quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Vamos no pano mesmo...

Boas!

Sei que estou há tempos sem escrever no blog. Penso sobre isso e não sei exatamente o que está (ou estava) acontecendo.  Em parte uma das coisas que talvez tenha me motivado é ter histórias  que ninguém sabe. Assim, quando eu estiver a bordo, posso contá-las sem que logo em digam: "Sim, eu li no blog". Isso me fazia sentir como um vovozinho que conta histórias repetitivas.

Estou "por aqui" desde 2009. E nesses quase dez anos de conversas, muita coisa mudou. Eu continuo indo só até ali, velejando. Mas a forma de se comunicar mudou. Grande parte das pessoas, atualmente, ao invés de escreverem blogs, criam vídeos.

Semana passada, em Floripa, eu conversei com a amiga Marina Bruschi sobre esses novos tempos. Quando eu aprendi a velejar, lá na baía de São Vicente, o processo ainda era natural: professor, gritos, o mar, o veleiro e eu. Não havia blog, não havia vídeos. Entre eu aprender a velejar e começar a escrever o blog, passaram-se oito anos; entre eu aprender a velejar e começar a dar aulas de vela oceânica, foram doze anos. Hoje tenho quase vinte anos de vela oceânica, diversas travessias na costa do Brasil e um oceano cruzado à vela. Ainda assim, velejar até o "pirulito" ainda é divertido, como na primeira vez.

De 2001, 2002 para cá a coisa mudou um pouco de figura. Antes aprendia-se, depois ensinava-se. Em 2018 às vezes eu tenho a sensação que, de repente, todo mundo ficou bom em tudo e saiu fazendo coisas mirabolantes, que eu levei anos para fazer, do nada. Eu me incomodei com isso, é verdade. Mas confesso que era um certo exagero.

Depois do celular com internet e câmera, todos nós geramos conteúdo. E vivenciar a experiência alheia é um dos fetiches de nossa sociedade contemporânea. E não é que todo mundo tenha ficado bom em tudo. Isso foi uma certa rabugice minha, faço o mea culpa. O que tem acontecido é que hoje nós acompanhamos a curva de aprendizado alheia em tempo real.  Não é que alguns autores de vídeos fossem velejadores ruins: era , apenas, que eles estavam aprendendo. Eu, quando comecei a velejar de HC14, era muito, muito ruim. A diferença é que não tinha uma câmera registrando minhas mancadas (uma pena, pois daríamos muitas risadas hoje).

Se lermos esse o novo mundo com a fonte correta, ou seja, cientes de que somos partícipes do aprendizado alheio, e tendo em mente que algumas coisas não devem ser lidas como regras absolutas (senso crítico), a coisa fica até divertida.

Essa mudança de plataforma me colocou, por algum tempo, numa encruzilhada: continuo com o blog ou viro youtuber também?

Esse dilema meu segundo livro, A Travessia Azul, ajudou a resolver. Assim como a TV não acabou com o radio, ou a internet não acabou com o livro impresso, o youtube não acabará com os blogs e com a palavra escrita. Eu não sei fazer vídeos, mas consigo escrever de forma razoavelmente clara (embora alguns digam que eu falo difícil).

Virar youtuber me soa caricato; já escrever, natural. A forma como eu me conecto com quem lê essas linhas ainda me parece mais adequada para minha personalidade. Fora que, escrevendo, eu fico mais bonito.

As estatísticas do blog confirmam que ele continua sendo muito lido (aliás, como nunca antes, mesmo com minha pausa de  meses). O número de exemplares de A Travessia Azul vendido (tanto na versão física, quanto na digital, via Amazon.com) confirma que sim, muita gente ainda lê - e olha que o livro nem fotos tem (propositalmente). 

Então, o blog continuará e eu voltarei a escrever frequentemente.

De um modo geral estou em um ano novo particular. Para a Cusco Baldoso isso significa reformulação de ideias. A poeira baixou, dei novo formato a antigas parcerias e me desfiz de outras que não agregavam. Quem precisa de âncoras são os barcos, não nossos sonhos. A Cusco continua ativa, firme e forte e a cada final de semana mais e mais gente descobre e redescobre o prazer que é velejar. 

Concentramos nossas atividades em Guarujá, estando assim próximos de São Paulo e de seus aeroportos.

Criamos um novo logotipo (na verdade, a Marina Bruschi criou) e entrará no ar um nove site, em breve. E até faremos alguns vídeos, por que não? Mas o principal meio de comunicação com a comunidade náutica e entusiastas da vela e do mar será, ainda, o bom e velho blog Vamos no Pano Mesmo, que trouxe tanta e tanta gente para o mar.

Nossa proposta não é mais de ser apenas uma escola de vela, mas um porto seguro para os novos navegadores. E para os antigos também. Nosso objetivo é permitir que o aluno não faça apenas o curso, mas que se mantenha velejando, a um preço justo, depois do curso. Criamos mecanismos para que o aluno não seja obrigado, logo após passar três dias a bordo de um barco, a comprar um veleiro ou fazer um novo curso para manter-se velejando.

A "estrela" da escola não deve ser o instrutor, ou seu barco, mas o aluno! A escola existe em função do aluno, e não o contrário. O aluno não deve servir para "financiar a velejada do instrutor", mas para aprender e ser o protagonista de sua própria vida, o capitão de seu próprio barco.

Temos, como escola, que criar diversas oportunidades de aprendizado, engajamento e experiências e permitir que o aluno possa, em um curto espaço de tempo, velejar sozinho, sem instrutor a bordo.

Velejar sempre em um mesmo barco torna o aluno bom naquele barco.

Não! O aluno tem que experimentar vários barcos durante seu processo de aprendizado: grandes, pequenos, espartanos, luxuosos, com roda de leme, cana de leme, em cruzeiro, em regata, em travessia ou indo só até ali.

É possível e nós já fazemos isso.

É nisso que acredito.

Esses são nossos valores.

Obrigado a todos que nos seguem. A história continua.

E vamos no pano mesmo!

Galeria - alguns momentos de nossos alunos no mar entre maio e setembro 2018:























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