quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Ano novo, vida nova e fim da viagem !

29 de dezembro de 2012. Fomos passear de jipe pela zona rural de Paraty, com suas estradinhas de terra e cachoeiras. Aliás, cabe aqui comentar que a cidade anda muito diferente, não necessariamente para a melhor. Os preços, que nunca foram dos mais amistosos, subiram demais e encontram discrepâncias inexplicáveis. Eu consegui, em menos de uma hora pagar R$ 2,50, depois R$ 3,00 e depois R$ 3,80 por uma simples latinha de coca-cola e em uma mesma avenida! Fora o a água de coco a R$ 6,00 a unidade que faria meu sogro gauchão puxar a faca da bota e matar um vivente! Além disso outra coisa nos incomodou. Ao mesmo passo que quase todas as lojas têm vagas de emprego, e deixam isso bem claro - as pousadas também - pela primeira vez vimos flanelinhas (nas imediações de Multimarket) e desocupados (mas com aquele jeitão de bandido) parados em algumas esquinas, esperando-se sabe-se lá pelo quê (mas não pareciam estar em fila de emprego). Não gostamos disso, pois até outro dia Paraty era bem mais tranquila. Enfim...

30 de dezembro de 2012. E por falar em vagabundos, mas de outro tipo - fomos justamente conhecer a tal prainha dos vagabundos, que fica logo ali, do lado da Marina do Engenho. Lá conhecemos o dono do Veleiro Atlantis, um arpège 30 azul que está há seis meses ancorado por lá, sem pagar marina nem pensão alimentícia para a ex (isso em tese, ok?). Dei até umas dicas para evitar a penhora das contas (em tese) e uma carona no botinho da praia até o barco. Na prainha, uma tanto suja, tem uma mangueira cuja água é bem boa (o Senhorzinho que mora no Atlantis está bebendo dela há seis meses e não morreu!), um tanque para lavar roupas e uma roça de feijão. Até falei para a Priscila: "- O que mais a gente quer para ser feliz?" Mas não colou... As meninas dormiram no final da tarde e aproveitamos para ir VELEJAR! Depois de muitos bordos para cá e para lá, vi lá longe um botinho muito parecido com o nosso. Tão parecido que ERA o nosso, que nem nosso era: o Cesar nos emprestou. Lá fomos nós treinar manobras de homem ao mar... deu certo.

Na volta para a marina, um DESASTRE! Consegui colocar o barco na vaga para abastecermos de água. Mas durante a manobra meus óculos caíram na água. E eu não vejo nada sem eles. Na verdade, brinco que sou um compêndio de oftalmologia: hipermetropia em um olho, miopia no outro, um estrabismo operado quatrocentas vezes e um belo astigmatismo. Sem óculos eu não sou ninguém e, mais do que isso, não vejo ninguém.Nem nada, a não ser de muito perto.

Bateu o desespero. As meninas nessa hora foram muito bacanas e compreensivas comigo (e com os vários tombos que eu levei dentro do barco) e eu agradeço muito à Pri e à Brida. Ela foram meus olhos e me guiaram para colocar, no escuro da noite, o barco de volta na poita (pois a ajuda do pessoal  da marina nessa hora foi pífia e a gente resolveu entre a gente mesmo). Traçamos mil planos e estratégias, pois sem óculos eu não posso dirigir e a Pri está com a habilitação em Lins (local incerto e não sabido). De barco também era complicado, em especial se houvesse necessidade de navegarmos a noite. Fui dormir muito preocupado.

31 de dezembro de 2012. Acordamos cedo e formos ao centro, em busca de uma ótica. Mais do que isso, se uma ótica aberta! Encontramos! A Cristal, perto da rodoviária.  Entramos contando uma triste história, mas mesmo com a maior boa vontade da dona minhas lentes são meio chatinhas de fazer e ela só conseguiria um óculos para mim no sábado! Gelei.Sábado eu já queria estar em casa.

Talvez comovida com nosso drama humano (rs), ela me convenceu a tentar usar lentes de contato. Resumindo muito uma história longa, sai da loja muito agradecido, com uma lente em apenas um olho, corrigindo 2,25 graus de miopia e enxergando bem o suficiente para fazer navegar e dirigir. Mas de preferência de dia!

