Boas...
Há uns dois ou três anos um amigo me perguntou: "- O que é preciso para eu ter um barco". Respondi de bate e pronto: "-Dinheiro". Minha resposta foi tão grosseira quanto equivocada. A grosseria ele nem percebeu, pois já estava muito embriagado (talvez esta tenha sido a razão da minha má criação, pois para quem não bebe aturar bêbado não é fácil!). Mas o equívoco ficou, pois ele não comprou um barco.
Na verdade, a parte do dinheiro para comprar é a mais fácil de todas. A dificuldade está em manter. O maior entrave na disseminação de barcos não está na falta de cultura náutica do brasileiro, povo que não raramente se diz estar de costas para o mar. Não é isso o que eu percebo aqui no blog. Tem muita gente olhando para o mar, sim; muitos têm o desejo de descobrir o que é ter uma lancha, um veleiro, ou até mesmo uma canoazinha alada.
Onde está o maior problema, então?
Na minha opinião está na guardaria. Depois de comprar, onde guardar? Marinas, com "m" maiúsculo, onde se possa guardar o barco, subi-lo uma vez por ano, fazer uma refeição decente com sua família e abastecer com combustível não adulterado e não ser assediado por marinheiros oportunistas (só para citar o básico) o Brasil tem uma meia dúzia. Acessíveis a qualquer pessoa da média classe, duvido que mais do que uma (que eu nem sei qual é...).
Em Santos nos últimos dez anos ocorreu um fenômeno interessante. Estando por aqui em um dia de sol, vá até a mureta da Ponta da Praia. Duvido que em uma hora você conte menos do que vinte canoas e caiaques, indo para lá e para cá. Sempre foi assim? Não.
Quando eu e o Chico remávamos de madrugada éramos apenas nós e os pescadores. Um ou outro remador também passava de tempos em tempos (competidores, na essência) e alunos de projetos sociais que pecavam pela descontinuidade.
Foi então que um fabricante montou uma guardaria decente, com fácil acesso ao mar e a um preço razoável. Tempos depois a Prefeitura investiu na rampa: instalou um chuveirinho com água doce e a mantém limpa e conservada (ou seja, nada de mais). Pronto. Novos fabricantes de caiaques e canoas surgiram. Novas guardarias também. E é difícil um dia da semana - mesmo no inverno - em que não haja alguém dando uma simples remadinha. Gente de todas as idades. Todos potenciais proprietários de barcos maiores, todos consumidores de produtos e serviços náuticos.
Se animou? Então tente montar uma marina ou uma garagem náutica que seja... Duvido que consiga. São tantas autorizações, papéis, laudos, e tudo de novo e de novo que é simplesmente inviável. Ser um país desenvolvido envolve muito mais coisas do que emprestar dinheiro ao FMI, ter comida na mesa quatro vezes ao dia e uma TV LCD 42 polegadas na sala. É preciso que toda uma cultura de "não poder", de criar a dificuldade para depois vender a facilidade seja extirpada da sociedade.
No caso das marinas, em específico, isso talvez mude quando alguém perceber que o meio ambiente preservado pode ser um bem de consumo e que conservar não significa pura e simplesmente não tocar, não estar lá, não ver...
E vamos que vamos!
boa Matéria!
ResponderEliminarJuca, concordo plenamente contigo! O problema não é ter é manter. E quanto maior a nau, maior a tormenta ($$$).
ResponderEliminarMas essa burocracia é geral, para qualquer tipo de empreendimento ou empresa. Concordo contigo no quesito dinheiro, mas nós não temos a cultura do barco no Brasil.
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