sexta-feira, 28 de março de 2014

O Preventer!

Boas!

Depois de minha última postagem recebi muitos e-mails pedindo mais informações sobre o que seria o tal do preventer citado no texto e sugerido pelo Ulisses (Caulimaran) nos comentários.

Em uma tradução literal muito má e porca seria um "preventor", algo que serve para prevenir que algo aconteça. E esse algo seria o jaibe.

Relembrando: um veleiro altera seu rumo de forma mais intensa de duas formas principais. Primeiro, vira por davante, camba ou dá um bordo. Nessa situação o vento passa primeiro pela proa, o barco perde seguimento/velocidade, as velas mudam de posição e o barco volta a ter seguimento. 




Segundo, vira em roda ou dá um jaibe. Nesse caso o vento passa pela popa e não há perda de energia. As velas mudam de posição sem interrupção do fluxo de ar a favor e a coisa pode ser violenta.



Como meus alunos da última travessia perceberam, navegar com vento em popa requer muita atenção e concentração. Não dá para relaxar um só segundo, principalmente com ventos mais frescos (chegamos a pegar vinte e cinco nós). Isso porque o jaibe pode vir a qualquer momento de desatenção ou em uma rondada (alteração do rumo) do vento sem aviso. Navegamos cinquenta milhas náuticas com o vento em popa arrasada (não dava para alhetar sem perder o melhor rumo) e foi bastante cansativo. Com o segundo menor pano do barco (a buja de trabalho) chegamos a oito nós (o Mala, quando está andando bem, está a cinco ou seis...).

Muito pano com vento em popa: "navis inflatis nimium ex vento velis mergitur". Precisa da tradução depois dessa imagem?

Antes de baixarmos a mestra recebemos dois jaibes acidentais. Nenhum causou estragos pois havíamos, pouco antes, instalado o tal do preventer. Mas afinal, que raio é isso?

Existem pelo menos duas formas de armar um preventer, como vemos nas figuras a seguir (há outras, mas em minha opinião essas são as melhores). Basicamente o que se tem é um sistema de cabos, com redução, que prende a retranca na linha da borda falsa da embarcação.




O que ambas têm em comum é impedir que a retranca mude de lado bruscamente durante o jaibe, causando estragos, que podem ser desde uma vela rasgada, um tripulante seriamente ferido ou jogado no mar, até estais rompidos e o veleiro desmastreado.

O mais importante é que qualquer que seja o arranjo o preventer tem que poder ser desarmado logo,  de preferência de dentro do cockpit, permitindo que a retranca mude de posição de forma controlada. Do contrário ela fica armada fora de ponto e compromete a estabilidade da embarcação.

No nosso próximo post falaremos sobre essa tal buja de trabalho, que também foi alvo de muitas perguntas.

E vamos no pano mesmo!


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