Ficamos um pouco pela marina e comecei a trabalhar na derrota para a volta ao lar. Sairíamos dia 01 de janeiro para o o Pouso da Cajaíba e de lá, no dia, para casa. A Pri gosta d ver os fogos, então achei legal ficar em frente a cidade. Mas a ancoragem não estava lá essas coisas e resolvi tocar para a Ilha da Bexiga, onde rolava uma festa muito animada em uma escuna enorme que vive eternamente ancorada por lá. Algumas lanchas e alguns veleiros também foram para lá. Fizemos churrasco e esperamos o ano novo.

Só que... no barco a gente realmente inverte alguns hábitos. Acordamos muito cedo para nossos padrões e dormimos muito mais cedo do que estamos acostumados. Então, às dez da noite as meninas estavam na cabine de proa, desmaiadas. E eu aproveitando para consertar o CD player onde a Alice escondeu suas moedinhas (que ela troca por bolas numas maquininhas no centro. É ver uma moeda de um real e "a mina pira").

Às dez para meia noite eu tive uma ideia genial. Fui na cabine acordar a Pri, mas ela até roncava de tão profundo que estava o sono. Então eu pensei (afinal, por que homem casado resolve pensar?): "- Ela queria tanto abrir o espumante na virada... Putz! Vou abrir  para ela!". Peguei a garrafa na geladeira e fui para o convés, esperar os fogos. Na virada: plóft! A rolha saiu da garrafa e eu beberiquei um bocadinho. Mal sabia o que tinha feito... Meia noite e um uma escuna (outra, não a da mega festa) apitou forte. Em segundos lá vem a dona Patroa correndo, achando que um navio estava por nos abalroar. Quando a fera me viu com a garrafa deve ter visualizado umas duas loiras maravilhosas no meu colo, pois o pirajá que ela armou foi digno disso. Quem é casado conhece o discurso, pois elas são todas iguais nessas horas: "- Você é um egoísta! Por que não me esperou?" e aquele blá, blá, blá todo.  O salseiro foi tão grande que na manhã seguinte eu nem me senti tão culpado em ficar espiando, de leve, as mocinhas que faziam topless na lancha ao lado, pois já havia "apanhado" o suficiente!

01 de janeiro de 2013. Fomos para a praia do engenho e passamos o dia - lindo, de céu azul e sem nuvens - por lá. Mas não ventou e eu já sabia o que isso significava. Voltamos para a marina e passamos por um belo perrengue. Já na poita, ao desligar o motor a Priscila percebeu um barulho - forte - de água entrando no barco. Fui para a cabine e vi água entrando em jatos, próximo da escada de entrada. Abri a tampa do porão e levei um jato de água na cara. Salgada. As bombas não funcionavam. Enquanto tentava entender de onde vinha aquele aguaceiro, mandei as meninas chamarem o apoio da marina e sairem do barco. Daquele jeito ele iria para o fundo e se eu não conseguisse controlar o vazamento, ia soltar o Malagô da poita e encalha-lo. Foi tenso.

Pouco antes do apoio chegar matei a charada que quase me matou de susto: fui checar no painel elétrico se as bombas estavam ligadas. Estavam. Desliguei e a água parou. Pronto! Ia levar anos até o barco afundar: a bomba, na verdade, estava trabalhando o tempo todo. Só que parte da tubulação, que não estava presa com braçadeiras, se soltou. Nessa a água  ao invés de sair, voltava para o barco e o processo recomeçava. Ufa! Consertei tudo e tratei de colocar braçadeiras onde vi que precisava e aproveitei para dar uma revisada em tudo que foi registro.

Na madrugada a temperatura despencou quinze graus. Usamos até os sacos de dormir de tanto frio que fez. Entendi o recado. Ao invés de irmos para o Pouso da Cajaíba, começamos a empacotar as coisas e, no dia seguinte, depois uma viagem longa, muito longa (em que eu quase perdi o motor do jipe, pois um frentista em São Sebastião "esqueceu" de colocar a tampa do óleo de novo no lugar) ouvi a Alice dizer: "- Casa! Casa! Casa!

