segunda-feira, 29 de outubro de 2012

No mar e na vida nenhum dia é igual ao outro.

Boas!

Nesse final de semana a previsão do tempo indicava um sábado e um domingo de condições atmosféricas e de mar bastante congruentes: ventos de SE, ente 6 e 10 nós, mar de almirante, uma chuvinha com possibilidades de abertura.

Nessa toada lá fui eu dar aulas do módulo II (introdução à navegação costeira) para o Marcello e Fernanda e, no dia seguinte, para o André e para o Aruã. Bora lá!

No sábado a previsão só não se confirmou porque não choveu e o céu ficou limpo. O mar estava um tapete, sem nenhuma vaga ou marulho. Vento de SE, 10 nós. Devíamos ir para a Ilha das Cabras, mas por mais que tentássemos avançar,  a coisa não fluía. Preferimos tocar para o rumo do Montão de Trigo e pouco depois estávamos apoitados no Canto do Indaiá (Bertioga), fazendo um lanche e ouvindo música (essa aula estava mais para passeio!). Deu uma vontade de mergulhar... é ó inverno que foi embora!

Fundeados no Indaiá.
O Indaiá, ao fundo...

Abastecendo...


Entramos no canal "quase" no pano mesmo (nunca consegui), mas a maré contra não deixou. Logo após a Pedra do Corvo liguei o motor. Às 17h03 estávamos de volta à poita, sãos e salvos.

É preciso dar muito valor para dias como esse, perfeito: eles não acontecem sempre.

O domingo tinha tudo para ser igual ao sábado. Mas não foi. Ninguém se banha num mesmo rio duas vezes: na segunda o rio já não é mais o mesmo, muito menos você. No mar é a mesma coisa. Nunca se deixa de aprender.

O André se atrasou (bastante, rs) e achei que ele (e o Marco, seu pai - o terceiro elemento!) não vinham e sai apenas com o Aruã. Meia hora depois as Marinas Nacionais me chamaram no rádio VHF: "Cusco Baldoso, Cusco Baldoso, atento Cusco Baldoso, Delta 45 solicita...".

Pois é, lá estavam na Marina o André e o Marco. Dei a volta e numa operação mais ou menos tranquila (o motor morreu quando soltamos a âncora, rs) embarcamos os atrasadinhos.



Nosso cronograma foi retardado em uma hora, mas isso nos livrou de um belo perrengue. Ao sairmos da barra, com uma forte corrente contra de pelo menos dois nós, percebi muita nebulosidade vinda dos lados de Santos/Praia Grande. Antevendo a encrenca (o que talvez não tivesse acontecido se não houvesse o atraso), navegamos marcando com muita precisão o rumo na bussola: 120º magnéticos ou 143º verdadeiros, rumo ao Montão.

Uma hora depois tudo ficou branco. Horizonte 360º de mar ou bruma branca. Onde estava Bertioga? Onde estava o Guarujá? Onde estava qualquer coisa? Foi divertido!

Era para se ver uma cidade ali no fundo!!!

Demos meia volta e enfiamos a agulha no 300º magnético, com ajustes para o 290º de tempos em tempos para compensar o abatimento e desviar de umas redes de pesca. O Cusco andava bem, a seus quatro nós e meio (mestra toda em cima e genoa II) e em menos de uma hora estávamos entrando no canal.

A maré estava a favor e pensei: dessa vez vamos entrar no vento!

Passamos a Pedra do Corvo e avançamos bem até que caímos em um buraco de vento que ora nos jogava para encalhar perto do Forte, ora nos colocava rumo às pedras. Por sorte o motor estava ligado, mas no neutro. Antes de engatar (pq ele sempre morre quando a gente precisa dele!) tentei voltar para o mar. Mas a corrente não deixou... o Aruã enrolou a genoa e com a proa indo para as pedras liguei o motor que...ufa! pegou! Acelerei e nos mandamos dali. Deu para suar! Não vou brincar mais disso não, aquela barra é complicadinha: agora é sempre no motor!

O nevoeiro no mar e no canal, céu azul!

Fotografia do G1, mostrando o nevoeiro ainda em Praia Grande (visto de Santos).

Na balsa desliguei o motor de velejamos até a Marina num través muito louco! Inclinamos 30º só de genoa e hoje eu comecei o dia com um sorriso de orelha a orelha! Que velejadas! Que final de semana! Isso é lá trabalho?!!!

E é isso ai, vamos no pano mesmo!






quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Capitão?

Boas...

Isso pode soar estranho, mas  eu não ligo muito para os títulos e habilitações formais em navegação. Isso soa ainda mais estranho se for levada em conta minha formação profissional (na verdade, penso que a culpa é dela) e, mais estranho ainda diante do  fato de eu ter me tornado instrutor de vela. 

