segunda-feira, 31 de março de 2014

Faroeste Caboclo...

Boas!


Deixei a poita no Saco da Capela no último sábado, 29, às 15h00 em ponto. O destino seria outro Saco, o da Ribeira, em Ubatuba. Há algum tempo eu resolvi passar o mês de abril na Ribeira, pois meu motor anda agindo de forma estranha e lá é a base do Josivan, o mecânico que monta esses motores VW marinizados (Control). O cara é careiro (bem careiro), demora um pouco para entregar o serviço, mas deixa o motor um reloginho e é bem isso o que eu ando precisando.

Sem tripulação sai em solitário. Estranho, mas era um momento em que eu realmente precisava fazer uma dessas. Estar sozinho no mar, depois de tanto tempo. Uma navegação curta (apenas 23 milhas), mas que exigia atenção e uma boa navegação. Deixei tudo o que eu iria precisar bem à mão. Comida, água, roupa de tempo. Fantasiei-me, ainda, de árvore de natal: colete, luzes químicas, rádio VHF no bolso do colete e dois cintos de segurança que estavam sempre amarrados em algum ponto ou em uma das linhas de vida. A previsão era chegar em Ubatuba às 20h00.

Deixando o Saco da Capela...
Vento leste, mais na cara impossível, 14 nós. "No canal ele fica mais fortinho mesmo, pois vem encanado. Lá fora deve diminuir" - pensei.Segui no motor, que rapidinho chegou na temperatura de trabalho, que é 60ºC (ele está sem a termostática). Subi a mestra, no primeiro rizo e toquei o barco feliz da vida com a aventura. Na ponta das canas, como eu já esperava, o vento apertou bastante. Coisa de vinte nós. A lestada tem toda a parede de Ilhabela para bater e desviar para o canal, o que faz dali um lugar excepcional para a velejada nessas condições. Mas não foi só o vento que subiu. A temperatura também. 80º. Algo estava errado. Soltei o leme e vi o que acontecia (não tenho piloto automático).  O barco seguia no rumo por um tempão! "Hum, isso é legal!", pensei. Desci, abri a tampa da radiador e ele estava muito seco. Gastei 5 litros de água e a temperatura voltou aos 60º.

Ilhabela fica para trás...

... e os primeiros carneirinhos surgem no mar, ainda bebês.

Abri a genoa e a melhor orça que consegui foi levar o barco para a Ilha do Tamanduá, em Caraguatatuba. O vento apertou mais do que eu imaginava e o mar cresceu. Ondas de um metro e meio, mas de quando em vez, para variar, sempre vinha uma malvada de dois metros e pouco e lavava a proa. Detalhe: a proa do Malagô fica a 1,70m da linha da água. Eu uso essa referência para calcular o tamanho das ondas: se elas passam do púlpito de proa, com certeza têm mais do que dois metros.Por vezes elas passam essa altura e muito!

O motor ferveu de novo - mesmo desengatado - e lá fui eu encher o tanque do radiador. Legal que eu soltei o leme e o barco manteve a orça. Viva os barcos de quilha longa! Não demorou muito para perceber que estava com problemas. A temperatura não baixou significativamente e resolvi poupar o motor para pegar a poita na Ribeira. Era no pano mesmo! Fiquei um pouco preocupado pois esperava uma calmaria a noite. Por isso, ainda com luz do dia, coloquei a Ilha da Vitória na proa e amarei.

Às 18h20 liguei para casa. A Priscila, claro, estava preocupada. Menti para ela e disse que não havia vento e que eu estava boiando plácidamente, quando na verdade cavalgava, feliz da vida, ondas de dois metros, quebrando de forma bem pronunciada e uma lestada de mais de quinze nós. Enviei uma posição pelo Boatbeacon e me preparei para a noite. Já achava que pelo andar das coisas ia chegar na Ribeira lá pela 00h00. 

Anoiteceu. E ai a festa começou de verdade. Liguei as luzes de navegação. Nos canais 16 e 11 acompanhava a movimentação dos navios e da praticagem. Onde estava é uma área de fundeio e havia o risco de algum navio passar por mim. 

