrará o mínimo lá na frente.  

No início dos anos dois mil o Brasil ainda é um país de jovens. A pirâmide etária demográfica tem sua base larga e o topo estreito. Esse cenário, contudo, vem se invertendo dramaticamente e em 2060 seremos um país de idosos, como o Japão de hoje. A diferença é que nossos jovens não são japoneses. Nós valorizamos o novo e desprezamos o velho, de sorte que será muito pouco provável acreditar que os jovens de 2060 irão concordar em se submeter a altas contribuições previdenciárias para custear benefícios de outras pessoas.




E o que tudo isso tem a ver com vela?

Muito.

Todo final de semana eu recebo em meus cursos pessoas que planejam aposentar-se e curtir a aposentadoria em um veleiro no Caribe. Cuidado! Se você também tem esses planos, é melhor repensar sua programação, principalmente se você for jovem. Dentro de vinte anos quase ninguém irá se aposentar da forma tradicional, imaginada por alguém nascido em 1950. Isso significa dizer que aquele período de ócio criativo a bordo de um veleirinho no mar azul, se você não se planejar , talvez nunca chegue.

Há pelo menos dois caminhos para resolver isso. O primeiro é a preparação desse terreno de uma forma mais tradicional. Previdência complementar privada (necessária até para os novos servidores públicos, que verão a paridade com o pessoal da ativa cada vez mais distante, mormente depois da Emenda Constitucional n. 41/2003), imóveis de aluguel, poupança.

Eu, porém, defendo um outro modelo, mais simples: dividir, ao longo da vida, períodos de trabalho e de lazer. Ah! Mas isso já existe, chama-se férias! É verdade, mas eu vou um pouco além disso.

Nós devemos repensar nossa relação com o trabalho e com a vida. Não faz sentido se matar de trabalhar ao longo de 30, 40 anos, para desfrutar um dia que talvez nunca chegue ou, que se chegar, você já não tenha o esplendor físico e a paixão de espírito para vivenciar  de forma plena. Não faz sentido apenas acumular, é preciso desfrutar, é preciso viver. Não é questão de ser estóico, mas a vida deve ser aproveitada enquanto ela é vida!

Quando se esperava viver por apenas 40 anos, ter uma única profissão era algo perfeitamente compreensível.  Mas logo logo viveremos 90, e bem - e ganhando uma paosentadoria pequena. Não cabe ai muito mais coisa do que apenas uma vida?

Acredito que em breve não teremos apenas uma única profissão. Faremos mais de uma coisa, por tempo determinado, enquanto valer a pena.  Depois faremos outra, seja porque paga melhor, seja porque é mais divertido. Se morreremos em batalha, que pelo menos lutemos o bom combate, com brilho nos olhos! Passar duas horas dentro de um carro apenas para chegar ao trabalho não é algo normal. Não é algo que valha a pena. Sentar-se trinta anos em uma mesma cadeira, também não é. Ganhar dinheiro, apenas, não é tudo. Em alguns períodos apenas respirar fiundo e contemplar o horizonte pode ser mais importante.

Acredito piamente que a aposentadoria nos moldes tradicionais será substituída por algo muito mais interessante: o ano sabático. Um período mais curto do que aquela aposentadoria na velhice e bem maior do que as férias, em que nós, no esplendor da vida, largaremos tudo e viveremos nossos sonhos e nossas aventuras, para depois voltarmos ao trabalho e preparar o próximo período de descobertas, em ciclos. De nada adianta construir o que não será aproveitado. E esse retorno pode ser para um novo trabalho, para uma nova atividade, para um novo lugar. Teremos que aprender a nos reinventar de tmepos em tempos.

Essa minha ideia soa estranha em 2015, eu sei. Mas isso é porque nós fomos talhados com a expectativa de que um dia iremos nos aposentar e, mais importante do que isso, com a ideia de que apenas o trabalho diginifca o homem. Está em nosso DNA e nos parece um direito e um dever sagrado, um dogma.

Confrontando os fatos, porém, vemos que o valor que receberemos no futuro a título de aposentadoria será apenas um pecúlio para ajudar a pagar o plano de sáude (quando muito) e que trabalhar arduamente e sem pausas, apenas para ganhar a vida, oprime e diminui o espírito humano.  Não quero ser estóico, eu já disse. Mas nessas horas não dá para não deixar de encontrar amparo no conselho de meu amigo Sêneca: "Não se preocupes em viver demasiadamente, mas sim em viver satisfatoriamente. Isso porque viver longamente depende apenas do destino e da sorte, enquanto que viver satisfatoriamente depende apenas de ti mesmo".

E vamos de paninho na bengala mesmo!


terça-feira, 9 de junho de 2015

Casa nova!

Boas!

A partir dessa semana nossa base para embarque e desembarque de alunos em Guarujá será o Píer 26, uma marina de serviços. Além da infraestrutura ser excelente, o acesso  terrestre ficou facilitado e o estacionamento passou a ser gratuito para nossos alunos. Isso sem contar que nossos novos projetos terão mais liberdade para se desenvolver.

Obrigado à Eliane e ao Correa, do Pier 26, pelo apoio.

E vamos no pano mesmo!




segunda-feira, 8 de junho de 2015

Travessia Santos - Angra

Boas!

