Boas!
Dia desses - já faz tempo, admito - eu estava em um catamarã (no pano e no motor), enfrentando ondas grandes e muito vento. A Ilha de São Luis (MA) ia ficando pequena e as reentrâncias maranhenses começavam a surgir no horizonte: Alcântara na proa.
Desembarquei e fui fazer o que todo turista faz: andei para lá e para cá, tirei milhões de fotografias e comi bem, muito bem. Sempre de olho no relógio: por aquelas bandas todos seguem o ritimo da maré e depois que ela baixa, não tem choro nem vela: o retorno é apenas no ciclo seguinte.
O lugar parece que parou no tempo. Já foi muito próspero e a Festa do Divino faz lembrar disso. Lembra, também, que o Brasil apesar de imenso tem seus laços de unidade, pois a mesma festa é cultivada em vários outros lugares, como em minha amada Paraty (RJ) ou em Santo Amaro da Imperatriz (SC), onde encontrei minha amada Priscila.
Perambulando entre uma viela de casarões históricos e outra, me deparei com uma pequena venda, típica do nordeste.Na tabuleta estava escrito: "Doce de esperma".
Curioso, tive de ir investigar melhor. Fui recebido por uma menina de no máximo onze anos. Pele morena, cabelos crespos na altura dos ombros, olhos grandes e uma camiseta cor de rosa provavelmente ganha no verão passado.
- Menina -perguntei eu - vocês vendem esse doce mesmo?
- Sim - respondeu ela - custa três reais.
Ainda incoformado, pedi mais informações sobre a "receita", sendo surpreendido pela inocência da garota:
- É isso mesmo, moço! É meu pai mesmo quem faz!
- E ele faz sozinho? -perguntei, quando devia ter ficado calado.
- Sim, sozinho. Sai quentinho! Quer provar?
- E ele faz sozinho? -perguntei, quando devia ter ficado calado.
- Sim, sozinho. Sai quentinho! Quer provar?
Claro que nessa hora eu imaginei um baita negão saindo de dentro do cômodo que dava para a parte de dentro da venda (imagino ser a sala da casa deles) e começando a "preparar o doce" para o turista incauto. Antes que eu pudesse recusar ela me entregou um pedacinho do tal doce que estava dentro de uma caixa de virdo, embrulhado em um guardanapo. Era amarelo, redondinho e tinha côco. Não tinha rabo, que "devia ter se perdido no processo de feitura" - pensei.
Eu não poderia ficar com nojinho diante de uma garotinha, ainda mais quando ela me assegurava que o doce era uma delícia e que comia sempre ("e até veio dele", pensei eu). Fui macho e provei!
E não é que era bem gostosinho?!
E não é que era bem gostosinho?!
- Esse doce tem esse nome, moço, porque as mulheres o usa para matar as saudades do marido, quando ele viaja, sabe?
Gelei. Mas não ia deixar minha masculinadade bandeirante ir ladeira a baixo, ainda mais diante de tão destemida garotinha! Como é dura (sem trrocadilhos) a vida nesse alto nordeste, não?
Fui mais macho ainda e comprei um pacotinho. Devo confessar que apesar da estranheza inicial, o doce era sim bem gostoso. Dei adeus com mais uma história para contar.
Já no catamarã, com destino à Ponta da Areia, abri o pacotinho e li, no rótulo improvisado, o nome do doce em letras de forma : DOCE DE ESPERA!
E-S-P-E-R-A!
Ufa, mas que alívio!!! Fui traído pela caligrafia (mal) manuscrita da plaqueta: o que parcia ser um "r" e um "m", era na verdade apenas um "r". Imediatamente me veio à mente a história de outro doce, o "Espera marido", que comi em Vitória (ES). Mas essa fica para outro dia...
E vamos de "espeRa" mesmo!