segunda-feira, 29 de julho de 2013

Encalhados no mangue!


Boas!

O canal de bertioga sabe ser traiçoeiro. Mesmo sabendo disso e apesar de haver na internet um roteiro prático bastante interessante, tem gente que ainda consegue encalhar nele!

O Malagô velejando no canal de bertioga. Cortesia da foto (c) Julio França.

Sábado velejei no canal com o Celso (novato), com o Nelson 007 ( o apelido pegou), com o André a com a famosa Yasmin - que teve seu processo de marinização iniciado.


 Em sentido horário Celso (de vermelho), Nelson, André e Yasmin.

A barra de bertioga estava bem mexida e eu preferi velejar pelo canal, como fazia com o Atoll 23. Mas... não adianta ser teimoso. Tem coisa que não dá para fazer, simples assim. Velejar no canal com o Malagô é uma delas. 

Velas ao vento!

Seguiamos em orça a quase quatro nós (vetinho bem fraquinho) quando na altura da coroa que fica na barra do rio Itapanhaú o "Velho Mala" parou. Literalmente. Logo percebi a merreca que tinha feito e pedi para que me ajudassem a abaixar a mestra e enrolar a genoa. ENCALHAMOS NA LAMA! Pior: o vento nos empurrava para a margem (que no visual estava longe). Era preciso agir rápido. 

Tentei dar motor a ré, mas o barco não se mexia. Tarde demais...

Encalhados!

Primeiras providências: soltamos a âncora, à proa, para controlar nosso eventual deslocamento e impedir que o encolhe piorasse; marcamos  a posição na agulha e olhei a tábua das marés: aquele era exatamente o horário da baixa -  0.3m. Encalhar na baixa é sempre melhor do que na alta. A maré ainda subiria até 1.2m, lá pelas 17h00.

O mais correto seria ter lançado o ferro à popa, que dizia para o lado mais profundo. Porém eu conheço bem o lugar e sabia que quando a maré subisse, haveria espaço para o barco girar e ter a proa dizendo para o meio do canal.

Como o que não tem remédio, remediado está, desci para começar a fazer o almoço. Nessa, porém, uma lancha passou e fez marola. O barco mudou de lugar. A agulha marcva 330º e não 300º do momento do encalhe e, mais importante do que isso, o barco começou a ter movimento pendular no sentido proa-popa. Parecia uma gangorra.

Larguei as panelas e com a ajuda do Nelson Anastasi, que ficou controlando o movimento da proa, tendo como referência a corrente da âncora, dei ré. Nada. Aumentei o giro. Nada. Seria uma longa tarde?! Não! Devagarinho o "Velho Mala" começou a sair e voltou a navegar. Ufa!

Bom dia, dia! Na manhã de domingo, sol!
No dia seguinte vi uma manobra bem curiosa. Um certo barquinho, de nome famoso e meu vizinho mas que eu não vou dizer qual é saiu para passear. O Comandante deu partida no motor e acelerou. A proeira, então, segurava o cabo da poita com todas as suas forças. O barquinho, preso, girava, girava, girava... parecia lançamento de peso nas Olimpíadas e eu estava vendo a hora em que ele ia para cima do recém reformado Aldebaran (S&S 1950!). Por sorte o cabo enfim foi solto e o barquinho, como que por mágica, seguiu seu rumo -  não sem antes passar a milimetros de ter o hélice enroscado no cabo da poita!

Quando eu tinha um atoll 23 saia assim daquela mesma poita, ó: ligava  o motor; pedia para alguém ou ia eu mesmo soltar o cabo, esperava que a maré afastasse a proa da poita e de seus cabos e só então engatava o motor de popa, acelerava e abria para BB ou BE. Funcionava tão bem que hoje e o que eu faço com o Malagô. Enfim...

E é isso ai, vamos no pano mesmo!

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Iguape, Ilha Comprida e Cananéia...


Uma nau portuguesa seguia para a costa do Brasil quando foi abordada por piratas holandeses. Para salvar uma imagem de Jesus martirizado que traziam a bordo, os tripulantes a jogaram no mar, na altura de Pernambuco. Nove meses depois em uma manhã de 1647  dois índios que estavam a caminho de Itanhaém econtraram a imagem boiando na praia do Una, na Juréia. A resgataram do mar e a puseram em pé, voltada para o sol nascente e foram terminar seus afazeres. Ao retornarem a imagem havia se virado (sozinha), mirando o poente. Após algum alvoroço os locais decidiram que tão importante achado deveria ser levado para Iguape. Mas no meio do caminho uma turba os convenceu de que o melhor destino seria Conceição de Itanhaém, sede da capitania. A imagem foi colocada em uma rede e rebocada por uma canoa, porém ficou tão pesada que não saiu do lugar. Mas quando a canoa se deslocava na direção de Iguape fluia leve e tranquila. Era o sinal. Nascia assim o culto ao Bom Jesus de Iguape, venerado por milhares de pessoas em todos os cantos do Brasil, que se reunem em romaria todos os anos entre o final de julho e início de agosto. 

