domingo, 26 de maio de 2013

Eu estou devendo...

Boas!


Por aqui vai tudo bem. A Alice não estava com H1N1, o que descobrimos depois de dois dias tratando com antiviral sem melhora. A infecção no fim era bacteriana e depois dos antibióticos ela já está firme e forte. Eu, a Priscila e a Brida é que sofremos um pouco, não apenas pela preocupação, mas também porque pegamos a bendita bactéria! Uma semana com dor de ouvido, garganta e febre. Mas já está tudo bem conosco também.

O Malagô flutua, firme e forte. A minha teoria de que não havia furo no calafeto vem se confirmando. As baterias estão funcionando com carga, as bombas voltaram a funcionar no tempo de antes e o porão está seco. De toda a forma vou trazê-lo para o Guarujá para subir e fazer fundo (a última vez foi m 2010) e trocar a gaxeta pelo selo mecânico. Essa discussão rende muitos comentários, mas para mim que fico longe do barco (mais até do que gostaria) não ter aquele pinga a ponga vale o preço a mais. Vou usar um selo da Volvo, vendido pelo Guilherme Vestphal (que tem um Classe Brasil também, o Cangaceiro) por R$ 650,00. Isso é vinte vezes mais caro que uma gaxeta nova. Mas eu ficarei mais tranquilo e isso não tem preço.

No meio dessa confusão toda esqueci de agradecer duas pessoas, e por isso o título desse post.

A primeira é o nosso leitor Fabio Tutiya. Dia desses eu sentei aqui em casa para ler Um brasleiro velejando as antilhas, de Geraldo Tollens Link. Mas logo no começo percebi que esse era o segundo livro da viagem. Havia um antecessor, mas eu não o tinha, o que me deixou ligeiramente aborrecido. Pois nessa mesma semana recebi pelo correio, em devolução, o livro do Serge Testa (A volta ao mundo em um 12 pés - sim, você leu certo). Junto com o livro veio um bilhete simpático do Fabio e, vejam só, o primeiro livro do Geraldo: Velejando o Brasil: de Porto Alegre ao Oiapoque, doação para nosso acervo que, como vocês sabem, é público - eu empresto para quem quiser, é só pedir! Valeu Fabio! Só não fiquei mais contente porque você ainda deve uma visita ao Malagô!

A segunda pessoa a quem eu devo meu muito obrigado é o Walnei Antunes, que semana passada, em meio ao alagamento do velho Mala, me doou um outro livro super legal: Veleiros ao Mar, de Sarah Manson (esse é ficção e o Walnei acertou em cheio, pois depois de trinta livros sobre viagens reais, a realidade fica fantástica demais!).Valeu Walnei! 

Quinta-feira estou indo buscar o Malagô. Ele irá primeiro para o Chinen e, de lá, para o Pier 26, no CING. Quando voltar faço um post com o relato dessa travessia!

E vamos no pano mesmo!

domingo, 19 de maio de 2013

"- Mamãe, o que é um 'fuio'?"

Boas!

Dia desses o menininho chegou em casa perguntado para a mãe: " - Mamãe, mamãe! O que é um 'fuio'?!"

Pois é. Desde sábado da semana passada um possível 'fuio', quase microscópico e tímido ao extremo me deixou fulo. E sujo. E cansado. Toda história tem um começo, então vamos a ele.

Eu fiquei sem ir ao Malagô ao longo de todo o mês de abril. A exceção foi o final de semana em que tivemos curso de vela oceânica. A turma de maio foi cancelada, por conta da regata de veleiros clássicos - (ou melhor, do cancelamento de nossa participação nela) e no primeiro final de semana de maio aproveitamos para ir com as meninas e alguns amigos ficar exercitando o nadismo, como eu relatei aqui no post anterior.

Foi ai que o problema começou. Nosso barco usa o sistema de gaxeta para vedar a entrada do tubo do hélice até o motor. E gaxeta que se preza, pinga. Isso não é um defeito, pois serve para a lubrificação que é necessária. Existe um conta de que deve haver uma gota a cada trinta segundos. No Mala eu só consigo uma gota a cada seis segundos. Essa água do mar vai para os porões e quando chega em um determinado nível, as bombas (são duas) entram em funcionamento e a colocam para fora.