Deixamos a sede náutica do CIR, em Santos, às 15h50 do dia 02 de junho a bordo do veleiro Fratelli, sob o comando do amigo Marcelo Damini.  Na tripulação nos acompanharam o Eduardo e o Marcio, além da Claudia (esposa do Marcelo).

Seguimos no motor. Vento contra, de leste, mar baixo e a mestra em cima, para equilibrar. Seria assim toda a travessia, que esperávamos fazer direto. Quando anoiteceu já estavamos na altura da Ilha dos Arvoredos, afastados uma quatro milhas. Como o anoitecer já estava por perto quando saímos, já levantamos a mestra na primeira forra de rizo. 

No través do Montão de Trigo identificamos as luzes de um veleiro, que nos seguia. Ele abriu para Alcatrazes. Nós faríamos o mesmo, mas o Dino do veleiro Maestro queria ir para Angra conosco e ficamos de encontrar com ele no Pindá, já no canal de São Sebastião. Porém, quando entramos em contato ele disse que iria no outro dia, pois haveria vento menos forte. Perdemos a Ilhabela por fora...

Após passarmos a balsa fui dormir. O Marcelo ficou com o Marcio lá fora. Combinamos de ficar em dupla fazendo os turnos: eu e o Eduardo, o Marcelo e o Marcio. Quando acordei estávamos no través da Cassandoca, já em Ubatuba. 

Após doze horas de navegação chegamos no través do Saco da Ribeira. O céu encoberto se abriu e a lua cheia iluminou o mar de um jeito incrível. Nessas horas eu sempre lembro do final do filme Caçada ao Outubro Vermelho. O Marcio se uniu ao Marcelo e ao Eduardo que roncavam lá embaixo e eu me vi sozinho, vigiando o piloto. Passamos atrás da Ilha Anchieta e eu desejava ardentemente um tempurá  ou uma costela no bafo que tem lá nos lados da Ribeira. Deu saudades da minha poita e do meu pedacinho de paraíso. Santos é minha casa, mas ter um barco aqui é tão diferente de ter um barco lá (para o bem e para o mal). Passamos pela Itaguá e eu desejei boa noite ao meu amigo Stark, que talvez estivesse dormindo dentro de um certo pontinho amarelo.

Ao amanhecer, dentro da cabine, o Eduardo segurou meu braço: "È nossa vez de fazer o turno"? Eu ri. Já era a terceira vez que era nossa vez... essa coisa dos turnos não funcionou nessa travessia. Todos dormiram bem, e eu virei um zumbi.

Após dezoito horas de travessia chegamos na Ponta da Joatinga, que dormia bem mansa. Mais duas horas chegávamos na praia da Tapera. Foram vinte e duas horas de Santos até a Tapera! nada mal. Não paramos lá. Seguimos até o Saco do Céu. Almoçamos no Coqueiro Verde e dormimos em um cantinho. O pessoal foi deitar tarde pelo o que eu entendi. Foi papo de popa até depois da meia noite. Já eu dormi das 19h00 às 07h00, acordando algumas vezes para checar o fundeio (como se ali fosse preciso!).

No dia seguinte seguimos para o Bracuhy, onde aconteceu o 13º Encontro da ABVC. Missão cumprida.

Nesse mesmo dia eu, o Eduardo e o Marcio voltamos para Santos de ônibus. O Marcelo e a Claudia ficaram por lá, pois além do encontro irão participar do Cruzeiro Costa Verde, também promovido pela ABVC. Eu até gostaria de ter ficado por lá, para o encontro. Mas sem as meninas, seria muito chato... De toda forma a tarvessia foi bem legal (mesmo no motor) e eu me senti menos "velejador de baía". Mas isso é conversa para outro dia.

E vamos no pano mesmo!

Galeria - fotos de Eduardo Colombo:

Juca, Eduardo e Marcelo.

Anoitecendo no mar.

Uma prainha na Ilha Grande onde o Marcelo um dia sonhou chegar com o próprio veleiro: chegou!

Encontrar o Tio Spinelli é sempre um prazer!

Um cantinho logo ali...


O Mastro - quase lá...

Boas!

As obras do Malagô seguem um pouco mais devagar, mas sempre para frente.

Dessa vez estamos trabalhando no mastro, construído em spruce e com mais de cinquenta anos de idade. Havia uma parte podre causada poor infiltração de água de chuva bem próximo ao tope e essa era uma parte delicada. Se falhasse, o mastro ficaria em pé, mas não seria mais possível subir a vela mestra nem velejar a favor do vento (pela falta do estai de popa).

A reforma foi feita pelo Sr. Oswaldo, um carpinteiro naval que começou o ofício um pouco antes do Malagô ir para a água, em 1960. Tenho que aproveitar enquanto esse pessoal está por aqui... a mão de obra dele é bem mais cara. Mas economizar em mastro não me pareceu sensato.

Na restauração utilizamos resina epóxy e madeira freijó. A parte podre já não está mais lá e as que estavam descolando estão firmes novamente.  Essa semana vamos terminar de lixar, passar seladora e verniz marítimo. Depois disso o desafio será montar, pois há algumas partes que eu não lembro mais como se uniam à estrutura, em especial o diamante do tope.

E vamos no pano mesmo!