Por conta do rizo o barco não adernou muito e a coisa ia bem. Até que dei um segundo bordo para o mar, um pouco depois de montar a Ilha do Tamanduá (o final dela). Cadê o horizonte? Olhei para o GPS e ele estranhamente começou a rodar, como a roleta do roletrando, sem me dizer para onde eu ia. Dizia onde eu estava, mas naquela altura dava para confiar? Nesse momento a luz da bússula queimou. "Isso será divertido" - pensei, quase pegando a calça marrom, especialmente desenvolvida para esses momentos especiais.A coisa ainda melhorou quando o vento apertou mais um poquinho e o mar cresceu também mais um pouquinho.

Era nevagação pelo métoco braile. Eu me guiava pela genoa: quando ela estolava, eu arribava. Fiquei nessa um tempão. Lembrei-me do Elmo, do blog coisas de barco, que certa vez escreveu que o bom de navegar a noite era que você não via a altura das ondas. Mesmo com a iluminação a bordo reduzida ao mínimo eu realmente não via nada. Foi então que tive a ideia de pegar a lanterna e iluminar o mar, só para ver como estava. 

Ideia de tonto, essa. O mar estava branquinho, cheio de carneirões (claro que o medo aumentou a altura deles em uns metrinhos, rs). Apaguei a lanterna. Fiz uma marcação visual com terra e percebi que estava andado para trás. Dei outro bordo para terra.

Fiquei nesse amara/aterra até às 23h00. Foi ai que precebi que não avançava. Precisava saber o que estava fazendo de errado e a resposta era mais óbvia do que eu pesnava. A orça estava uma mercadoria e a culpa era minha e da ergonomia do cockpit do Malagô. Como eu não havia feito nenhuma grande navegação em solitário com ele, não havia me dado conta disso. Para caçar a genoa eu tinha que me soltar dos cintos, sair da roda de leme, prender os cintos de novo e ir até uma das catracas que ficam a mais de um metro e meio - e, claro, soltar e prender cintos de novo. Quando eu caçava a genoa no ponto certo, o barco dava um bordo e eu tinha que começar tudo de novo. E isso só acontecia no bordo para o mar. No de terra eu conseguia ajeitar as coisas de forma mais ou menos satisfatória. As ondas! No bordo de terra elas freavam a tendência à orça, natural do barco, e eu conseguia fazer o trabalho.

Ficamos nessa e a 01h00 eu consegui, finalmente, chegar na altura da Cassandoca. Amarei. O plano era afastar bastante e depois, em um único bordo, montar o Mar Virado. Porém eu estava exausto, com frio e com fome. Foi ai que eu aprendi um truque novo. Enrolei a genoa completamente, folguei a mestra e vi o que o barco fazia. Voi lá! Entrei em capa! Ele seguia a meio nó, bem posicionado em relação as ondas e se asfastando de terra. 

Minha posição enviada por e-mail para a Priscila pelo Boatbeacon.

Na cabine estava tudo em  caos. Mas deu para eu comer os bombons que o Cassio havia deixado, umas bananas e suco. Olhei para o beliche, ele olhou para mim e deitei. Ficava um minuto deitado, levantava e ia lá fora ver se algum navio ou algum pesqueiro estava em rumo de colisão. No boatbeacon  vi que o Costa Fascinoza estava passando bem perto da Ilha dos Búzios. Fui lá fora e vi suas luzes, lá longe. Foi bonito. O céu ora nublava, ora ficava estrelado e a tal calmaria não vinha. A costa estava visível o tempo todo, a exceção da Ilha do Mar Virado, meu maior problema. Não queria topar de cara com ela. 

Mais descansado e melhor vestido, voltei ao cockpit. A deriva havia sido grande e apesar de estar me afastando da costa, voltei ao través do Tamanduá. Perdi tudo o que havia conquistado entre 23h00 e 01h00. 

Doeu...