Meu primeiro erro foi não ter ido ao Mala durante tanto tempo. Estava tudo bem quando chegamos, mas as baterias não estavam em carga máxima, depois de um mês trabalhando dia e noite para expulsar a água a cada par de horas (três litros por vez). Era preciso dar carga. Meu segundo erro foi não ter, ainda, instalado painéis solares, para permitir a carga nesses períodos de ociosidade. Eu sempre os tenho, mas no Mala ainda não os instalei. Meu terceiro e decisivo erro: dei pouca caraga nas baterias, pois os motores incomodavam a "tripulação". Não estávamos navegando e eu fiz essa concessão da segurança em prol do conforto. Os ingredientes para o desastre estavam, assim, todos separados. Era só o clado ir para a panela!

Fomos embora na segunda de manhã e eu ainda liguei o motor por uns minutinhos, para carregar as baterias. Mas depois da "festa", com todas as luzes acessas, cd, dvd, recarca de celulares, VHF e até um aparelho para apnéia do sono de um dos nossos amigos (que dormiu no barco), a carga da bateria de serviço já tinha ido para o espaço.

No sábado, dia 10 de maio, voltei do supermercado (aqui em Santos) e a Priscila me avisou, aflita: "- O Marcos (o nosso marinheiro) ligou. O Malagô está fazendo água".

Liguei para o Marcos, desesperado. A água estava nos tornozelos. Ia até o camarote de proa. A bateria número dois, que é a de serviço, estava a zero. Ele precisava saber como ligar o motor, que e cheio de manhas. Eu ensinei e, por sorte, a bateria número um, que serve apenas para essa partida, estava com carga. Ouvi o som do control 48 hp funcionando e respirei aliviado. As bombas começavam a drenar a água. Em menos de uma hora ele estava seco, ou o mais próximo disso que as circunstâncias permitiam.

No final de semana seguinte eu participaria com alunos/amigos da Ubatuba Sailing Festival. Tudo precisava estar em ordem. Liguei para o Ricardo Stark, mas ele não estava em Ubatuba. Confiei no Marcos e fui administrando o problema a distância. Todos os dias pela manhã ele me ligava e reportava a situação: as bombas só funcionavam no manual. Os automáticos falhavam e a água estava sempre alta.

Eu não comprei o Malagô com garantia, mas nessa hora só me ocorreu de pedir ajuda para o Cesar. Ele mora em Ubatuba e ama esse barco até mais do que eu. De pronto ele foi até o veleiro e trocou um dos automáticos. Isso foi na quarta-feira. Na quinta, pela manhã, eu estava lá.

No pier da ribeira encontrei o Marcão: "- Acabei de voltar de lá. O  barco está seco!". Respirei aliviado. Mas a epopéia estava longe de terminar. De fato o barco estava seco. Mas as bombas funcionavam a cada um minuto e quarenta e cinco segundos. Isso era demais. Bateria alguma daria conta. Ainda havia algo de errado. Não era apenas a gaxeta. Havia um vazamento. A questão era: onde?

Tirei a roupa e iniciei os trabalhos. Comecei pelos porões. De onde vinha água? Basicamente havia filetes em todos os lugares! Fininhos, tênues, mas presentes. Qual era o veio?

Para resumir muito uma história longa, eu passei as vinte horas seguintes direto, sem dormir e praticamente sem comer. Desmontei o barco todo. Encontrei uma falha no calefeto e fiz o reparo com "tubolit mep 301" (cabe aqui um parênteses: devo muito à construção naval amadora nessas horas, pois eu aprendi a fazer muita coisa e a temer menos outras tantras). Encontrei um registro vazando. Consertei. Nisso as bombas pararam de vez. Queimaram. Ai meu saldo! Bobas de 2000 gph não são baratas. Nem seus automáticos. 