De volta a a 2013, no final de julho o que houve aqui em casa foi um motim. E dos bons! As meninas, lideradas pela Capitã-Mor-Gaúcha-Faca-na-Bota me colocaram na parede: há tempos eu só sei é ir para o barco, sem elas (pecado maior). Há tempos a gente não faz nada que não envolva o Malagô.

Eu, que não sou bobo nem nada, acabei me rendendo. Quem mora em uma casa onde até o gato é fêmea sabe que não existe discussão que você passa vencer e sair vivo. E dessa vez nem o Bom Jesus de Iguape me tiraria de uma enrascada dessas. 

Foi assim que pusemos o pé na estrada - de jipe e sem barco!

Confesso que gostei bastante. A uma por estar com elas e a duas por conhecer uma região que há tempos planejava ir: o baixo vale do ribeira. 



Basílica de Bom Jesus de Iguape.


Detalhe da nave central da Basílica de 1787, com a imagem centenária no altar-mor.




Depois de muitos anos fomos assistir a missa (sábado a noite). Foi muito legal nos integrarmos à comunidade, independentemente de nossas crenças (ou descrenças. Não sou ateu nem de longe, mas há tempos não acredito em religiões nem nesse Deus de barba branca sentado em um trono no alto de uma nuvem). Foi lindo. Basílica lotada. A cidade se preprara para receber os romeiros. A belíssima música nos tocou profundamente. Depois fomos comer pizza e passear em um centro histórico tomado por uma densa bruma...


No dia seguinte atravessamos a ponte (pedagiada) e fomos explorar Ilha Comprida - que não tem esse nome à toa. Seguimos por uma pista asfaltada, que logo deu lugar a uma pista de brita...


... que começou a ficar chata. Ai lembramos que estavamos em um 4x4 (velhinho, mas valente) e seguimos pela praia.


Quilometros e quilometros (sem exagageros) de areia, mar e céu azul de inverno.

As meninas vibravam quando atravessamos  a toda velocidade os rios que dão na praia e algumas dunas!

Ao fundo, Cananéia... esse lugar é muito menosprezado pela história oficial. Como os portugueses sabiam que Tordesilhas terminava aqui, nos domínios do Bacharel? Será que se não fosse o Peabiru (a trilha Inca que saia desse ponto e ia até os Andes, nos domínimos de um rei de ouro) e os olhos da Coroa teriam se voltado para essas bandas nos idos de 1531 - depois de trinta anos de descobrimento oficial? Será que se não fossem as promessas de riqueza e de uma montanha de prata e o Brasil seria hoje o que é?

Foi em Canananéia que o Brasil começou, de fato, a ganhar seus contornos.

De lá sairam as primeiras Entradas para o sertão...

... e foi um porto muito importante...

... onde nossa família também aportou, ainda que apenas por uns dias.


E vamos no pano mesmo!




segunda-feira, 1 de julho de 2013

O longo caminho...




"Não estou triste nem alegre. Nem muito tenso, nem mesmo descontraído. Sinto-me talvez como quando um homem olha as estrelas se fazendo perguntas às quais lhe falta maturidade para responder.  Então um dia ele está contente, um dia está vagamente triste, sem saber porquê. Lembra um pouco o horizonte, podemos vê-lo distintamente quando o céu se une ao mar sobre a mesma linha, vamos sempre em direção a ele, mas ele se mantém sepre a mesma distância, próximo e, ao mesmo tempo, inacessível. Portanto, sabe-se, no fundo de si mesmo, que só o que conta é o caminho percorrido".

Bernard Moitessier, O Longo Caminho.

Ilhabela e o Atrevida

Boas!

Chove por ai? Aqui o mundo cai aos píncaros!

Sábado fui para Ilhabela testar um veleiro que um aluno estava interessado em comprar. O modelo é um Fast 303 (tem, portanto, um bocadinho mais do que trinta pés). Gostei muito do projeto, que achei bem resolvido, com soluções interessantes de interior, rápido e bom de mar. Como eu sempre digo, um Fast é um Fast! Tempos bons aqueles... 




 Velejamos com ventos que foram da calmaria mais completa até rajadas com mais de vinte nós de um noroeste nervoso. O barco adernou bastante pois estava com um pouquinho mais de pano do que o recomendado para situação (depois que o vento apertou), mas nada que tenha tirado o controle da embarcação.




No canal cruzamos duas vezes com o Atrevida, a todo pano e no auge de sua beleza clássica.






Fazia tempo que não ia para Ilhabela (por terra). Eu gosto de lá, mas não consigo ter pela Ilha o mesmo amor que tenho por Paraty... Uma semana antes da Semana de Vela a cidade estava calma. Mas sábado que vem estará uma loucura - na terra e no mar!

E vamos no pano mesmo!