terça-feira, 27 de agosto de 2013

Teoria básica de navegação estimada - primeira parte

1. Conversões de rumos


Todo e qualquer deslocamento da embarcação se dá para uma determinada direção, possível de ser conhecida em um dado instante. Por mais errático e irregular que seja o movimento a cada segundo, a cada milésimo de segundo, a PROA estará apontando para uma determinada posição. Sempre.

A partir da adoção de um REFERENCIAL e uma vez conhecida a orientação do movimento (e, como veremos, sua velocidade) é possível estimar, com razoável precisão, ONDE a embarcação ESTARÁ em um determinado instante FUTURO ou saber onde ela ESTEVE e que percurso PERCORREU.

O instrumento mais antigo para a determinação do rumo de uma embarcação é a AGULHA MAGNÉTICA, também conhecida como bússola. Em síntese singela a agulha magnética é um dispositivo metálico, com carga eletromagnética, suspenso ou imerso em líquido (e, portanto, flutuando) e protegido por uma cúpula, tende a apontar uma de suas pontas sempre para um mesmo ponto do globo terrestre. Esse ponto, por sua vez, coincide com o pólo norte magnético do planeta Terra e fornece, assim, um referencial fixo e preciso, que pode indicar  qual a orientação da proa em um determinado instante. Por ser uniforme em uma mesma região do globo mais de uma embarção pode, em um mesmo instante, seguir a mesma orientação base.

“O rumo é sempre contado do norte de referência até a proa da embarcação de 0º a 360º, no sentido dos ponteiros de um relógio”,  nos ensina Geraldo Barros em seu Navegar é Fácil.

A indicação da agulha, porém, pode fornecer não apenas UM rumo, mas pelo menos outros DOIS, mediante uma simples operação matemática.

Explica-se.

O primeiro rumo que a agulha nos dá é aquele que tem como referência imediata o pólo magnético terrestre. Será, assim o RUMO MAGNÉTICO, equivalente a distância em graus de círculo entre o pólo norte magnético e a proa da embarcação.



Contudo, o pólo norte magnético não coincide sempre (na verdade, quase nunca ao longo de milhões de anos) com o PÓLO NORTE GEOGRÁFICO e cabe desde logo registrar que quando a embarcação se orienta em relação ao pólo norte verdadeiro, estará seguindo um RUMO VERDADEIRO.




Pois bem. Esses dois pólos não estão no mesmo local e, assim, o fato de a agulha apontar diretamente para um não significa que estará apontando, no mesmo instante, para o outro.

O nome que se dá a essa diferença entre o alinhamento dos pólos magnético e geográfico é DECLINAÇÃO MAGNÉTICA, que varia em cada local da terra.

O valor da DECLINAÇÃO MAGNÉTICA de um local é informado em todas as CARTAS NÁUTICAS, dentro da ROSA DOS VENTOS – que nada mais é senão a representação gráfica de todos os rumos possíveis de 0º a 360º (cabendo observar que em uma mesma rosa dos ventos trazida nas cartas náuticas haverá a representação do norte verdadeiro e de seus rumos e do norte magnético e de seus rumos, tendo essas duas circunferências o mesmo diâmetro e os raios iniciando em um mesmo ponto, o que é um jeito complicado de dizer que estarão uma dentro da outra!).

A Carta n. 1711 – Proximidades do Porto de Santos, por exemplo, informa na rosa dos ventos que a declinação magnética da região é 18º50´W em 1995, com aumento anual de 8´ W.

Isso significa que se uma bússola apontar para o norte magnético – 360º - em um determinado instante, o rumo verdadeiro não será 360º?

Sim.

Mas qual, então, será o rumo verdadeiro nesse mesmo instante?

A rosa dos ventos nos diz que o valor da declinação magnética é 18º50’, ou seja,  a agulha tem um desvio para W (para a esquerda) de 18º 50’. Esse desvio é arredondando para o inteiro mais próximo e passa  a ser 19º W. Logo:

360º
 19º –
____
341º

Ou seja, se fossemos nos guiar pelo  RUMO MAGNÉTICO para seguir para o norte verdadiro - 360º -, bastaria seguir o rumo 341º, certo?

Sim, mas apenas se estivermos em 1995!

A declinação magnética sofre um aumento anual, que também é informado na rosa dos ventos. No caso do exemplo acima, ela nos disse que a cada ano a declinação aumenta 8’ para leste. Por conseguinte, se estamos em 2013, o valor da declinação será:

2013 – 1995 = 18
08 x 18’ = 144’ = 02º24’00’’, que arredondado para o inteiro mais próximo é 2º.

Logo, como o aumento também é para W e a declinação também é para W somamos o aumento e obtemos:

19ºW + 02ºW = 21° W

Em 2013, assim, o rumo verdadeiro que será coincidente com o rumo magnético 360º será:

360º
  21º –
______
339º

Observem que o rumo será o mesmo, o que irá mudar será o referencial. A proa estará apontando para uma mesma direção quando o rumo magnético for 360º e o rumo verdadeiro for 339º nas proximidades do porto de Santos no ano 2013!

Porém, é verdade que nessa mesma situação pode ocorrer de olharmos para o rumo do GPS, setado para o norte verdadeiro 360º e ao invés de a agulha apontar 338º  registrar 345º, por exemplo.

A explicação para isso é que na estrutura de uma embarcação existem vários metais que causam distorções isoladas (ou seja, restritas ao local da embarcação) no campo magnético terrestre. Esse desvio local e adicional é denominado DESVIO DE AGULHA.