Doeu no bolso e na alma, mas troquei. Aproveitei e comi alguma coisa e tomei um banho, pois meu estado era lastimável. Eu sei que tem muitas moças que leem meu blog e eu sou grato por isso. Mas dessa vez uma concessão no meu palavreado deve ser feita: há muito tempo eu não me sentia tão fodido nessa vida! Perdão, mas não existe outra expressão. Sim, pois para completar, chovia e fazia frio, muito frio - e a besta aqui tinha apenas a roupa de tempo do veleiro, que eu não queria sujar de óleo!

No meio da tarde enviei um e-mail cancelando nossa participação na regata e avisando para que quem ainda não estivesse a caminho, ficasse em casa e curtisse um bom chocolate quente. Voltei para o barco ao meio dia e comecei a procurar, e procurar, e procurar. Nessa as bombas já funcionavam a cada dois minutos e quarenta segundos. Ainda muito!

No final da tarde chegaram o Walnei, o Luiz Malito e o André Scalon.

No sábado pela manhã, antes ainda das 7h00, eu escutei barulho de água. Levantei a tampa do paineiro e vi o que não queria. Muita água e a bateria número dois a zero. Ela não segurava mais a carga depois de ter ficado zerada na semana anterior, sabe-se lá por quanto tempo (ai meu saldo !). Ia começar tudo de novo. Acordei a todos ligando o motor.

Ao longo da manhã o André me ajudou muito: ele isolou compartimento por compartimento, em um trabalho de formiguinha, e foi jogando suco colorido para ver o caminho da água. Também confirmou que não havia vazamento pelas laterais. Quando o Cesar o Ricardo  chegaram para ajudar já estava mais ou menos claro que a água vinha de algum lugar embaixo do motor. Não era exatamente uma ótima notícia, pois não se tem acesso por dentro... cheguei até a procurar alguém para mergulhar com cilindro e tentar achar pelo lado de fora (os caras jogam leite na água: onde tiver falha na vedação, o leite entra e como é branco, dá para ver! Ai é só trabalhar com tubolit mep 301, coisa que todo barco, mesmo de fibra, deve ter). 

Enquanto o Marcos limpava o fundo e eu mergulhava para tentar achar a falha no calafeto (principal teoria),  o Cesar apertou (ainda mais do que eu havia apertado) a gaxeta. Nisso o André percebeu que as bombas eram acionadas apenas após cinco minutos e quarenta e um segundos. Um reloginho! Agradecido, dispensei  minha valente tripulação - para quem dizer obrigado, apenas, será sempre muito, mas muito pouco! - e me enfiei de novo lá atrás, para dar mais aperto na gaxeta. O intervalo subiu para nove minutos e cinquenta e três segundos. Restou mais ou menos óbvio que a gaxeta é parte na solução desse problema e que talvez não haja "fuio" algum. 

A entrada de água segue um padrão muito preciso e ritmado  compatível com o pinga a pinga da gaxeta., que também tem um ritmo prussiano. E a água da gaxeta vem, justamente, de debaixo do motor. Além disso, o barco está todo suado da inundação, o que significa que há ainda muita água para ser esgotada e que cada gotinha da gaxeta, na verdade precipita um monte de outras milhões de gotículas, em uma reação em cadeia. A diferença no tempo que cada aperto na gaxeta faz no acionamento das bombas é significativo demais pata ser aleatório.

Só que... no meio de toda essa complicação, recebi um SMS da Priscila: "Estou com a Alice no hospital, ela está mal". Liguei e ela estava fazendo um raio-x. Dez minutos depois, a bomba: "A médica acha que pode ser H1N1 e por protocolo ela já está tomando o Tamiflu. Vem para cá que eu estou sozinha e desesperada".

Putz... nessa hora tudo o que eu escrevi ai em cima virou a coisa mais sem importância do mundo. Catei meus cacarecos e agora estou aqui em casa, com as meninas. A Alice está sem febre (que estava na casa dos trinta e nove e meio), mas muito constipada. Mas já brinca e come, o que é bom sinal. Eu estou onde devia estar em uma situação dessas. 