Já tivemos muitas "as melhores férias de nossas vidas". Dessa vez muitas vezes vezes nos pegamos pensando: "- Caraca, que vida boa a gente leva".  Esquecemos os zilhões de problemas que temos, conhecemos coisas novas, gente diferente e vivemos (não apenas sobrevivemos).

A primeira vez que vi o Malagô estava com nosso Rio 20, na Ilha da Cotia. Vi as filhas do Cesar brincando em volta do barco, cujas linhas sempre achei a coisa mais linda desse mundo e me lembro muito bem de ter pensado: "- Nossa, como deve ser bom ser milionário!". Mal sabia eu que eu já era rico, muito rico e  mal sei que hoje sou, sim, milionário. Mas sem um tostão no bolso!

E vamos no pano mesmo!

ET: não temos fotos pois entrou água no estanque e nossa querida Nikon faleceu.





13 comentários:

  1. Eita quanta a almirante resolve por os pingos nos Is é fogo, eu que o diga, e piora se você não dá razão para elas! Mas convenhamos, assim é perfeito né não?!

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    1. Ah, essas almirantas... nem vou falar nada! Bons ventos, Walnei!

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  2. Meus Amigos: discutir com a mulher, que normalmente já está de mau humor a bordo, se você empatar, já tá no lucro!!... num força a amizade!! rsrsrsrs

    ps.Li todas as postagens!! Muito legal!! Leitura obrigatória!! Parabéns pelo barco, blog, aventuras e desventuras.'Morri' de rir do guincho e dos óculos!! rsrsrsrsrs Podem ir pro blog do Vivre sobre as Cag$#&*das à bordo!! rsrsrsrs

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  3. Legal saber que vc está aproveitando o novo barco. Já estou com saudades do mar, bons ventos

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    1. Quando eu fico sem barco parece que estou sem roupa! Ficar sem carro é muito mais fácil. Quando quiser, já disse isso antes, o Mala é seu. Bons ventos!

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  4. Fala Juca! Caramba, quanta coisa nova pra ler! Cara, parabéns pelo barco novo. O que mais me impressiona nele é a capacidade de reunir a família! Desejo muito sucesso! Jefferson - Atoll 23 Goludo.

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    1. Jefferson! Não é apenas a família que ele reúne, mas os amigos tbm e quero vc nele em breve!

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  5. ötimo post, Juca! Essa viagem deve ter sido realmente maravilhosa. Um dia, espero que em breve, eu e o Marcello faremos a nossa.
    E você tem toda a razão, somos milionários por podermos realizar nossos sonhos junto daqueles que amamos.
    Abraços

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  6. Parabens Capitão!!!
    Tudo bem que é só um papelzinho... como vc diz, mas que delícia de papel e que bom saber que estamos "autorizados" a ir e vir com mais liberdade e mais capacidade.
    Não sei por você, mas eu aprendi muito nas aulas e estudando para a prova. Li o livro do Capitão Felipe quase todo.

    Bem, fica aqui minha alegria de te ver tão feliz e de compartilhar conosco estes lindo momentos.

    Até breve!!!

    Abs

    Paulo Ribeiro
    veleiro Bepaluhê

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    1. Grande Paulo!!!
      Eu li o livro do Capitão Felipe, além de muitas outras coisas, pois optei por ão fazer curso. Aprendi e me divertir muito. Meu ponto é que não adianta se fiar na carteira, tem que saber fazer - e carteira alguma é garantia disso, embora seja um bom indício! E quanto ao livro do Capitão Felipe, eu NÃO recomendo de modo algum: o mesmo texto e as mesmas ilustrações são obtidas no livro Navegação, A ciência e a Arte, do Minguens - só que esse vem de graça na internet, no site da Marinha. Acho que o Capitão Felipe deveria ter escrito um livro seu, não copiado algo que já existe - mesmo uma cópia autorizada. Conhecimento ele tem, por certo. Bons ventos!!!

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