quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Capitão?

Boas...

Isso pode soar estranho, mas  eu não ligo muito para os títulos e habilitações formais em navegação. Isso soa ainda mais estranho se for levada em conta minha formação profissional (na verdade, penso que a culpa é dela) e, mais estranho ainda diante do  fato de eu ter me tornado instrutor de vela. 

Comprei meu primeiro barco em 1996: um bote de alumínio de 3,3 metros, que fui buscar em uma favela no Guarujá no alto dos meus 17 anos, munido de R$ 350,00 que ganhei dando aulas de português, física e química - uma pequena fortuna! Depois do Aries tive tantos outros barcos que até já perdi a conta... Mas o primeiro veleiro, o Fraldinha (um HC 14 caindo aos pedaços - literalmente) veio em novembro de 2002, meu último ano de faculdade. E lá se vai uma década... 

Naveguei durante doze anos sem ser sequer arrais amador. Aposto que sabia mais sobre o RIPEAM do que muito navegador por ai, mas estava em situação irregular. Em 2009 fiz a prova. Um ano depois, em 2010, me tornei mestre. Minha primeira grande travessia velejando (pois de caiaque fiz coisas muito maiores) foi feita em um barco classificado para navegação interior e eu estava apenas com um protocolo de arrais (a carteira não tinha ficado pronta e o tal protocolo não valia no Rio de Janeiro, onde o Cusco Baldoso estava). Nas primeiras três horas de travessia estávamos na Ponta da Juatinga com mar relativamente grande, vento e ondas contra e tocados por um motor de popa Honda 7,5 HP, ano1984.  Eu tinha uma ideia do que fazer, do que não fazer (muito mais importante), tinha medo na medida do necessário (embora tenh sujado umas duas calças) e aos trancos e barrancos chegamos no canal de bertioga - viemos praticamente numa toada só, dois dias e duas noites. Já o motor, que funcionou bravamente durante todo o trajeto, faleceu!

O conhecimento não está na habilitação, mas na cachola. Mais importante que passar na prova, ou até mesmo do que ter feito a prova, é dominar o conhecimento das regras e procedimentos para estar no mar, para ir só até ali e voltar. Ora, uma coisa não leva a outra? Não sei e nunca dei muita bola para isso e nesse ponto não sou exemplo para ninguém.

No último dia 16 de outubro eu e outras cinquenta pessoas fizemos a prova para capitão amador aqui em Santos. Apenas uma menina... Para mim já ouço o barulho da bomba se aproximando. Mas, sinceramente, a verdadeira prova está lá fora: é sair e chegar, é ir até ali e voltar.

A pilha de problemas que o Jefferson me passou anda sendo "desmanchada". Viajo na média de um livro a cada dois dias. Hoje me despedi de Beto Pandiani e de seu "O mar é minha terra". Mas o preferido sempre é "Do Rio à Polinésia", do Cabinho, que visito aos poucos entre um e outro título. 

Hoje à noite, na página oito, leio:

"Há bem pouco tempo, eu estava numa sala na Capitania dos Portos, tendo á minha frente um entediado oficial da Marinha com uma imensa pilha de papéis para assinar e, simultaneamente,  me examinando para uma carta de capitão-amador.

Pediu-me que escolhesse um papelzinho dobrado, assim sorteando um ponto.

Era um problema de cálculo da hora local do crepúsculo partindo de uma hora dada num relógio de antepara.

Lembrei-me então do descomplicado Sea Bird, barco de minha viagem, onde meu velho e imenso relógio de antepara marcava solenemente, embora de forma não muito precisa, a hora de Greenwich.

Essa é fácil, pensei então. Enquanto meu examinador mergulhava em seu mar de processos, rapidamente resolvi meu problema e o entreguei. 

Ele olhou de relance e falou:

- Vê-se que o Senhor não tem a menor ideia do que seja navegação astronômica. Então não sabe que um relógio de antepara marca a hora civil?

Eu não sabia.

Tentei me consolar pensado que se tivesse levado muito a sério o assunto, talvez pudesse estar como ele, naquela sombria sala com todos aqueles papéis para assinar, mas na verdade lembrei-me de que já havia levado pau no exame escrito por não ter podido usar a tábua 249, a única que eu conhecia. Em fração de segundo, recordei-me de minha passagem por Tuamotus, aquele verdadeiro pente de pegar iates no meio do Pacífico, onde um erro de umas poucas milhas na navegação astronômica significa naufrágio certo, e arrisquei um comentário irônico.

- Curioso - disse -, velejei umas 15 mil milhas num veleiro menor do que sua sala em dois oceanos e não costumava ter problemas.

- E como o Senhor navegava?

- Pelo voo das aves e pela direção do borrifo na crista das ondas.

O Comandante me olhou atravessado e despediu-se secamente".


Pois é, no meu caso "só" faltaram as 15 mil milhas para a saída ser tão honrosa...

E vamos no pano mesmo!


2 comentários:

  1. Tambem fiz...resultados só dia 18/12 !!!

    Foi sinistra a prova, muito dificil, fiz em 3:30.

    Estudei 3 meses com o Cmte Jaime Felipe e fui bem preparado, mas mesmo assim foi muito mais dificil do que as provas de 2010 e 2011 que fiz no simulado. Espero passar.

    Abçs

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    1. Roger, eu achei navegação astronômica fácil e o resto muito difícil. E olha que o pouco que eu estudei foi sobre a parte difícil, kkkk! Não tenho dúvidas de que vc passou! Bons ventos!

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