Esse desvio é próprio de cada embarcação e constará de uma TABELA DE DESVIOS DE AGULHA que cada embarcação deverá ter, preparada com antecedência. Cabe pontuar que ao contrário da declinação magnética o desvio de agulha não seguirá, muito provavelmente, um padrão uniforme, sendo que muito provavelmente para cada rumo haverá um valor específico, seja ele neutro, para W ou para E.

Portanto, em um mesmo instante será possível determinar qual o rumo magnético, verdadeiro e de agulha de uma determinada embarcação e estabelecer relações entre eles.

Imagem: www.rumomagnetico.com
Assim se em uma embarcação nas proximidades do Porto de Santos em 2011 o rumo  magnético for 360º, o rumo verdadeiro dependerá da correção não apenas da declinação, mas também do desvio de agulha.

Assim, primeiro iremos fazer a conversão do rumo magnético para verdadeiro, da forma já demonstrada:

360º
  21º  –
___________
339º

Então, iremos consultar na tabela de desvio da agulha qual a correção a ser aplicada para o rumo 339º. Imaginando que o valor encontrado seja 2º E (soma-se), o resultado final será:

339º
002º  +
____
341º

De plano imaginamos que deve ter ficado pouco claro o motivo de quando o desvio é a W a operação é de diminuição e quando ele é a E, fazemos a adição. Cabe explicar melhor.

Quando a conversão é de rumo MAGNÉTICO para rumo VERDADEIRO, todo o desvio que estiver a W é diminuído do valor base e todo desvio a E será somado; quando a conversão é de rumo MAGNÉTICO para rumo VERDADEIRO, todo o desvio que estiver a W é somado valor base e todo desvio a E será diminuído.

 Para não se esquecer, siga a onda:

                                                  (-)   ------     (+)
                                                       W A V E
                                                  (+)  ------      (-)

Ou seja, de verdadeiro (V) para de magnético/agulha (A), o desvio a W é subtraído e o desvio a E, somado; de magnético/agulha (A) para de verdadeiro (V), o desvio a E é subtraído e o desvio a W, somado.

ATENÇÃO! TODAS AS CARTAS NÁUTICAS ADOTAM COMO REFERÊNCIA O NORTE GEOGRÁFICO! POR ISSO, TODO RUMO PLOTADO – MARCADO – EM UMA CARTA NÁUTICA NÃO DEVE SER SEGUIDO PELA BÚSSOLA SEM QUE TENHA SIDO FEITA A NECESSÁRIA CONVERSÃO E  VICE VERSA!


Sabendo disso, e se quiser testar suas habilidades, resolva os seguintes exercícios:

  1. Um veleiro acabou de deixar a barra do canal de Bertioga (Carta 1711). Seu comandante deseja motorar até a Ilha Montão de Trigo. Na carta verifica que a partir da pedra do corvo a Ilha pode ser alcançada diretamente a partir do rumo verdadeiro 90º. Sabendo que a declinação magnética do local é, em 2013, igual a 22ºW e que o desvio de agulha é desprezível, determine qual o rumo magnético a ser seguido.

  1. No exemplo acima, qual o rumo verdadeiro para o retorno à Pedra do Corvo a partir da Ilha Montão de Trigo? E qual o rumo magnético, sabendo que o desvio de agulha é desprezível?

  1. Um veleiro está em travessia entre Ubatuba e Guarujá. Na perna Ilha do Mar Virado – Ponta das Canas, o Comandante mantém o rumo pelo GPS. O referencial é o pólo norte geográfico e o DATUM é o WGS 84. No través da Ilha do Tamanduá o GPS desliga por falta de pilhas, sendo que não existem outras para reposição a bordo. O rumo seguido no momento em que o aparelho desligou era o 270º. Sabendo que a agulha desvia 2º para E entre os rumos 0º e 180º e 3º para W entre os rumos 180º e 360º, qual o rumo magnético a ser seguido para que a travessia até a ponta das canas seja completada?

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E vamos no pano mesmo!

5 comentários:

  1. Perfeito Juca, muito bom! Devo reconhecer que você é um bom professor e exibe ótima didática visto que já tinha passado por cima dessa matéria e ainda estava nebuloso, agora compreendi melhor. Falta, o que é muito mais importante, tentar por em prática tudo isso. Esse material é coisa primordial pra todo marinheiro que se preze. Ótimo post, parabéns!

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    1. Rico: o primiro passo vc já deu, se fez ao mar! Agora o dia a dia será teu maior professor! Bons ventos!!!

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  2. 1) 90-22=68º
    2)68+180=248ºRm 90+180=270ºRv
    3) 270-21-3=246º

    Bom exercicio Capitão...me lembrou que tenho que fazer a tabela de desvio da agulha do tikirio, até então estava no desprezivel...

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  3. Isso cai muito na prova de Mestre e tem que fazer de olhos fechados na prova de Capitão, devia ser que nem naquelas provas de stress, aonde vc faz um monte de exercios fisicos e para no meio e faz uma questão dessas. Para não errar no meio do mar.

    Ops acho que errei a 3. É 22w o desvio então a resposta certa é 245º

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  4. Trocou os termos nesse ponto : Quando a conversão é de rumo MAGNÉTICO para rumo VERDADEIRO, todo o desvio que estiver a W é diminuído do valor base e todo desvio a E será somado; quando a conversão é de rumo MAGNÉTICO para rumo VERDADEIRO, todo o desvio que estiver a W é somado valor base e todo desvio a E será diminuído.

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