Dei outro bordo e recomecei o avanã/retrocede. Olhei para a proa do barco e jurei: "Eu não vou lá na frente nem a pau". Foi ai que vi um estai balançando. Peguei a lanterna e vi um estai de força, de BB, soltinho, mas preso no fuzil e íntegro. Não sei como aconteceu, mas as contraporcas estavam bem desrosqueadas e ele girou. Quebrei minha promessa de não ir à proa. Amarrei-me à linha de vida e lá fui eu. Apertei o estai novamente e voltei ao cockpit. Eram 04h00. Plotei minha posição e estava no meio do caminho, chegando no través da Cassandoca pela segunda vez. Sono e cansaço começaram a pesar. Naquele ritimo - e eu já não contava que o vento fosse melhorar - eu chegaria na Ribeira no doutro dia, sabe-se lá que horas.

Deitado para descansar um minutinho. O óculos cheio de sal do mar...
A música faroeste caboclo (eu vi o filme um dia antes) ficava na minha cabeça sem parar. Liguei o rádio, mas por ali só pega a Beira Mar e "Putz putz" não era lá um som muito agradável. Voltei para o drama do Santo Cristo e pensava se a minha via crucis não tinha mesmo virado um circo. Nisso Raul Seixas me visitou e eu lembrei que "Durango Kid só existe no gibi/e quem quiser que fique aqui/entrar para a história é com vocês". Eu não sou heroi. Sou apenas um simples especialista em ir até ali e voltar. Não tinha mais forças e a coisa estava ficando perigosa.Coloquei a proa de volta para a Ponta das Canas. Uma alheta perfeita. Barco a sete nós, só na mestra rizada. Estava voltando. Não dava mais. Aquela era a hora de desistir, pois se continuasse poderia quebrar algo importante ou me mechucar (com sorte). É preciso saber a hora de parar.

Eu levei  11h00 para chegar até ali. Em condições melhores, eu teria feito o mesmo percurso em 02h30. E foi justamente esse o tempo que eu levei para voltar para a poita no Saco da Capela, onde cheguei às 06h32 - peguei a poita no pano, ajudado pela calmaria que, finalmente e como que debochando de mim, chegou. Eu havia fracassado.

De toda a sorte foi legal essa experiência. Vi muitas coisas que devem ser melhoradas, no barco e em mim. Gostei também de ter ficado sozinho no mar. Pior, ando desenvolvendo um estranho gosto por navegar em condições mais adversas. Vai entender.

E vamos no pano mesmo!






sexta-feira, 28 de março de 2014

O Preventer!

Boas!

Depois de minha última postagem recebi muitos e-mails pedindo mais informações sobre o que seria o tal do preventer citado no texto e sugerido pelo Ulisses (Caulimaran) nos comentários.

Em uma tradução literal muito má e porca seria um "preventor", algo que serve para prevenir que algo aconteça. E esse algo seria o jaibe.

Relembrando: um veleiro altera seu rumo de forma mais intensa de duas formas principais. Primeiro, vira por davante, camba ou dá um bordo. Nessa situação o vento passa primeiro pela proa, o barco perde seguimento/velocidade, as velas mudam de posição e o barco volta a ter seguimento. 




Segundo, vira em roda ou dá um jaibe. Nesse caso o vento passa pela popa e não há perda de energia. As velas mudam de posição sem interrupção do fluxo de ar a favor e a coisa pode ser violenta.



Como meus alunos da última travessia perceberam, navegar com vento em popa requer muita atenção e concentração. Não dá para relaxar um só segundo, principalmente com ventos mais frescos (chegamos a pegar vinte e cinco nós). Isso porque o jaibe pode vir a qualquer momento de desatenção ou em uma rondada (alteração do rumo) do vento sem aviso. Navegamos cinquenta milhas náuticas com o vento em popa arrasada (não dava para alhetar sem perder o melhor rumo) e foi bastante cansativo. Com o segundo menor pano do barco (a buja de trabalho) chegamos a oito nós (o Mala, quando está andando bem, está a cinco ou seis...).

Muito pano com vento em popa: "navis inflatis nimium ex vento velis mergitur". Precisa da tradução depois dessa imagem?

Antes de baixarmos a mestra recebemos dois jaibes acidentais. Nenhum causou estragos pois havíamos, pouco antes, instalado o tal do preventer. Mas afinal, que raio é isso?

