Um dos
problemas iniciais da navegação sempre foi se conseguir uma representação fiel
do planeta que contivesse a descrição correta do relevo e permitisse que
cálculos de distância fossem feitos da forma mais precisa possível.
O planeta terra
é um geóide de revolução. Isso quer dizer que não é uma esfera perfeita, mas um
astro que tem aspecto arredondado, próximo de uma esfera, mas com dois pólos
achatados.
Nenhuma
representação física consegue cumprir essa missão com exatidão absoluta. Nem
mesmo o globo terrestre, pois o planeta não tem a forma de uma esfera, como já
colocamos. Além disso, o movimento das marés deforma o geóide de forma
aleatória, o que complica ainda mais as coisas.
O planeta Terra sem a massa de água. |
Esquema da deformação (exagerada para fins didáticos) da deformação da Terra pela atração gravitacional da Lua (marés). |
A representação
física mais utilizada para navegação é a Mercator e é ela a utilizada nas cartas náuticas. Apesar dessa planificação trazer distorções, fazendo por exemplo parecer que a Groenlândia é do mesmo tamanho da América do Sul, quando se sabe que ela é oito vezes menor - ela tem uma vantagem que em navegação marítima é especial. Nela, as curvas loxodrômias mantém um ângulo constante com os meridianos. Dessa forma, os rumos e os azimutes podem ser medidos diretamente na carta impressa.
Cartas
náuticas
As cartas
náuticas são documentos oficiais, elaboradas visando possibilitar a navegação.
A representação
do continente e do terreno de ilhas e demais porções de terra firme não é muito
detalhada. Não são representadas todas as ruas e avenidas, mas apenas pontos notáveis que podem ser observados a partir do mar têm
a merecida atenção, como uma antena ou uma igreja. A razão é possibilitar a determinação da posição, por meio
de marcações visuais.
Já o relevo
marinho é trazido com mais detalhes do que apenas uma cor azul. A informação mais relevante é a profundidade,
trazida pela indicação numérica. Há também a indicação de rochas e naufrágios,
faróis, bóias de sinalização, advertências locais e a composição do fundo:
areia, lama, coral ou pedras, por exemplo.
Todos os
símbolos trazidos nas cartas são trazidos em uma carta, a 12.000 – destacando
que toda carta náutica é identificada não apenas pela região a que se refere,
mas por um número. A carta referente ao Porto de Santos, por exemplo, é a n.
1711.
As cartas
náuticas podem ser de grande escala ou de pequena. As de grande escala trazem
grande cobertura de área, mas poucos detalhes; as de pequena o inverso –
pequena cobertura de área e muitos detalhes.
As distâncias
são trazidas em milhas náuticas, sendo que 01 milha náutica equivale a 1852
metros ou o que é mais importante, a 1 minuto de arco na latitude média do
equador.
No Brasil a
elaboração das cartas náuticas é de responsabilidade da Marinha do Brasil, que
também é a responsável por sua venda (inclusive on line). Porém qualquer loja náutica de respeito
terá um bom estoque para a comercialização.
Toda embarcação
deve trazer a bordo as cartas náuticas em papel da área onde irá navegar.
Independentemente
disso, é certo que com os avanços da informática qualquer smartphone, tablet,
GPS, notebook ou até mesmo desktop pode ter em sua memória todas as cartas
náuticas brasileiras e do mundo.
No site da
Marinha, por exemplo, está à disposição todo o acervo nacional: http://www.mar.mil.br/dhn/chm/box-cartas-raster/raster_disponiveis.html
Os programas de
interface mais utilizados são o Seaclear e o OpenCPN – todos
gratuitos e com muitas funções. Nosso favorito é o OpenCPN , pois é
muito mais simples e intuitivo. Em tablets e
smartphones os app’s mais usados para esse fim são o Navionics e o Marine
Navigator, disponíveis também para a plataforma Android.
Em navegação a
pergunta mais importante e que deve ser feita constantemente é: onde estou?
Por convenção
essa resposta é feita tomando por base duas linhas imaginárias: a Linha do
Equador, que divide o planeta em duas metades eqüidistantes (hemisférios): o
norte acima da linha e o sul, abaixo dela; o Meridiano de Greenwich é a outra
referência, que divide o globo em outros dois hemisférios: o oriental a oeste e
o ocidental, a leste da linha.
A posição de
qualquer ponto na face terrestre pode ser tomada, assim, de acordo com a
distância que se está de uma dessas duas linhas. A distância em graus referida à linha
do Equador nos dá a LATITUDE; a distância a partir do Meridiano de
Greenwich, a LONGITUDE, em graus. Com esses dois dados pode-se localizar qualquer
ponto na esfera terrestre desde que se utilize uma projeção bidimensional, como
é o caso da Mercator.
