quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Um pouquinho sobre GPS...

Boas!

Tempos atrás eu disse aqui que "era apenas dúvidas" quanto ao GPS. No final, acabei fazendo uma escolha. Antes, porém, quero explicar uma certa "ranzinzice" que eu tenho em relação a esse aparelhinho fantástico.

Vamos recordar? Afinal, recordar é viver!

O Sistema NAVSTAR -GPS - Navigation System by Time and Ranging - Global Position System, ou apenas GPS - é um projeto militar norte americano inicialmente disponível para os EUA e para os países da OTAN e que se disseminou para fins civis - até quando os EUA acharem que não há risco para a segurança nacional.  

O sistema tem duas divisões, a terrestre e a espacial. Esta última é composta por vinte e quatro satélites, sendo que destes vinte e um estão em permanente funcionamento e três em espera. Esses satélites estão em órbitas altas, fora do efeitos da ionosfera. 

O segmento espacial do GPS  foi projetado para garantir, com uma probabilidade de 95%, que pelo menos quatro satélites estejam sempre acima do horizonte (com uma altura maior que a elevação mínima de cinco graus requerida para uma boa recepção), em qualquer ponto da superfície da Terra, vinte e quatro horas por dia. Em muitas ocasiões, entretanto, doze ou treze satélites estarão visíveis para um usuário na superfície na Terra.

Em linhas bastante gerais o sistema se baseia na distância entre o receptor e a constelação de satélites, cujo número visível no céu varia de acordo com o local e o horário. Para uma posição simples, de latitude e longitude apenas três satélites visíveis são necessários. A posição GPS é baseada na medição de distâncias aos satélites do sistema. Os satélites GPS funcionam como pontos de referência no espaço, cuja posição é conhecida com precisão. Então, um receptor GPS (marítimo), com base na medição do intervalo de tempo decorrido entre a transmissão dos sinais pelos satélites e sua recepção a bordo, determina a sua distância a três satélites no espaço, usando tais distâncias como raios de três esferas, cada uma delas tendo um satélite como centro. A posição GPS será o ponto comum de interseção das três esferas com a superfície da Terra.

Alguns fatores, porém, interferem na precisão desse sinal e na posição por eles fornecida. Alguns desses fatores são inerentes ao próprio sistema (como interferência, ainda que mínima, da ionosfera e da atmosfera) e não podem ser retificados. Outro, porém, é proposital. Trata-se da chamada disponibilidade seletiva, que é um erro proposital imposto pelo segmento terrestre do sistema GPS que retira a precisão da posição fornecida. A margem de erro pode chegar a cem metros e isso para uma entrada de porto, com obstáculos e perigos para a navegação, pode ser insuficiente para garantir a segurança da navegação!

Ou seja, basicamente aquilo que a gente vê na tela - ainda mais quando temos um chartplotter -, não é exatamente onde estamos, mas sim um local onde existe a máxima probabilidade de estarmos! E isso é uma "faca de dois legumes", pois pode nos ajudar de maneira assombrosa e pode, também, nos colocar em uma bela "onça". Tudo depende de como absorvermos a informação que o aparelho nos dá.

O GPS talvez seja o mais maravilhoso auxílio de determinação da posição no mar. Mas apenas isso, mais uma ferramenta. Ele não navega para nós, mas sim, conosco e suas informações não devem ser lidas de maneira isolada nem acima de qualquer suspeita. Quem deve decidir "o que fazer", sempre, é o comandante da embarcação e não a máquina. Precisão 100% só o DGPS,  mas isso é um outro assunto...

Além de tudo isso, em veleiros, ele causa um efeito que sempre me incomodou: ao invés de lançarmos nossos olhos para a valuma da mestra ou da genoa (e ver se o barco está regulado direitinho), ou de olharmos várias vezes para todo o horizonte a nossa volta, ficamos de olho na "TV", jogando videogame.

Contudo, todavia e entretanto, nem de longe eu sou contra o GPS. Apenas acho que todos que estão no mar devem saber usá-lo corretamente, tendo em vista suas limitações e, mais importante do que isso, saber se virar quando ele falhar. Basta acabarem as pilhas, cair um raio nas imediações ou uma panezinha elétrica qualquer - eu já tive várias!

Até o mês passado o GPS padrão do Malagô era um Garmin 72H. Simples, compacto, tem tudo o que era preciso. No Cusco eu usava um ainda mais simples, o Etrex amarelinho, ainda o da primeira série. Somado a ele eu tenho duas antenas receptoras de sinal GPS, que conectadas a qualquer notebook e com o auxílio do Seaclear ou do OpenCPN (que eu considero melhor) o transformam em um chartplotter.



Mas no meio do caminho tinha uma pedra. Na verdade, uma falha. Como ecobatímetro o Malagô usa um fishfinder - Garmin  90s - com o transdutor instalado fora do casco. Desde nossa travessia de Ubatuba para o Guarujá ele anda falhando. Às vezes lê a profundidade, outras não. Simplesmente não dá mais para confiar e uma substituição se impunha.


