domingo, 2 de setembro de 2012

Motor ao mar!

Boas!

Esse final de semana começou muito, mas muito bem. Sexta o Cusco voltou para a água e sábado e domingo ia ter velejada (aulas para um casal  muito bacana, o Wander e a Cristiane, de São Paulo). Mas... eu sou mesmo uma besta. Uma besta completa. Acho que fiquei com inveja do Walnei, do veleiro Vivre (um exímio especialista em criar perrengues) e decidi aprontar uma boa, mas uma muito boa mesmo.

Mais um casal a bordo do Cusco: o Wander e a Cristiane. Lá na marina já estão chamando o Baldoso  de "O barco do amor"  e dizendo que o Cusco tem três velas: a genoa, a mestra e EU!
O sábado foi bacana e deu tudo certo. Depois das várias explicações sobre o barco, o vento e o velejar, saímos em direção à boca do canal. Maré de lua cheia, um verdadeiro "rio amazonas". Mas o Cusco com o "bumbum lisinho" enfrentava a corrente a inéditos seis nós! Eu estava no céu vendo o barquinho andar daquele jeito. Depois de muita insistência o Pirulão, o marinheiro, me convenceu a usar seu  Sailor 5 hp (quatro tempos), porque era rabeta longa, porque o 3,3 era muito fraco e a mesma lenga lenga de sempre.   Eu  confio muito no mercuryzinho, mas no Sailor...  Enfim, velejamos bastante pelo canal (que a favor da corrente nos levou a picos de 7,4 nós) e o dia acabou sem maiores problemas, depois de onze milhas e meia sem nenhum encalhe no traiçoeiro canalzinho e muitos bordos para lá e para cá. Praticamente nem usamos o motor.

O canal de Bertioga, a altura do Caruara.


No domingo eles fariam o módulo 2 do curso e estava previsto um afastamento da costa de sete milhas, rumo ao Montão de Trigo. Mas o gigante que eu vi entrando no Porto de Santos era um sinal do tamanho do problema que estava por vir...

Esse pequeno ai trouxe esses portaineres (guindastes para o descarregamento e carregamento de conteineres, em navios) lá da China.


Ao chegar no Chinen o Sailor já estava lá, no suporte... fiz muxoxo, mas deixei ele lá.

Saímos as onze da manhã. Antes, eu revisei tudo no barco, de forma meticulosa. Menos uma coisa, que eu vi que estava errada mas deixei para lá. E é sempre assim, não é? O que nos pega de jeito não é o que a gente fez ou trouxe, mas o que esquecemos de fazer ou não trouxemos. Eu cheguei a pensar nisso explicitamente. 

Puxei a cordinha e ele pegou de primeira. Soltamos o barco da poita e estabelecemos velocidade de cruzeiro de 4,5 nós contra a corrente em direção ao mar, com o motor na rotação próxima (muito próxima) do mínimo. Eu pensei: "O 3,3 fazia a mesma coisa!". Deixei o leme com o Wander (que é mestre amador) e fui para dentro da cabine arrumar umas coisas.

Depois de meia hora de navegação e pouco depois de passarmos a balsa Guarujá-Bertioga, ouvimos um "créc".

Pois é... o suporte do motor estourou e o Sailor 5 HP zero quilometro foi conhecer o fundo lamacento do canal de Bertioga (nessa hora o Stark, que com certeza está lendo isso, sentiu um frio na espinha ao lembrar que seu mercury de 15 já passeou de Cusco). 

Apesar da cara de espanto geral e daquele sentimento de "e agora?", foi bacana ver o entrosamento da recém conhecida tripulação. Eu apenas disse: "- Abortar" e imediatamente o Wander fez meia volta, abrimos a genoa (graças a Deus o vento estava a favor), subimos a mestra e tomamos o caminho da roça. Cada um de nós fez alguma coisa nesse processo, sem eu ter que dizer nada (o que me deixou com certo orgulho, pois no dia anterior o leme era praticamente um ilustre desconhecido).  Mais uma vez, fomos "no pano mesmo".

Velejando eu já perdi mastro (três vezes), leme (duas)... mas motor de popa para Netuno, essa foi a primeira. Espero que seja a última.