Existem pelo menos duas formas de armar um preventer, como vemos nas figuras a seguir (há outras, mas em minha opinião essas são as melhores). Basicamente o que se tem é um sistema de cabos, com redução, que prende a retranca na linha da borda falsa da embarcação.




O que ambas têm em comum é impedir que a retranca mude de lado bruscamente durante o jaibe, causando estragos, que podem ser desde uma vela rasgada, um tripulante seriamente ferido ou jogado no mar, até estais rompidos e o veleiro desmastreado.

O mais importante é que qualquer que seja o arranjo o preventer tem que poder ser desarmado logo,  de preferência de dentro do cockpit, permitindo que a retranca mude de posição de forma controlada. Do contrário ela fica armada fora de ponto e compromete a estabilidade da embarcação.

No nosso próximo post falaremos sobre essa tal buja de trabalho, que também foi alvo de muitas perguntas.

E vamos no pano mesmo!


segunda-feira, 24 de março de 2014

Os jaibes mataram o gato!

Boas!

Sábado, 22, fizemos mais uma travessia de instrução, com alunos, dessa vez entre Guarujá (Boreal) e a Ilhabela (Saco da Capela). 

Tudo pronto a bordo (incluindo o novo bote inflável de 1,8m,  apelidado de "perigo amarelo" - homenagem do Cassio ao Cabinho e a prancha de SUP), zarpamos eu, Cassio, Tamis e Oscar em direção à capital da vela. O dia ainda não havia nascido quando soltamos as amarras do cais da Boreal às 04h22.

Motoramos até a Ponta Grossa e assim que o dia raiou abrimos as velas na configuração que chamo "Armação Ricardo Stark": vela mestra no primeiro rizo e buja. O Ricardo (Gaipava), muito acertadamente adota essa armação em condições mais difíceis e com isso mostra que sabe das coisas, pois em ventos mais frescos ela deixa o barco mais equilibrado, ainda que possa tirar um pouco de desempenho.

A previsão pedia mesmo um pouco mais de prudência. Um SW, fruto de uma frente fria que entrou horas antes, deixou o mar um pouco mais mexido do que o normal, do jeito que o Goludo gosta!

Seguimos com ventos pela alheta tendo Alcatrazes (bastante visível) na proa. O barco voando e o motor desligado desde antes da Moela. Com isso fomos ganhando altura e nos afastando de terra. Aliás foi com certo espanto quando percebi que havia navios em curso mais próximos de terra do que a gente. Fomos longe! Nessa hora, na altura da Ilha de Arvoredos, fiz um ou dois cálculos e vi que se empopássemos cairíamos direto na Ilha de Toque Toque, nosso portão de entrada para a Ilha.  

Na empopada o ajuste entre leme e velas ficou um pouco prejudicado, pois faltava um pouco de pano à frente e o veleiro ficava com uma inquietante tendência à orça. Enrolamos a buja de trabalho laranja e pronto, leme na mão de novo. Fomos apenas com a mestra rizada, tendo o cuidado de instalar um preventer

Mas... o mar estava baixo, com 1,5m de onda - com uma ou outra malvada de 2,0m  de quando em vez -  e o vento começou a apertar. Dez, quinze e depois vinte e cinco nós. Manter um rumo sem alterações é imprescindível, senão o jaibe vem (a retranca muda de lado violentamente, o que pode ser perigoso para o barco e para a tripulação). Para ajudar a ondulação vinha de W e não casava diretamente com o vento. Além disso o vento também dava sua rondadinha e depois do segundo jaibe decidi que era hora de mudar um pouco as coisas. Baixamos a mestra e abrimos a buja de trabalho. "Assim o jaibe não mata ninguém", pensei. Estava mais ou menos certo, como veria depois, já no Saco da Capela. 

O barco voava baixo, mesmo com quase nada de pano. Surfadas de oito nós. Média de 5. Tanque de diesel transbordando de tão cheio. É assim que tem que ser! Chegamos no través de Toque Toque às 15h14 e pouco depois estávamos na poita, no Saco da Capela.  

