quarta-feira, 20 de julho de 2016

De Santos à Vitória

Boas!

Dessa vez participei (e ainda estou participando) de uma travessia oceânica de uma forma diferente. Sou o apoio logísitco. Isso signinifca que ao invés de ter saído de Santos no último domingo, 17/07, a bordo do veleiro Fratelli com destino ao Recife, fico de olho na tela do computador avaliando o progresso da tripulação e a evolução da previsão do tempo. Não é a mesma coisa que estar lá, confesso, mas sei o quanto é importante para quem está no mar saber que há alguém em terra que forneça informações, resolva pequenos problemas buricráticos e, também, fale sempre com as famílias.

Além disso aprendi muito ao longo da preparação para essa jornada, que vai muito além de ir só até ali e voltar. O Marcelo é muito criterioso e perfecionista  e não se conforma com respostas superficiais.

A bordo do Fratelli está o capitão, Marcelo Damini, nosso amigo e aluno Vitor Young (que foi e voltou de Buenos Aires com o Spinelli), o Milton e o Sr. Gerson. 

O Fratelli é um veleiro Delta 36, equipado com balsa salva vidas, Epirb, AIS (com transponder), radar, telefone por satélite e tudo o mais que possa garantir segurança e conforto para a tripulação. O veleiro deixou o cais do Clube Internacional de Regatas, em Guarujá,  às 04h10. O mar estava ressacado, com ondas de SW de mais de dois metros e ventos acima de quinze nós.

Por volta de 15h00 de domingo fiz contato com eles a partir do Malagô, que está no Saco da Ribeira. O Fratelli passava ao largo da Ilha da Vitória e nos copiou bem. A partir de então eu entro em contato com eles duas vezes ao dia pelo telefone via satélite.

A primeira dúvida era se eles parariam ou não em Cabo Frio. Isso dependeria do progresso da frente fria, necessária para vencer o desafio seguinte, o Cabo de São Tomé. Por sorte o mar estava revolto, mas ia na direção certa e os ventos também (tanto que o motor quase não foi utilizado). O Cabo Frio foi montado por volta de 21h00 do dia 18/07 e como as condições eram boas para isso, o Fratelli seguiu direto para Vitória. A tripulação navegou a uma média de trinta milhas da costa, tendo vencido o São Tomé às 09h00 do dia 19/07. A chegada no Iate Clube do Espírito Santo, em Vitória, ocorreu  à 01h10 do dia 20/07. Foram cerca de 450 milhas náuticas em cerca de 70 horas , o que dá uma média acima de seis nós, a maior parte na vela e com vento de popa e alheta.

A próxima perna agora deve ser Vitória - Salvador e a previsão de partida é no próximo dia 22.

E vamos no pano mesmo!

Galeria:



Sr. Gerson


Marcelo, o capitão!

Sr. Gerson e Milton

Sr. Gerson e Vitor


O Fratelli em Vitória.

terça-feira, 12 de julho de 2016

De Santos à Ubatuba

Boas!

Na quinta-feira, 07/07, reuni os amigos Cassio, Jefferson, Marcelo, Eduardo e Thiago a bordo do Malagô e terminamos os preparativos para mais uma travessia. Fazia tempo que o "Velho Mala" não se fazia ao mar e era chegada a hora, mais uma vez. Eu já vinha preparando o barco há uma semana e a tensão da partida dava lugar a ansiedade de sair logo. 

A previsão do tempo não era das melhores.   Na ida teríamos com sorte algum vento do SE,  a tarde e a Marinha a todo instante emitia avisos de ressaca que o App Gajeiro sempre nos informava. Ondas de três metros, com período longo. Isso significava que além de altas, as marolas (sem vento essas ondas não chegam a quebrar) viriam com bastante força/energia.

Soltamos as amarras do cais às 05h05. O trecho mais complicado foi a navegação até a Ilha da Moela. Optei por não subir a mestra antes do sol nascer e o equilíbrio do barco ficou prejudicado diante das montanhas de água que surgiram na nossa proa. Levamos absurdas duas horas para passar a Moela, por dentro. O mar, então, baixou e conseguimos um avanço melhor. Vento zero, motor ligado, mestra em cima.

