segunda-feira, 5 de maio de 2014

Como é que você aguenta essa vida?

Boas!

Dia desses a Priscila me perguntou como eu aguento essa vida de velejador. A pergunta deve, antes, ser colocada em seu devido contexto. Eu havia ido para Ilhabela acompanhar o conserto do motor. Fui de carro. No fim, acabei levando o Malagô para Ubatuba, como já postei aqui. Voltar de Ubatuba para Santos, passando na Ilha para buscar o carro, foi uma epopéia que envolveu três ônibus circulares, três travessias de balsa e um hotelzinho de beira de estrada. Ao chegar em casa, como um "mendigo do mar", ela me perguntou, acolhedora: "Como é que você aguenta essa vida?".


A resposta vem fácil. Eu aguento por conta de dias como os do último feriado: um lugar lindo, céu azul, vento, mar de almirante , tudo funcionando como tem que funcionar; amigos aqui e ali, novos e velhos e a certeza de ter um lugar para voltar e chamar de casa, de lar. Eu aguento porque a bordo de um veleiro, mais do que em qualquer outro lugar, sou o protagonista da minha história. Traço eu mesmo os rumos e os sigo. Ao final possos encontrar a tormenta ou a paria de areia dourada. A bordo de um veleiro não há prêmio ou castigo, apenas consequências. O tempo, como dimensão, retoma sua natureza ancestral e nós o contamos como nossos avós. A vida passa mais lentamente do que no mundo digital. Temos tempo para pensar em nada, ou em tudo. Em muitos lugares não há sinal celular... e vivemos sem ele, muito bem.


Nestes termos, aguentar essa vida é fácil, ainda que haja muita incomodação aqui e ali. O que eu não aguentaria, isso sim, seria passar o resto de minha vida assitindo TV, vivendo a vida do outro, o tempo do outro.

E vamos no pano mesmo!





4 comentários:

  1. Melhor que ficar 2H na marginal tiete...

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  2. Dias atrás levei um pessoal prá dar um passeio no Gaipava e qual não foi minha surpresa ao ver e constatar todos, cada um com seu aparelhinho, ultra-mega-power em plena atividade, fotografando, gravando, compartilhando, etc...e simplesmente deixando de curtir o sol, o mar, a velejada, as técnicas, as velas, enfim, tudo que envolve um barco e o mar. Nada contra a tecnologia 'a serviço do homem' e não senhor deste, ditando regras e exigindo atualizações a cada minuto. Por isso, entendo o Juca. Velejar vale qualquer sacrifício. Um barco e seu comandante: comunhão perfeita!!

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