Comprei meu primeiro barco em 1996: um bote de alumínio de 3,3 metros, que fui buscar em uma favela no Guarujá no alto dos meus 17 anos, munido de R$ 350,00 que ganhei dando aulas de português, física e química - uma pequena fortuna! Depois do Aries tive tantos outros barcos que até já perdi a conta... Mas o primeiro veleiro, o Fraldinha (um HC 14 caindo aos pedaços - literalmente) veio em novembro de 2002, meu último ano de faculdade. E lá se vai uma década... 

Naveguei durante doze anos sem ser sequer arrais amador. Aposto que sabia mais sobre o RIPEAM do que muito navegador por ai, mas estava em situação irregular. Em 2009 fiz a prova. Um ano depois, em 2010, me tornei mestre. Minha primeira grande travessia velejando (pois de caiaque fiz coisas muito maiores) foi feita em um barco classificado para navegação interior e eu estava apenas com um protocolo de arrais (a carteira não tinha ficado pronta e o tal protocolo não valia no Rio de Janeiro, onde o Cusco Baldoso estava). Nas primeiras três horas de travessia estávamos na Ponta da Juatinga com mar relativamente grande, vento e ondas contra e tocados por um motor de popa Honda 7,5 HP, ano1984.  Eu tinha uma ideia do que fazer, do que não fazer (muito mais importante), tinha medo na medida do necessário (embora tenh sujado umas duas calças) e aos trancos e barrancos chegamos no canal de bertioga - viemos praticamente numa toada só, dois dias e duas noites. Já o motor, que funcionou bravamente durante todo o trajeto, faleceu!

O conhecimento não está na habilitação, mas na cachola. Mais importante que passar na prova, ou até mesmo do que ter feito a prova, é dominar o conhecimento das regras e procedimentos para estar no mar, para ir só até ali e voltar. Ora, uma coisa não leva a outra? Não sei e nunca dei muita bola para isso e nesse ponto não sou exemplo para ninguém.

No último dia 16 de outubro eu e outras cinquenta pessoas fizemos a prova para capitão amador aqui em Santos. Apenas uma menina... Para mim já ouço o barulho da bomba se aproximando. Mas, sinceramente, a verdadeira prova está lá fora: é sair e chegar, é ir até ali e voltar.

A pilha de problemas que o Jefferson me passou anda sendo "desmanchada". Viajo na média de um livro a cada dois dias. Hoje me despedi de Beto Pandiani e de seu "O mar é minha terra". Mas o preferido sempre é "Do Rio à Polinésia", do Cabinho, que visito aos poucos entre um e outro título. 

Hoje à noite, na página oito, leio:

"Há bem pouco tempo, eu estava numa sala na Capitania dos Portos, tendo á minha frente um entediado oficial da Marinha com uma imensa pilha de papéis para assinar e, simultaneamente,  me examinando para uma carta de capitão-amador.

Pediu-me que escolhesse um papelzinho dobrado, assim sorteando um ponto.

Era um problema de cálculo da hora local do crepúsculo partindo de uma hora dada num relógio de antepara.

Lembrei-me então do descomplicado Sea Bird, barco de minha viagem, onde meu velho e imenso relógio de antepara marcava solenemente, embora de forma não muito precisa, a hora de Greenwich.

Essa é fácil, pensei então. Enquanto meu examinador mergulhava em seu mar de processos, rapidamente resolvi meu problema e o entreguei. 

Ele olhou de relance e falou:

- Vê-se que o Senhor não tem a menor ideia do que seja navegação astronômica. Então não sabe que um relógio de antepara marca a hora civil?

Eu não sabia.

Tentei me consolar pensado que se tivesse levado muito a sério o assunto, talvez pudesse estar como ele, naquela sombria sala com todos aqueles papéis para assinar, mas na verdade lembrei-me de que já havia levado pau no exame escrito por não ter podido usar a tábua 249, a única que eu conhecia. Em fração de segundo, recordei-me de minha passagem por Tuamotus, aquele verdadeiro pente de pegar iates no meio do Pacífico, onde um erro de umas poucas milhas na navegação astronômica significa naufrágio certo, e arrisquei um comentário irônico.

- Curioso - disse -, velejei umas 15 mil milhas num veleiro menor do que sua sala em dois oceanos e não costumava ter problemas.

- E como o Senhor navegava?

- Pelo voo das aves e pela direção do borrifo na crista das ondas.

O Comandante me olhou atravessado e despediu-se secamente".


Pois é, no meu caso "só" faltaram as 15 mil milhas para a saída ser tão honrosa...

E vamos no pano mesmo!


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Sandy está botando para quebrar no Caribe!

Boas!