Cansados, fomos para terra comer algo quente - e gelado, pois uma aguinha com gelo fez muita falta nessa travessia. Às 21h00 já estávamos todos dormindo.

No dia seguinte, bem cedo, a névoa encobria tudo e a notícias do vento e do mar lá fora não eram nada animadoras. O retorno seria pela estrada. 

Preparando o barco para a "hibernação" na poita, ao caçar a adriça da buja vi o cabo subir até depois da primeira cruzeta: os jaibes e o esforço concentrado em uma única vela acabaram com o gato que segurava o tope, preso por uma pontinha de nada. Por pouco não ficamos sem vela de proa! Por livre e espontânea pressão o Cassio subiu no mastro e nos safou dessa bela onça. Os jaibes acabaram matando alguém, sim: o gato (espécie de mosquetão de aço inox)!

Pobre bichano...

E vamos no pano mesmo!

Galeria:















quarta-feira, 12 de março de 2014

Mar tranquilo não faz bom marinheiro!

Boas!

Na última regata de arvoredos (2013) o intrépido Jefferson Neitzke (Goludo, Atoll 23) enfrentou um baita tempo dos brabos em solitário, voltou sozinho e sem auxílio para o clube e por isso ganhou uma bela homenagem do  Iate Clube de Santos, além de um Suunto. Só que depois dessa ai o cara agora só quer saber de pegar mau tempo e foge de tudo que é brisinha! No vídeo abaixo dá para ter uma ideia do que foi a volta do cruzeiro de três dias que ele fez no último final de semana (Santos/As Ilhas/Santos).

É isso ai: mar tranquilo não faz bom marinheiro!

E vamos no pano mesmo!

)

segunda-feira, 10 de março de 2014

Dona Craca...

Boas!

A pintura de fundo do Malagô fará seis meses em abril. Em princípio será a metade de sua vida útil, que é de doze meses. O que tenho observado, porém, é que a coisa está mais selvagem do que os vendedores de tinta venenosa nos dizem. O Malagô voltou para a água no dia 14/10/2013. Uma semana depois fomos para Ilhabela, fazer uma travessia de instrução com alguns alunos e o fundo tinha apenas um pouco de limo. Mas, na semana seguinte e para minha surpresa, já havia algumas cracas. Desde então, após quinze ou vinte dias ele já tem o casco completamente incrustrado. 

Sem opção, de lá para cá tenho mandado raspar o fundo a cada vinte dias. A coisa anda curel por essas águas. O padrão mais regular era a formação de uma camada limo, depois de uma cabelereira de algas e ai sim, as cracas. Foi assim comigo em Paraty, em Ubatuba e no Canal de Bertioga.

Aqui em Guarujá, porém, a dona craca tem vindo direto e em grande quantidade. Ficar livre de incrustrações apenas com mergulhos semanais, o que em um primeiro momento era justamente o que a pintura com tinta venenosa prometia evitar.

Tenho conversado com muitos donos de veleiros e o problema tem se mostrado uniforme, o que faz prova de que não se trata de uma questão isolada nem atrelada apenas à marca da tinta. Também não é uma questão de má aplicação do produto, pois não reclamo aqui de tinta desprendida do casco. Pelo contrário, a tinta resiste bravamete, mas não dá conta de impedir incrustrações em um espaço de tempo razoável.

Cabe registrar que esse verão foi atípico. As temperaturas estiveram muita altas e houve muitos dias sem chuva alguma no Sudeste, o que por certo influiu na temperatura da água e sua salinidade, fatores abióticos que com certeza influem no desenvolvimento das cracas - ou, no caso, em seu superdesenvolvimento.

De toda a forma, imagino que sem uma proteção adequada - ainda que a que se tem hoje não seja como o vendedor promete - a situação deve ser ainda pior. 

De minha parte só sei que nada sei e, por agora, minha resolução é usar menos tinta e subir o barco mais vezes, ou seja, apenas três latas (o que no meu barco garante três demãos) e subir uma vez por ano. Além disso, como temos que ficar limpando a cada vinte dias de qualquer forma, usarei a boa e velha Tritão, amiga dos barcos de madeira - e bem mais barata. 

Enquanto isso, vamos de espátula mesmo!