1. Conversões de rumos
Todo e qualquer
deslocamento da embarcação se dá para uma determinada direção, possível de ser
conhecida em um dado instante. Por mais errático e irregular que seja o
movimento a cada segundo, a cada milésimo de segundo, a PROA estará apontando
para uma determinada posição. Sempre.
A partir da
adoção de um REFERENCIAL e uma vez conhecida a orientação do movimento (e, como veremos, sua velocidade) é possível estimar, com razoável precisão, ONDE a embarcação ESTARÁ em um determinado
instante FUTURO ou saber onde ela ESTEVE e que percurso PERCORREU.
O instrumento
mais antigo para a determinação do rumo de uma embarcação é a AGULHA MAGNÉTICA,
também conhecida como bússola. Em síntese singela a agulha magnética é um
dispositivo metálico, com carga eletromagnética, suspenso ou imerso em
líquido (e, portanto, flutuando) e protegido por uma cúpula, tende a apontar uma de suas pontas sempre
para um mesmo ponto do globo terrestre. Esse ponto, por sua vez, coincide com o
pólo norte magnético do planeta Terra e fornece, assim, um referencial fixo e
preciso, que pode indicar qual a
orientação da proa em um determinado instante. Por ser uniforme em uma mesma região do globo mais de uma embarção pode, em um mesmo instante, seguir a mesma orientação base.
“O rumo é sempre
contado do norte de referência até a proa da embarcação de 0º a 360º, no
sentido dos ponteiros de um relógio”, nos ensina Geraldo Barros em seu Navegar é Fácil.
A indicação da
agulha, porém, pode fornecer não apenas UM rumo, mas pelo menos outros DOIS,
mediante uma simples operação matemática.
Explica-se.
O primeiro rumo
que a agulha nos dá é aquele que tem como referência imediata o pólo magnético
terrestre. Será, assim o RUMO MAGNÉTICO, equivalente a distância em graus de
círculo entre o pólo norte magnético e a proa da embarcação.
Contudo, o pólo
norte magnético não coincide sempre (na verdade, quase nunca ao longo de
milhões de anos) com o PÓLO NORTE GEOGRÁFICO e cabe desde logo registrar que
quando a embarcação se orienta em relação ao pólo norte verdadeiro, estará
seguindo um RUMO VERDADEIRO.
Pois bem. Esses
dois pólos não estão no mesmo local
e, assim, o fato de a agulha apontar diretamente para um não significa que
estará apontando, no mesmo instante, para o outro.
O nome que se dá
a essa diferença entre o alinhamento dos pólos magnético e geográfico é
DECLINAÇÃO MAGNÉTICA, que varia em cada local da terra.
O valor da
DECLINAÇÃO MAGNÉTICA de um local é informado em todas as CARTAS NÁUTICAS,
dentro da ROSA DOS VENTOS – que nada mais é senão a representação gráfica de
todos os rumos possíveis de 0º a 360º (cabendo observar que em uma mesma rosa
dos ventos trazida nas cartas náuticas haverá a representação do norte
verdadeiro e de seus rumos e do norte magnético e de seus rumos, tendo essas
duas circunferências o mesmo diâmetro e os raios iniciando em um mesmo ponto, o
que é um jeito complicado de dizer que estarão uma dentro da outra!).
A Carta n. 1711 –
Proximidades do Porto de Santos, por exemplo, informa na rosa dos ventos que a declinação magnética
da região é 18º50´W em 1995, com aumento anual de 8´ W.
Isso significa
que se uma bússola apontar para o norte magnético – 360º - em um determinado
instante, o rumo verdadeiro não será 360º?
Sim.
Mas qual, então,
será o rumo verdadeiro nesse mesmo instante?
A rosa dos ventos
nos diz que o valor da declinação magnética é 18º50’, ou seja, a agulha tem um desvio para W (para a
esquerda) de 18º 50’. Esse desvio é arredondando para o inteiro mais próximo e passa a ser 19º W. Logo:
360º
19º –
____
341º
Ou seja, se fossemos nos guiar pelo RUMO MAGNÉTICO para seguir para o norte verdadiro - 360º -, bastaria seguir o rumo 341º, certo?
Sim, mas apenas
se estivermos em 1995!
A declinação
magnética sofre um aumento anual, que também é informado na rosa dos ventos. No
caso do exemplo acima, ela nos disse que a cada ano a declinação aumenta 8’
para leste. Por conseguinte, se estamos em 2013, o valor da declinação será:
2013 – 1995 = 18
08 x 18’ = 144’ =
02º24’00’’, que arredondado para o inteiro mais próximo é 2º.
Logo, como o
aumento também é para W e a declinação também é para W somamos o aumento e
obtemos:
19ºW + 02ºW = 21°
W
Em 2013, assim, o
rumo verdadeiro que será coincidente com o rumo magnético 360º será:
360º
21º –
______
339º
Observem que o
rumo será o mesmo, o que irá mudar será o referencial. A proa estará apontando
para uma mesma direção quando o rumo magnético for 360º e o rumo verdadeiro for
339º nas proximidades do porto de Santos no ano 2013!
Porém, é verdade
que nessa mesma situação pode ocorrer de olharmos para o rumo do GPS, setado para o norte verdadeiro 360º e ao
invés de a agulha apontar 338º registrar
345º, por exemplo.
A explicação para
isso é que na estrutura de uma embarcação existem vários metais que causam
distorções isoladas (ou seja, restritas ao local da embarcação) no campo
magnético terrestre. Esse desvio local e adicional é denominado DESVIO DE
AGULHA.