Foi ai que eu conheci as séries 421s e 521s da Garmin. Além do GPS ele é um fishfinder e, mais do que isso,  integra  outros auxílios à navegação, como AIS, piloto automático e a estação de vento, apresentando os dados em uma única tela, que controla tudo. Em uma única tela, por exemplo, é possível visualizar a posição aproximada da embarcação, com o relevo terrestre e marinho em 3D, bem como visualizar na mesma tela as embarcações ao redor, com nome, rumo e velocidade (AIS) e ter informações da direção do vento real e aparente. Isso me agradou. Embora eu não tenha nada disso, rs, o fato de poder ter acesso a todos essas informações em um único aparelho e, mais do que isso, em uma única tela, acabou me convencendo. Adotei, então, o Garmin 521s - o que são mais alguns tostões senão apenas mais algumas pintas na onça?! Entre ele o 421s, segui a dica do Matheus e comprei logo o 521s. 

O preço é um bocadinho além da conta por nossas bandas e talvez o meu tenha caído de algum contêiner, se é que essas coisas existem (eu duvido!).  Mas o fato de ter várias funções integradas pode representar uma economia se sua ideia for adquirir mais equipamentos no futuro, como eu . Porém, é verdade que se ele quebrar, vai tudo embora...

O local que eu escolhi foi na entrada da cabine, em um suporte escamoteável, que ainda precisa de uns ajustes pois não permite a abertura total para fora. Eu pensei em instalá-lo embutido na madeira, mas esse crime com o "Velho Mala" logo foi para bem longe da minha cachola.


Quer saber mais sobre o sistema GPS? Consulte o Capítulo 37 do terceiro volume da obra "Navegação: A Ciência e a Arte", de Altineu Pires Miguen . E olha só que legal, essa obra - em três maravilhosos volumes - pode ser consultada 100% on line e de graça: https://www.mar.mil.br/dhn/dhn/quadros/publicacoes.html. Foi com esse material, aliás, que eu me preparei para a prova de Capitão Amador - valeu a dica, Ricardo Stavale!

E é isso ai, vamos no pano mesmo!

7 comentários:

  1. Fiquei triste quando li que o Sr. pensou em mutilar o Malago para instalar o GPS AIS ESTAÇÃO DE TEMPO E FAZ MAIS ALGUMA COISA DA GARMIN, não pense mais nisso heim!

    ResponderEliminar
  2. Juca eu tive uma experiencia ruim com as cartas da garmin. Estavamos vindo de Abrolhos em direção a entrada do canal de Caravelas. Eu dentro do barco navegando no SeaClear com as cartas da marinha e o Cmte do lado de fora seguindo as cartas do GPS da garmin. Ele estava seguindo minhas instruções, pois era um teste de navegação. Ao chegar no canal todo balizado, o GPS mostrava que ali era uma ponta de terra sem passagem nenhuma. Não era o GPS pois eu estava usando um GPS da garmin de pulso (foreruner 450) e plotava manualmente no seaclear. O que percebi é que o detalhamento das cartas garmin não é tão bom em lugares afastados dos grandes centros. Na saida aconteceu a mesma coisa. Vi que na europa/usa a garmin oferece cartas em escala maior, mais detalhadas. Aqui para a o Brasil só é vendido o pacote de toda america do sul e caribe. Aqui no Rio e na região de ilha grande nunca tive esse problema, mas depois dessa fiquei com um pé atras com as Blue Charts. Agora só faço meus roteiros no computador usando as cartas da marinha e depois passo pro garmin. Mais seguro.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Roger, muitíssimo bem lembrado, obrigado! O meu veio com a tal da Bluechart. Para Santos, que é um porto grande, os detalhes estão bacanas. Mas para outros trajetos, uma opção além da que vc menciona é a GPS Mapas, que detalha bastante trechos de pouco interesse comercial. Bons ventos e qualquer dia vou ai velejar de Tiki Rio!

      Eliminar
  3. Juca, o post ficou matador! Você trucidou várias dúvidas minhas e ainda de quebra deu dicas pra estudar pra prova de capitão! Parabéns, ótimos ventos e velejadas!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Rico! Obrigado por suas palavras. Mas atente que apesar de eu ter feito esse caminho - estudar sozinho para a prova de capitão - ele foi o mais longo e tortuoso, ainda mais pq sou limitado em matemática! Bati muito a cabeça. Por isso, se houver um curso bom em sua região, é um caminho mais tranquilo. De toda a sorte o manual da marinha é leitura obrigatória. Bons ventos, "Hoje!" e sempre, rs.

      Eliminar
    2. Só pra esclarecer, somos completamente favoráveis ao curso, inclusive se morássemos em São Paulo já tínhamos feito contigo. O que quis dizer é que as habilitações de Arrais e Mestre Amador podem ser feitas de forma teórica, mas sempre, no nosso caso de velejadores, acompanhar um curso prático, pois esse é imprescindível. A graduação para Capitão então nem se fala... Abraço, bons ventos "Hoje!" e sempre [hehe].

      Eliminar