domingo, 29 de setembro de 2013

Doce de esper(m)a...

Boas!

Dia desses - já faz tempo, admito - eu estava em um catamarã (no pano e no motor), enfrentando ondas grandes e muito vento. A Ilha de São Luis (MA) ia ficando pequena e as reentrâncias maranhenses começavam a surgir no horizonte: Alcântara na proa.

O Pelourinho de Alcântara -MA
Desembarquei e fui fazer o que todo turista faz: andei para lá e para cá, tirei milhões de fotografias e comi bem, muito bem. Sempre de olho no relógio: por aquelas bandas todos seguem o ritimo da maré e depois que ela baixa, não tem choro nem vela: o retorno é apenas no ciclo seguinte. 

O lugar parece que parou no tempo.  Já foi muito próspero e a Festa do Divino faz lembrar disso. Lembra, também, que o Brasil apesar de imenso tem seus laços de unidade, pois a mesma festa é cultivada em vários outros lugares, como em minha amada Paraty (RJ) ou em Santo Amaro da  Imperatriz (SC), onde encontrei minha amada Priscila.

Perambulando entre uma viela de casarões históricos e outra, me deparei com uma pequena venda, típica do nordeste.Na tabuleta estava escrito: "Doce de esperma".

Curioso, tive de ir investigar melhor. Fui recebido por uma menina de no máximo onze anos. Pele morena, cabelos crespos na altura dos ombros, olhos grandes e uma camiseta cor de rosa provavelmente ganha no verão passado.

- Menina -perguntei eu - vocês vendem esse doce mesmo?
- Sim - respondeu ela - custa três reais.

Ainda incoformado, pedi mais informações sobre a "receita", sendo surpreendido pela inocência da garota:

- É isso mesmo, moço! É meu pai mesmo quem faz!
- E ele faz sozinho? -perguntei, quando devia ter ficado calado.
- Sim, sozinho. Sai quentinho! Quer provar?

Claro que nessa hora eu imaginei um baita negão saindo de dentro do cômodo que dava para a parte de dentro da venda (imagino ser a sala da casa deles) e começando a "preparar o doce" para o turista incauto. Antes que eu pudesse recusar ela me entregou um pedacinho do tal doce que estava dentro de uma caixa de virdo, embrulhado em um guardanapo. Era amarelo, redondinho e tinha côco. Não tinha rabo, que "devia ter se perdido no processo de feitura" - pensei. 

Eu não poderia ficar com nojinho diante de uma garotinha, ainda mais quando ela me assegurava que o doce era uma delícia e que comia sempre ("e até veio dele", pensei eu). Fui macho e provei!

E não é que era bem gostosinho?!

- Esse doce tem esse nome, moço, porque as mulheres o usa para matar as saudades do marido, quando ele viaja, sabe?

Gelei. Mas não ia deixar minha masculinadade bandeirante ir ladeira a baixo, ainda mais diante de tão destemida garotinha! Como é dura (sem trrocadilhos) a vida nesse alto nordeste, não?

Fui mais macho ainda e comprei um pacotinho. Devo confessar que apesar da estranheza inicial, o doce era sim bem gostoso. Dei adeus com mais uma história para contar. 

Já no catamarã, com destino à Ponta da Areia, abri o pacotinho e li, no rótulo improvisado, o nome do doce em letras de forma : DOCE DE ESPERA! 

E-S-P-E-R-A!

Ufa, mas que alívio!!! Fui traído pela caligrafia (mal) manuscrita da plaqueta: o que parcia ser um "r" e um "m", era na verdade apenas um "r". Imediatamente me veio à mente a história de outro doce, o "Espera marido", que comi em Vitória (ES). Mas essa fica para outro dia... 



E vamos de "espeRa" mesmo!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Arvoredos e Palestra da ABVC Santos

Boas!

Sábado de sol e céu azul. Dia perfeito para velejar, não? Ainda mais após alguns diás de chuva e vento frio!
Não, nem sempre é assim - ainda mais em setembro. No último sábado, dia 21, houve a tradicional Regata de Arvoredos, organizada pelo Iate Clube de Santos. Como de costume foi uma regata "oito ou oitenta": Começou sem vento algum - o que provocou muitas desistências - e terminou com ventos de 42 nós constantes. Eu estava em meu sofá quando a ventania entrou e na hora pensei no pessoal que estava no mar. Não foi sem razão: a coisa ficou complicada, apesar do sol e do céu azul.

Alguns veleiros tentaram voltar para a baía de Santos; outros correram com o tempo e se abrigaram em Bertioga.  Houve velas rasgadas, pane seca, motor quebrado, encalhe e mastro caído (uma cena sempre triste de se ver).



Minha experiência com Arvoredos nunca foi das melhores. Uma vez a fizemos sem problema algum. Em outra, o Meltemi quis subir na Ilha, quando o enrolador falhou. Ano passado, dia 29 de setembro, eu levei a fatídica retrancada. Talvez por isso nem me animei em inscrever o Malagô esse ano. Apenas talvez.