Quanto ao Mala, as novas bombas estão funcionando e o Marcos vai lá todos os dias dar carga nas baterias. Será assim até eu ir lá novamente, com paineis solares e ainda essa semana, para reavaliar a situação e decidir o que vou fazer. O barco vai estar mais seco e se o intervalo entre os acionamentos das bombas tiver aumentado, minha teoria da madeira encharcada passará pelo crivo na navalha de Occam. Se houver "fuio", vou acabar subindo o Mala e já fazendo o fundo, pois já passou da hora. O gerente do meu banco é que terá uma síncope... Enquanto isso, cá estou com a espada de Dâmocles!

Ah, já ia me esquecendo: um "fuio" é um "buiaco na paiede", ou no "baco", como diria o menininho da anedota!

E vamos no baldinho mesmo!








quarta-feira, 8 de maio de 2013

Final de semana na Ribeira!

Boas!

No último final de semana aconteceu a regata de veleiros clássicos, etapa Angra dos Reis. Mas, para nós, ela não aconteceu. Para resumir bastante uma história longa, eu teria que estar em Santos na terça, às 8h00 e, depois, em São Paulo às 13h00, de preferência em estado apresentável - físico e mental. Mas (ah, as adversativas dessa vida...) a estadia gratuita para o Malagô em Mangaratiba (real local do evento e que fica bem mais para lá do que Angra) seria possível até, no máximo, segunda, dia 06. Já a estadia paga não era para nossos padrões sócio-econômicos-jurídicos-sociais-religiosos!

Eu não gosto de fazer travessias com o tempo tão apertado. Por isso, acabei desistindo, o que foi uma pena porque iria reunir muitos ex-alunos, hoje amigos, em uma festa bem bacana. Ainda assim  não me arrependi, pois se eu tivesse voltado, com tripulação reduzida, no domingo a noite teria encontrado uma bela entrada de frente fria com ventos entre 30 e até 50 (!) nós. Pior: ela estaria bem no meu nariz. Melhor assim.

O Roger (do Tiki Rio) esteve por lá e eu tomei a liberdade de furtar uma foto de seu álbum no Facebook!


Não houve regata, mas houve festa a bordo do velho Mala. E o que comemoramos? A vida! O simples fato de estar por estar. Chegamos na sexta um pouco antes de anoitecer. Procuramos nossos vizinhos do Gigante e descobrimos que eles foram convidados a se mudar para outra poita (apesar de terem comprado aquela). Coisas do Saco da Ribeira, faroeste caboclo... Não temos mais vizinhos presentes, até porque o Vivre está em reforma.


No sábado troquei a vela mestra. Nossa, que trabalho! A vela mestra pesa seguramente cinquenta quilos. Então foi um tal de tirar a vela "mais nova" do porta malas,  levar para o Malagô, tirar a vela velha, levar para o carro e subir a nova vela. 

Quando eu estava terminando o serviço meu fiel escudeiro Ricardo Stark pareceu com a Maria para fazermos aquele churrasco que ele disse que não poderia ir. Mas por sorte eles foram e para meu desespero  levaram até a carne (toda). E a cerveja. E o refrigerante. E o pão. E o salame. Que feio! Ficamos felizes, mas com vergonha do abuso! Desculpe, Ricardo!!!




As meninas passaram a tarde de sábado na praia. Não choveu, nem ventou. Então ficamos lai, exercitando o nadismo (a nobre arte de não fazer nada!). Para a Alice o dia foi bem agitado. Ela viu "tatauga", "péxe", "bubu", "piu piu" e "viva", que são os nomes não científicos do urubu, do socó e da água viva, nessa ordem. Sem golfinhos dessa vez...





No domingo foi a vez de recebermos nossos amigos Jose Carlos, Rosangela e o pequeno furacão Pedrinho.  Quem dá esse nome para um filho não pode esperar que ele seja quietinho, vamos combinar! Não sei porque, mas ele achou o capitão bravo, soube eu depois na cadeira de dentista do pai dele.

Dormimos no Malagô de domingo para segunda e enfrentamos, na poita, a tempestade. Apenas eu e a a Alice não passamos vergonha, pois as outras minhas duas tripulantes tremeram a noite toda (e não foi de frio). O bom de já ter pego coisa pior é que a gente eleva o patamar do limite para começar a sentir medo!

E vamos no pano mesmo!