Deixando o CIR...

Guarujá, ao amanhecer do dia 08/07
Um pouco depois da Moela encontramos mais três veleiros. Dois que eu não pude identificar e o terceiro, o Panda, do Ronei e do Antonio, lá do Clube. Trocamos insultos gentis e cada um seguiu seu rumo em direção à Ilhabela. O mar vinha de través e balançava bastante, mas conseguimos ter uma vida mais ou menos normal para essa situação, com direito a petiscos e estrogonofe de almoço. Com a mestra em cima o balanço era atenuado. 

Passamos o Montão de Trigo pouco depois do meio dia, por fora cerca de quatro milhas. Às 14h00 o vento SE entrou. Abrimos a genoa, desligamos o motor e velejamos até a entrada do canal. A velocidade média despencou, mas o prazer subiu de forma inversa e proporcional. Céu azul e limpo, ondas de través enchendo o saco. Ainda assim é melhor do que trabalhar.Chegamos na Ilhabela às 16h00. Foi ai que veio o pequeno problema. Pedaços de madeira cairam no convés, vindas do alto do mastro. Como o mastro é de madeira, essa visão é um tanto assustadora. Fui com o Cassio até o pé do mastro e entendemos o que havia acontecido. A ressaca, de través, jogava a retranca com muita força para BB. Depois de tanta porrada, após onze horas de travessia, o trilho que segura os carrinhos voou pelos ares.

Orça folgada...

... na direção...

.. da tão desejada...

... Ilhabela.
A primeira preocupação era: vai descer? Desceu. Ufa! E até que deu pouco trabalho. Ligamos o motor, enrolamos a genoa. Nessa mesma hora a ressaca entrou com tudo no canal. "- Ué, mas não tinha passado?". O mais legal disso, porém, foi ver o malabarismo do Thiago tentando se limpar após ir ao banheiro e sendo jogado para todos os lados do barco, ao mesmo tempo que tentava desviar das coisas que voavam em sua dieração!
O trilho por onde a mestra sobre, no lugar errado: fora do mastro!
Seguimos para o Saco da Capela, tendo como azimute o Cisne Branco iluminado como uma árvore de Natal - coisa linda. Ancoramos na Vila às19h00 e colocamos o barco em ordem. O plano era domir ali e seguir no dia seguinte ou no domingo para Ubatuba. No sábado estava prevista uma lestada de 15 nós, que arrefeceria no domingo. A tripulação já se preparava para curtir  a Ilha (lá tem cerveja!) quando o Capitão mala aqui resolveu fazer algumas ponderações: estávamos só de genoa e motor. E em motor em não confio. Além disso, num vento contra e com a maré contra do canal o Malagô iria a apenas uns 3 nós. Ou seja, seriam dez horas até o Saco, em um sofrimento danado. Se fossemos direto para o Saco, porém, o mar ainda estaria ressacado, mas faríamos o caminho em quatro horas...

O Cisne Branco na noite da Ilhabela.
Pois é. Jantamos carne assada com arroz e farofa, levantamos a âncora e seguimos para o Saco. Nada de cerveja. Incrivelmente o pessoal não fez motim e ainda tocou o barco um tempão para eu dormir um pouco. O mais legal da vela são as pessoas! 

Noite sem lua, passamos por fora da Ilha do Mar Virado e à 01h00 chegamos no Saco da Ribeira. Minha poita estava com o barco do Luiz, então ancoramos. Joguei o ferro perto demais. Refizemos a manobra e enfim, dormimos. Na manhã seguinte os tripulantes voltariam para suas casas e minhas meninas chegariam de Santos de carro. Mas essa já é outra história...

Números sofridos.




Lixo de apenas dois dias!

Cabine limpa, pronta para receber as meninas!
Agradeço aqui minha tripulação, que tornou essa travessia algo bastante divertido!

E vamos no pano mesmo!