segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Paraty com vento...

Boas!

No começo desse ano recebi um e-mail do Rafael, querendo fazer aula de vela na primeira turma do ano, em 29 de janeiro. Para sorte dele ainda havia uma vaga e depois de três dias a bordo ele completou, com louvor, o curso básico de vela oceânica.  Nessa mesma época eu abri o CCB - Clube Cusco Baldoso. Destinado aos nossos ex-alunos, ao custo de uma pequena  mensalidade pode-se usar um veleiro com outros alunos sábados ou domingos, na base Santos. O Rafael foi o sócio número um, seja porque foi o primeiro a aderir, seja porque usou todos os dias que pôde - e bem usado. 

O Capitão Rafael

Em junho desse ano ele já se sentiu seguro para seguir seu próprio rumo e, com o apoio da família (a esposa Leila e o filho Jorge, que embarcaram de cabeça)  comprou seu próprio veleiro, um Brasília 32, em Paraty.

Desde que ele comprou o barco eu lhe devia uma visita. Mas veleiros e agendas são coisas difíceis de conciliar. Nesse último feriado, porém, deu certo e na quinta de manhã (depois de uma aventura com a Gabriela no centro de Paraty na noite anterior - essa eu conto outro dia) lá estava eu na popa do Oré Igarité ("Nosso barco", em tupi) de mala e cuia.

Que grata surpresa!

Saímos da marina e menos de cinco minutos  depois já estávamos com o  motor desligado. Vento em Paraty! O que poderia ser melhor?

O Rafael e a Leila estão levantando o barquinho, que já conta com velas novas. Fiquei impressionado com o quanto o barco é equilibrado. Boa velocidade, leme dócil, espaço interno muito bem distribuído e suficiente para um casal ir para qualquer lugar do mundo. Pretendo olhar com mais carinho o Brasilia 32, devo admitir, já com segundas intenções...

Brasilia 32, um belo barco!

Velejamos até a Ilha do Cedro, onde em 2013 eu passei o Natal ancorado a bordo do Malagô. Gosto muito dessa região de Paraty, pois a visão que se tem do continente (praias de São Gonçalo, São Roque, etc...) é a mesma, ainda hoje, que os descobridores portugueses tiveram quinhentos anos atrás.

Vamos no pano mesmo!

Não ficamos no Cedro. A ancoragem estava cheia e a vontade de velejar era grande - ainda mais havendo vento! Seguimos para a Ilha da Cotia, passando por dentro das lajes rasa e funda (eu sempre passo por fora). Chegamos na "enseada da paz celestial" no final do dia, ainda com luz. Ancoramos "na vela", pois o motor ferveu logo após o ligarmos para a manobra.

Paraty com vento e velas rizadas!


A Ilha da Cotia...

No dia seguinte seguimos para o Saco do Mamanguá, no pano mesmo. Ancoramos lá no fundo do saco, fazendo a manobra novamente na vela, e almoçamos. A Leila fez refeições "padrão daquele nosso amigo", não posso deixar de registrar aqui. Depois de uma certa preguiça, levantamos as velas e tocamos para a Cajaíba, lá para os lados da Joatinga, onde passamos a noite.

Soneca no Mamanguá...

De madrugada entrou um SW de vinte nós, fazendo os estais zunirem. Eu e o Rafael monitoramos a ancoragem durante toda a noite, sob um céu estrelado, uma lua de sangue e  o cabo da âncora reluzente pela ardência. Fazer pipi na proa na alta madrugada é quase psicodélico!

Às cinco da manhã seguimos à moda do Spinelli (ou seja, velejando a um nó, na calmaria). O rotor do motor havia queimado e a troca estava um pouco mais complicada do que de costume. Logo desistimos desse tal de motor e continuamos como nos dias anteriores, aproveitando cada brisinha para voltar para a marina.

Leila, a Capitã!

Um pouco mais de 14h o Rafael pôs o barco na vaga da marina, na vela. Eu não falei nada, mas encheu o peito de orgulho. Os "andadores de veleiro" de hoje em dia teriam ficado em pânico quando não se pôde mais contar com o motor ou quando uma ou outra coisinha deu pau aqui e ali. Mas o Rafael, a Leila e o Jorge não. Fizeram como os velejadores de verdade fazem: se adaptaram a cada entrave e seguiram curtindo o passeio, milha a milha, com leveza e alegria.


Agradeço aos três pela acolhida generosa. Muito. Há tempos não passava momentos tão bons no mar e esses dias me ajudaram a lembrar para que serve tudo isso. O melhor da vela são as pessoas que ela nos traz.

E a cara de vagabundo do mar vem chegando para ficar...

Cheguei em Santos no sábado a noite, já tarde e no domingo, fui trabalhar, pois ninguém é de ferro. Sai com sócios do CCB num dia de chuva e céu escuro. Lá na baia de Santos, outra surpresa boa: o Rogério (outro amigo da Cusco Baldoso) estava para lá e para cá sozinho em seu Skipper 21, dominando uma bonita gennaker. E aos poucos vamos espalhando velejadores (de verdade!) por essas águas.



E vamos no pano mesmo!

1 comentário:

  1. Belo relato, estou a entrando no do da vela desde janeiro deste ano, com minha esposa e filha, passamos por apuros em uma primeira velejada e ao contrário do esperado após essa dura experiência abordo de um Oday23, nos apaixonamos pela vida na Vela. Estamos a busca de um local seguro para aprimorar conhecimentos.

    ResponderEliminar