De todas as histórias e estórias que ouvi sobre a regata desse ano, a mais legal foi a do Jefferson Neitzke: no meio da pauleira, ele desligou o motor (para não sofrer pane seca), rizou a genoa, rizou a mestra e conseguiu chegar são e salvo, navegando em solitário - e no pano mesmo - no valente  Atoll 23 Goludo! Parabéns!!!

Já no domingo, a ABVC SANTOS realizou duas palestras na sede náutica do Clube Internacional de Regatas. A primeira, sobre os próximos eventos na região (Encontro das Ilhas e Cruzeiro do Varadouro) proferida pelo VP da entidade, Volnys Bernal e a segunda sobre pintura de obras vivas e obras mortas, proferida por Raymond Grantham. O evento foi muito bem organizado e trouxe muitas informações úteis. Oxalá outras ações desse tipo se repitam por aqui!

E vamos no pano mesmo!





sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Manutenções...

Boas!

Hoje, sexta-feira treze, foi dia de trabalhar. Por sorte (há sorte em uma sexta treze?) o dia estava lindo e a temperatura bastante agradável. O Pirulão está refazendo todo o verniz do Malagô. Não é trabalho pequeno, porque verniz é o que mais há nele. O serviço é um pouco ingrato, pois primeiro ele retira todo o verniz velho e queimado de sol para depois passar uma demão, depois outra, e outra e outra.  

Aproveitamos para recuperar o cabeço de popa, que estava delaminando. Fizemos uma massa com resina epoxy e aerosil e impregnamos as várias camadas. Depois da cura começamos a lixar para refazer o formato. Depois vem verniz e a pintura do convés e do costado (na água). Como eu disse para o Pirulão, quando a gente terminar verniz e pintura, está na hora de começar tudo de novo. Ah, a beleza intrínseca dos barcos de madeira... Em Ubatuba eu jamais conseguiria dar essa atenção ao barco e isso me consola. Mas dá uma saudade tão grande das tardes de sol na Ribeira! 

Criei coragem e depois de  três horas e meia  finalmente a rede de proteção do Malagô foi instalada. Servicinho de escravo, chato que só, que a gente faz apenas por conta de uma filhinha que ensaia seus primeiros mergulhos solo! 

Os donos do Cangaceiro, outro Classe Brasil 40  sediado em Paraty, mandaram fazer uma carreta - que ficou pronta hoje - e eu entrei no rateio das despesas. Com isso o velho Mala  possui meia carreta - e isso é mais do que o suficiente. O melhor é que ele subirá para fazer o fundo e calafetar antes de irmos para Ilhabela (no dia vinte e oito de setembro), ou seja: o danado vai  andar muito bem e não fará mais água! 

O difícil nisso é deixar o "Jáque" de lado: a missão é só calafetar, pintar o fundo, trocar ânodos e instalar o transducer da sonda. Uma semana é suficiente, desde que não se pense em fazer mais coisas. Como o barco tem que trabalhar, isso fica mais fácil!

Por falar nisso, vamos no pano mesmo porque amanhã tem aula!

Recuperação do cabeço...

... que estava delaminando.

A nova carreta.

A nova escota da vela mestra que cmprei na Velamar e a  careca do Pirulão.


Redes de proteção para a Alice.


O Cesar levou cinco anos...

... sem instalar essa rede. E eu o entendo, porque é muito chato!

Verniz, verniz, verniz...

O Velho Mala, em sua poita com o botinho de apoio amarrado na popa.

domingo, 8 de setembro de 2013

Amar o mar.

Boas!

Eu nunca, nunca, mas nunca mesmo, vou ao mar sem sentir medo. Talvez por isso viva me preparando para o pior - e para um pior que até agora não veio. Ironias a parte, meu maior ventão foi na Guarapiranga, em uma empopada louca que me deixou tremendo por alguns minutos (já em terra), em um misto de pavor e prazer - não necessariamente nessa ordem. 

Tenho medo e acho que é por isso que estou vivo. Velejei sem motor dez anos. Só na vela, em barcos minúsculos, entre navios. Perdi lemes, mastros  e velas explodiram (atentem para o plural).  Hoje, muitos anos depois de me tornar velejador, continuo sentindo medo e ficando sempre alerta, como um escoteiro bundão.

Há algum tempo (principalmente depois da retrancada, que está para completar um ano) eu até me questionei se queria mesmo continuar com isso. Afinal, eu nunca relaxava, a não ser quando já estava lá no mar. Para que tanta angústia prévia? Tanto sofrimento estudando previsões e imaginando o que de errado poderia acontecer? Para que me expor ao risco de cair no mar ou de ter outro touro entrando pela minha testa? Para que dar aulas, ficando longe de casa, se não há a menor necessidade disso?