Por conta da
trigonometria e seus mistérios, tais distâncias são tomadas em graus de arco,
cujas subdivisões são os minutos e os segundos. A Linha do
Equador é, assim, o paralelo 0. Descendo em direção à Antártida o navegador
passa pelo paralelo 1 e pode ir até o 90; em direção ao Ártico ocorre o mesmo.
Quem está em Santos, por exemplo, está na altura do paralelo 23 Sul, ou 23º S. Quem está em Miami
está na altura do paralelo 25 Norte, ou 25º N.
O Meridiano de
Greenwich é, por sua vez, o meridiano 0. Quem seguir dele em direção ao oeste,
poderá se afastar até o meridiano 180 oeste, ocorrendo o mesmo com quem se
afastar dele seguindo para o leste. Santos está na
altura do meridiano 43 oeste, ou 43º W; Tóquio está na altura do meridiano 136
leste, ou 136º E.
A
posição da embarcação na terra é, pois, determinada pela distância medida em
graus, minutos e segundos de arco, de duas linhas imaginárias: o Equador e
Greenwich.
Para onde
vou?
Essa é a
segunda pergunta mais importante.
Uma carta
náutica é uma mera representação do planeta. Ela não diz, sem o
auxílio de outros instrumentos, onde se está, nem para onde ir. Relata apenas como
é a região onde se está (assumindo, previamente, que essa informação seja
conhecida) e para onde se pode ir.
A tomada do
destino, ou rumo, é feita com base em alguma referência fixa. Em navegação
utiliza-se o campo magnético da terra. Qualquer objeto
imantado e que possa se movimentar livremente irá se alinhar com o eixo norte e
sul do campo magnético da terra. O polo positivo, com efeito, irá sempre
apontar na direção norte. Este é o
princípio essencial do mais importante instrumento de navegação: a bússola.
A bússola não
diz onde estamos, mas diz para onde estamos indo, em um determinado instante.
A partir desse
alinhamento norte/sul foi desenvolvida a rosa dos ventos, que nada mais
é do que a representação gráfica dos rumos possíveis de serem seguidos tomando
como base os pontos cardeais: Norte, Sul, Leste e Oeste – pontos estes que
podem ser identificados através da bússola. Outra forma de
representação da rosa dos ventos é em graus de círculo, sendo o Norte o 0º, o
Sul o 180º, o Leste o 90ª e o Oeste o 270º. Quando um
veleiro está no rumo 270º, ele está navegando para o oeste, por exemplo.
Todas as cartas
náuticas trazem, em seu corpo, uma rosa dos ventos.
Porém, contudo,
todavia e entretanto, é preciso saber uma coisa muito importante sobre o campo
magnético da terra: ele se move constantemente!
O polo norte
magnético não está, há muitos milênios, alinhado com o polo norte geográfico. Mas as cartas
náuticas estão, todas elas, referenciadas ao polo norte geográfico. Isso significa
que se um velejador seguir para o norte apontado pela bússola, ele não chegará
ao polo norte geográfico, pois não estará se deslocando em direção ao norte
verdadeiro. E isso vale para qualquer outra direção.
Por sorte o
valor dessa variação – que é anual e em valores médios – é conhecida por
cálculos. Assim, para que as referências sejam as mesmas – a da agulha
magnética (bússola) e a indicada na representação gráfica (carta náutica), é
preciso fazer uma correção ou uma compensação entre o que é indicado pela
agulha e o desvio (variável de local para local) que ela sofre. Esse desvio
causado pelo local é a chamada declinação magnética
Métodos de determinação da posição
A determinação
da posição pode ser obtida por várias métodos: pela referência com pontos
geográficos da costa, pelos astros, pela anotação dos rumos tomados, velocidade
de navegação e tempo ou ainda pela posição de satélites artificiais na órbita
terrestre (base do sistema GPS).
Por agora cabe
fixar a idéia de que nenhum, simplesmente nenhum desses sistemas fornece uma
posição 100% precisa. Sempre haverá um erro e durante a navegação esse erro
deverá ser sempre levado em consideração.
Sobre o sistema
GPS cabe mesmo sublinhar que ele é uma maquininha fantástica: em um único
aparelho, relativamente barato, tem-se a posição instantânea, o rumo a ser
seguindo para se atingir um determinado ponto/destino pré-programado (waypoint),
a velocidade (sempre em relação ao solo) média e instantânea, o rumo magnético
e o verdadeiro, o odometro, o tempo de viagem, o tempo para chegar ao destino e
uma série de outras funções.
MAS
tenha sempre em mente que o GPS navega com você ce não por você!
Além disso,
ele indica a posição com um erro proposital imposto pelo operador do
sistema (EUA) visando a garantia da segurança daquele país.
E ele só
funciona enquanto houver energia!
Falaremos mais sobre esse assunto em nossas próximas postagens.
E vamos no pano mesmo!
Grande comandante Juca, material com conteúdo
ResponderEliminarValeu comandante Juca. Estou sempre aprendendo com você.
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