Esse desvio é próprio
de cada embarcação e constará de uma TABELA DE DESVIOS DE AGULHA que cada
embarcação deverá ter, preparada com antecedência. Cabe pontuar que ao
contrário da declinação magnética o desvio de agulha não seguirá, muito
provavelmente, um padrão uniforme, sendo que muito provavelmente para cada rumo
haverá um valor específico, seja ele neutro, para W ou para E.
Portanto, em um mesmo instante será possível determinar qual o rumo magnético, verdadeiro e de agulha de uma determinada embarcação e estabelecer relações entre eles.
Imagem: www.rumomagnetico.com |
Assim, primeiro
iremos fazer a conversão do rumo magnético para verdadeiro, da forma já
demonstrada:
360º
21º –
___________
339º
Então, iremos
consultar na tabela de desvio da agulha qual a correção a ser aplicada para o
rumo 339º. Imaginando que o valor encontrado seja 2º E (soma-se), o resultado
final será:
339º
002º +
____
341º
De plano
imaginamos que deve ter ficado pouco claro o motivo de quando o desvio é a W a
operação é de diminuição e quando ele é a E, fazemos a adição. Cabe explicar
melhor.
Quando a
conversão é de rumo MAGNÉTICO para rumo VERDADEIRO, todo o desvio que estiver a
W é diminuído do valor base e todo desvio a E será somado; quando a conversão é
de rumo MAGNÉTICO para rumo VERDADEIRO, todo o desvio que estiver a W é somado
valor base e todo desvio a E será diminuído.
Para não se esquecer, siga a onda:
(-) ------ (+)
W A V E
(+) ------ (-)
Ou seja, de
verdadeiro (V) para de magnético/agulha (A), o desvio a W é subtraído e o
desvio a E, somado; de magnético/agulha (A) para de verdadeiro (V), o desvio a
E é subtraído e o desvio a W, somado.
ATENÇÃO! TODAS AS CARTAS NÁUTICAS ADOTAM COMO
REFERÊNCIA O NORTE GEOGRÁFICO! POR ISSO, TODO RUMO PLOTADO – MARCADO – EM UMA
CARTA NÁUTICA NÃO DEVE SER SEGUIDO PELA BÚSSOLA SEM QUE TENHA SIDO FEITA A
NECESSÁRIA CONVERSÃO E VICE VERSA!
Sabendo disso, e se quiser testar suas habilidades, resolva os seguintes exercícios:
- Um veleiro acabou de deixar a barra do canal de
Bertioga (Carta 1711). Seu comandante deseja motorar até a Ilha Montão de
Trigo. Na carta verifica que a partir da pedra do corvo a Ilha pode ser
alcançada diretamente a partir do rumo verdadeiro 90º. Sabendo que a
declinação magnética do local é, em 2013, igual a 22ºW e que o desvio de
agulha é desprezível, determine qual o rumo magnético a ser seguido.
- No exemplo acima, qual o rumo verdadeiro para o
retorno à Pedra do Corvo a partir da Ilha Montão de Trigo? E qual o rumo
magnético, sabendo que o desvio de agulha é desprezível?
- Um veleiro está em travessia entre Ubatuba e Guarujá.
Na perna Ilha do Mar Virado – Ponta das Canas, o Comandante mantém o rumo
pelo GPS. O referencial é o pólo norte geográfico e o DATUM é o WGS 84. No
través da Ilha do Tamanduá o GPS desliga por falta de pilhas, sendo que
não existem outras para reposição a bordo. O rumo seguido no momento em
que o aparelho desligou era o 270º. Sabendo que a agulha desvia 2º para E
entre os rumos 0º e 180º e 3º para W entre os rumos 180º e 360º, qual o
rumo magnético a ser seguido para que a travessia até a ponta das canas
seja completada?
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E vamos no pano mesmo!
E vamos no pano mesmo!
Perfeito Juca, muito bom! Devo reconhecer que você é um bom professor e exibe ótima didática visto que já tinha passado por cima dessa matéria e ainda estava nebuloso, agora compreendi melhor. Falta, o que é muito mais importante, tentar por em prática tudo isso. Esse material é coisa primordial pra todo marinheiro que se preze. Ótimo post, parabéns!
ResponderEliminarRico: o primiro passo vc já deu, se fez ao mar! Agora o dia a dia será teu maior professor! Bons ventos!!!
Eliminar1) 90-22=68º
ResponderEliminar2)68+180=248ºRm 90+180=270ºRv
3) 270-21-3=246º
Bom exercicio Capitão...me lembrou que tenho que fazer a tabela de desvio da agulha do tikirio, até então estava no desprezivel...
Isso cai muito na prova de Mestre e tem que fazer de olhos fechados na prova de Capitão, devia ser que nem naquelas provas de stress, aonde vc faz um monte de exercios fisicos e para no meio e faz uma questão dessas. Para não errar no meio do mar.
ResponderEliminarOps acho que errei a 3. É 22w o desvio então a resposta certa é 245º
Trocou os termos nesse ponto : Quando a conversão é de rumo MAGNÉTICO para rumo VERDADEIRO, todo o desvio que estiver a W é diminuído do valor base e todo desvio a E será somado; quando a conversão é de rumo MAGNÉTICO para rumo VERDADEIRO, todo o desvio que estiver a W é somado valor base e todo desvio a E será diminuído.
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