segunda-feira, 16 de maio de 2016

Rizo de vela mestra

Boas!

Rizar ou não rizar, eis a questão?

Não, não estou falando de dar risadas, mas de fazer aquela manobra que reduz a área vélica do veleiro, o rizo de vela mestra. Comecemos pelo começo. Qual é a hora certa de rizar a vela mestra?

Sempre saia com uma vela de proa adequada para a previsão de ventos do dia. Não adianta sair de gena 150 em um dia que estão previstos ventos de 20 nós.

Estudos científicos comprovam que a hora de rizar a vela mestra está entre os trinta e os vinte minutos antes de você ter pensado nisso. Brincadeiras a parte, a verdade é que se você pensou em rizar, é porque já deve ter passado da hora de fazer isso.

Se você já velejou umas três ou quatro vezes já deve ter percebido que o barco conversa com você. E quando o barco tem uma cana de leme, essa conversa às vezes é feita aos berros! Cada barulhinho quer dizer alguma coisa importante e devemos, sempre, prestar atenção a cada um deles.

Especificamente quanto a necessidade, ou não, de rizo, preste atenção nos seguintes sintomas:

1. Na orça, a cana de leme está colada na sua barriga, com bem mais de oito graus, ou a roda de leme está sendo bem solicitada (mais difícil de perceber);
2. Leme pesado - você faz muita força para manter o barco no rumo (na roda isso é imperceptível);
3. Barco com inclinação superior a 30º;
4. A esteira da mestra está bem caçada, assim como a adriça da mestra está bem tensionada, o cunnigham bem atuante e o burro está caçado o necessário para fechar a valuma (providências que deixam a mestra achatada o suficiente para enfrentar ventos mais frescos);
5. Ao folgar o traveller para sotavento, se você tiver um, a mestra estola (fica panejando) e é impossível mantê-la "com vento" sem que os sintomas dos itens 1, 2 e 3  apareçam e
6. Você já está velejando com pouco pano na frente (uma buja, de preferência)...

Se isso estiver acontecendo em sua velejada acredite, está na hora de rizar a vela mestra!

Ventos acima de quinze nós e o Malagô surfando a sete, sem sofrimento, com a mestra na primeira forra.

O Cainã leva o Malagô com o leme neutro, apesar do "ventão". 

Em mastros fracionados o rizo diminui o esforço no tope.
O rizo diminui a área vélica, equilibra o leme, diminui o adernamento excessivo, reduz a ardência (tendência exagerada à orça) e força menos o barco e a tripulação. Exisite o mito de que ele reduz a velocidade, mas ele não é verdadeiro. Feito nas condições que o exigem, o rizo da vela mestra não reduz a velocidade do barco. Pelo contrário, por trazer equilíbrio ao veleiro - que navega mais "em pé", ou dentro da faixa ideal de inclinação -, ele poderá até mesmo navegar mais rápido do que o barco em idênticas condições, mas sem o rizo e por isso navegando com o leme atuando como um freio e excessivamente inclinado.

Nosso curso básico de vela oceânica dá especial atenção ao rizo de vela mestra no básico 02. Gostamos quando essas aulas são feitas sob ventos acima de quinze nós, como no último sábado, pois podemos demonstrar na prática não apenas como rizar a vela mestra, mas também os efeitos disso no barco. 

Em nossa última aula em Guarujá navegamos no Malagô sob ventos de mais de quinze nós constantes - algumas rajadas passaram dos vinte - com uma genoa 110% e a mestra na primeira forra.  O barco esteve sempre "na mão", pouco adernado e o leme dentro da faixa de ângulo correta (a cana aberta até 8º para barlavento).

O rizo, porém, não precisa ser a primeira providência, em especial se você possuir um traveller. Quando aberto para sotavento o traveller diminui a quantidade de vento aparente despejado na vela mestra, o que equivale, em algum grau, a um rizo (o oposto, ou seja, o traveller a barlavento tem o efeito contrário, aumentando a quantidade de vento aparente). Algo que também retarda ou evita o rizo é colocar a tripulação toda a barlavento, com as "perninhas para fora". Em regata isso pode não ser tão difícil. Mas em cruzeiro, é algo que seria usado apenas por alguns breves momentos, em razão da fadiga que causa aos tripulantes.

Preste atenção, porém, na configuração da vela mestra e no estado dela. Velas novas tendem a "achatar melhor" pela atuação da esteira, do cunningham e da tensão na adriça (que deve ser de um bom cabo pré-estirado ou de spectra). Uma vela que achata bem retarda o rizo. 

Na dúvida, porém, não pense duas vezes: rize. É sempre mais fácil desfazer um rizo desnecessário do que fazer um quando o mar cresceu. Pela mesma razão, em travessias, adote a regra de um pouco antes do  pôr do sol rizar a vela mestra, memso que as condições estejam boas. Em minha última travessia "cortamos um dobrado" no través da Ponta do Boi, em Ilhabela, justamente por eu ter sido negligente quanto a isso.

E vamos no pano mesmo! 

2 comentários:

  1. Cmte. Juca Andrade!!
    Leitura sempre necessária!!
    Abraços, Mestre!!

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  2. Pensou em rizar, é por que está na hora de rizar. Melhor rizar do que ficar na dúvida. Boa Capitão.

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