O maior erro pode ter sido não ter amarrado o motor de popa.  Quem colocou o motor no suporte foi o Pirulão, que não o amarrou. Culpa dele? De jeito nenhum. A culpa foi apenas minha, que percebi essa falha e não a corrigi, nem mesmo durante a tal da meticulosa verificação pré-saída. Um absurdo completo.

O excesso de confiança nos faz cometer erros bobos. Mas o mar não perdoa essas escorregadelas. 

Não reclamo do que ocorreu pois poderia ter sido muito pior. Poderia ter acontecido bem na estreita e congestionada barra (estávamos a menos de quinhentos metros); poderia ter acontecido lá fora, o que tornaria a entrada no canal muito complicada, pois a maré estaria contra até tarde da noite; poderia ter acontecido na entrada da barra, na volta, com vento contra e mar de popa; poderia um monte de coisas...  Mas graças a Deus (ele de novo) no final ninguém se machucou e o curso acabou ganhando um módulo novo (e único, espero eu) : "gerenciamento de emergências"!

Ah, Walnei: não fique com inveja e trate de amarrar sempre seu motor de popa com um cabo e checar o estado do seu suporte, sempre, ok?!

E vamos no pano mesmo (literalmente!).






8 comentários:

  1. Juca, acontece! Eu já encalhei uma vez, de um trabalho danado... já tive um Sailor (é uma M%&$#@!), você acabou fazendo um favor para o seu amigo. Meu motor de popa dorme no meu barco, só coloco uma capa nele e tenho o cuidado de ligar toda semana.

    Parabéns pelo post! Mais uma lição aprendida e compartilhada :)

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  2. Matheus! Um dos objetivos desse blog é eu fazer primeiro para quem o lê poder fazer - ou não fazer - depois! "Todos os meus movimentos são friamente calculados!" Bons ventos e obrigado por sua amizade, sempre presente.

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  3. Juca: Ao ler seu relato, confesso que senti mesmo um 'friozinho' mas não foi na espinha não...rsrsrsrsrsr, contudo me parece (nas fotos) que você mudou o suporte do motor desde que viemos de Paraty com o Cusco e meu motorzinho de 38 Kg, não é?? De toda forma, fica aí mais uma lição, 'doloro$a' é verdade, e que o Walnei do Vivre deve estar pensando: 'essa eu não fiz ainda'...rsrsrsrs e como diz o Matheus: 'shit happens...

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  4. Pois é Ricardo! Eu tive que "adaptar" o suporte para um motor rabeta curta, mais baixo. Ai fi uma peça em madeira + resina epoxy e sem nenhum parafuso. Era provisório, mas nada mais definitivo que as coisas provisórias. O 3.3, leve e com pouco torque, não foi sufieinte para estressar a cola, mas um 4 tempos, de 30 kilos e com mais potência, deu conta do recado... enfim, bola para frente!

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  5. Eita Juca, que M...

    Deve ter sido uma cena surreal!! Ver o motor afundando assim, do nada...
    Bem, agora aprendemos, e lembrem-se todos que isto tb pode ocorrer com o motor no bote, então vamos tratar de fixar bem o motor e ter sempre um cabinho, não o projetista, prendendo o motor.

    Obrigado pelos ensinamento, mas prefiro que eles continuem ocorrendo sem esta sensação tão realista, e sem perdas físicas ou monetárias.

    Abs
    Paulo Ribeiro
    Bepaluhê

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    1. Pois é, Paulo! Muito bem lembrado: nos botes de apoio em geral existe uma alça justamente para isso, é bom não esquecer. Pelo que tenho visto em especial nos comentários do face, o motor cair na água não é tão incomum assim!

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  6. É Juca, como é bom aprender certas lições só na teoria, quando comprei o vivre a primeira coisa que o Fernando (ex dono) me ensinou foi amarrar o motor, tem um cabinho lá só para isso... Quando li confesso que me bateu uma sensação ruim também, ver o motor indo embora sem poder fazer nada, deve ser dolorido heim.... CREDO!!!!!!!!!!! Bons Ventos...

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    1. É isso ai, Walnei! Aprender com o erro dos outros é muito melhor!Ah, desculpe pelas brincadeiras contigo, mas nesse mundinho da vela rir das tragicomédias faz parte da brincadeira!!! A propósito, o Fernando, atual Acrux, foi meu vizinho por uns dias lá em Paraty - Pier 46. Mundo muito pequeno esse nosso...

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