Mas é só dar uma velejada decente - leia-se: com vento e sem motor! -   e todas essas dúvidas passam, se dissipam. Basta ver algo que apenas se vê do mar, que as incertezas vão embora. Basta estar na ilha da cotia - ou até mesmo na poita, como hoje a tarde -, com minhas três meninas, para perceber que não conseguiria viver outra vida. É só ver o brilho nos olhos de alguém que um dia antes nunca esteve lá, e durante algumas horas de aula já está no comando de um veleiro que a vontade de continuar renasce, vívida. O maior perigo está no sofá e no controle remoto. Na rotina. Na não escolha.

Fico sem carro numa boa; mas sem barco, me sinto nu. Um veleiro é um problema cuja solução está nele mesmo. É uma máquina de tempo: e tempo é o que há de mais caro nessa vida apressada de hoje em dia.

Eu decidi me fazer ao mar. Não para viver aventuras. Mas apenas para estar lá, ir " só até ali" e depois voltar correndo para a Priscila, para a Brida e para a Alice. Não quero ser herói nem lutar contra os elementos. Os hérois, os de verdade, estão mortos; os de mentira (como os do BBB), são fraudes. E nesse caminho, espero poder ensinar meus alunos não apenas a velejar, mas a amar o mar, com toda a sua fúria serena. O mar nos chama.

E vamos no pano mesmo!



sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Cruzeiro das Ilhas...

Boas!




E quem disse que abaixo de Ilhabela não se faz cruzeiros?

A ABVC Santos em conjunto com a ABVC Ubatuba e Ilhabela está organizando um minicruzeiro com destino para "As Ilhas" - aquela, que apesar do nome plural é uma só e fica em frente a Juquehy e tem águas paradisíacas!


Serão duas flotilhas: uma sairá de Santos e outra de Ubatuba/Ilhabela. Quem sair de Santos deverá navegar 42 milhas; quem vier de Bertioga, 24 (sacanagem esse número, pois é de lá que eu vou!); de  Ubatuba 46 e de Ilhabela 22 milhas náuticas.

A velejada acontece de 15 a 17 de novembro (feriado!) e a programação inclui duas pernoites no veleiro. As inscrições custam R$ 40,00 (para sócios ABVC) e R$ 50,00 (para não sócios e até o dia 27/10/2013) por tripulante - menores de 12 anos não pagam. 

Confira a programação:

Programação - Flotilha de Santos

Dia 15/nov - sex
  • 07h00: Recepção (café da manhã), distribuição dos kits.
    Reunião dos Comandantes (Clube Internacional de Regatas)
  • 08h00: Saída - Santos (atenção para a maré baixa!)
  • 16h00: Chegada - As Ilhas

  • Dia 16/nov - sab
  • Dia livre

  • Dia 17/nov - dom
  • 07h00: Saída - As Ilhas
  • 12h00: Parada opcional (em Bertioga ou Guarujá)
  • 17h00: Chegada - Santos


  • Programação - Flotilha de Ilhabela

    Dia 15/nov - sex
  • 10h00: Recepção: Café da manhã
    Distribuição dos kits e reunião dos Comandantes
  • 11h00: Saída - Ilhabela
  • 15h00: Chegada - As Ilhas
  • Dia 16/nov - sab
  • Dia livre

  • Dia 17/nov - dom
  • 9h00: Saída - As Ilhas
    Parada opcional
  • 15h00: Chegada - Ilhabela

  • Ricardo Stark e Walnei, espero vocês  lá com o Gaipava e o Vivre!

    Ficou interessado? Saiba mais em www.abvc.com.br

    E vamos no pano mesmo!!!

    segunda-feira, 2 de setembro de 2013

    Há dias em que...

    Boas!

    Há dias em que tudo dá errado. Mas há aqueles dias em que até mesmo aquilo que daria errado de qualquer jeito, dá certo. São os dias perfeitos. São poucos e raros e quando se está diante deles, é preciso saber dar-lhes do devido valor. Velejar escancara essa realidade diante de nossos olhos várias vezes. 

    O último sábado foi um desses dias perfeitos. Sol ameno, mar baixo, ventos de SE. aos oito nós (ideal para quem está começando) e  constantes (depois que o vento entrou, claro). Fizemos a instrução básica de vela. Dezessete milhas, em seis horas, com motor só no canal. Na tripulação Sergio, Julio, Moacir, Pablo e Luiz. Fomos até o Indaiá, depois seguimos até a Ponta do Iporanga e voltamos para o Chinen. Muita orça, algum través e um bocadinho de popa.

    O rancho estava uma droga... Mas em compensação o que faltava na cozinha, sobrava em equipamentos na mochila do Julio: Spot, VHF portátil, coletes, pirotécnicos, GPS e tanta coisa que eu cheguei até a ficar com receio de a gente precisar mesmo de tudo aquilo!!!

    E vamos no pano mesmo!!!





















    Fotos: Sergio Asche e Julio França