Eu gosto muito das duplas sertanejas de antigamente. Mas confesso que sempre tive uma dificuldade em saber quem é um, quem é o outro. Quem sabe dizer, com certeza, qual é o Milionário e qual é o José Rico? O Tonico e Tinoco? João Mineiro e Marciano?  Sandy e Júnior?!

Pois é, pois é...

Hoje lendo os e-mails do fórum da ABVC vi uma mensagem do grande Elmo (que tem um blog super bacana sobre "coisas de barco"), dando conta de que a Sandy estava botando para quebrar no Caribe! Mandou até a foto, que está ai embaixo!

A Sandy está bem ali em cima, à esquerda, redondinha!

Brincadeiras a parte, Sandy  é o nome da Tempestade Tropical que está dando uma volta pelo Caribe. Velejar por ali não deve estar fácil: ventos de 40 nós, com 50 nós de rajada! Nesse momento a moça está no sul da Jamaica e deve atingir Cuba, onde provavelmente (tomara!) perderá intensidade e não se transformará em um furacão. 

Ali não dá para ir nem no pano mesmo!!!

Bons ventos!


sábado, 20 de outubro de 2012

Velejar com vento é sempre muito bom!

Boas!

Velejar é uma atividade às vezes frustrante: você passa a semana inteira esperando o final de semana para ir para a água e, quando chega o dia, chove, não venta ou uma manilha e até uma simples cupilhazinha de nada estraga o passeio tão esperado. Mas basta meia horinha que seja em um vento de verdade para toda essa espera ter valido a pena. Velejar é bom de qualquer jeito, mas com vento é muito melhor!

Ontem e hoje dei curso de vela (módulo 01, no canal). Primeiro para o bem humorado André e depois para os divertidos Marcello e  Fernanda (que foi a capitã, algo até então inédito!). Um dia após a outro e tudo tão diferente. Ontem um vento de 27 nós nas rajadas (pela primeira vez dei aula rizado!); hoje o vento ainda forte, mas menos agressivo. Tudo em paz, nenhum incidente sério, exceto pela manilha que segura(va) o moitão do burro, que não aguentou o esforço de ontem e se partiu, tendo sido substituída logo por um cabo de spectra. De semelhante apenas o fato de o vento(ão) ter acabado antes da hora, lá pelas 14h00...

Aqui cabe uma dica: tenha sempre um pedaço de uns dois metros, que possa ser cortado em pedaços menores, de spectra 6mm. Esse cabo tem resistência superior ao aço de mesma bitola e substitui com segurança manilhas e alças, por exemplo, fazendo uma volta ou um simples lais de guia. Os meus cabos eu compro na Náutica 30 Nós!

E vamos no pano mesmo!

O André tocando o Cusco depois de muitas rajadas fortes!

Uma bela asa de pombo.


Marcello e Fernanda, confirmando a vocação do Cusco: barco do amor!
Voando baixo...

Final de tarde na travessia de balsas entre Guarujá e Santos.



domingo, 14 de outubro de 2012

Biblioteca náutica!

Boas!


Esse blog rendeu muito mais alegrias do que poderia sonhar a minha vã filosofia de almanaque. Já perdi a conta de quanta gente bacana entrou em nossas vidas por conta dele. Alguns apenas no mundo virtual. Outros, para quem a distância física não é um grande problema, já se fizeram presentes em três dimensões. 

Ontem foi um desses dias de alegria. A aula programada para um casal (mais um!) teve que ser cancelada por conta do mau tempo (decisão acertada, pois fez frio e choveu bastante), o que me deixou um pouco ranzinza, pois eu estava louco para velejar. Ainda assim o dia foi especial, pois conheci (ou conheci de novo, pois já o conhecia de vista) um ex-vizinho da Náutica Sangava (Guarujá/SP), onde fiquei por quase dez anos com meus intrépidos monotipos (dois HC14, um Dingue, dois Hobie 3.9, um Dinghy Andorinha, canoas, caiaques, etc, etc, etc).

Seguidor do blog, Jefferson Aliseda estava com um pequeno problema: faltava espaço para um excelente biblioteca náutica, com trinta títulos dos quais vinte e cinco eu ainda não li (e os outros queria ler de novo)! Como amigos são para essas coisas, tive que buscar uma solução "muito sacrificante" e o resultado é que hoje o Cusco Baldoso  tem uma biblioteca náutica de respeito. E, mais legal do que isso, estou matutando um jeito desse acervo poder ser compartilhado por mais pessoas.

Aproveitei o dia chuvoso e fiquei a bordo o sábado inteiro lendo e viajando... Já nem  sei se quero que faça tempo bom para ir navegar ou se quero que o mundo desabe em água para eu poder ler tudo isso!

Doce dilema...

E vamos no pano mesmo!

O Jefferson, com sua pilha de problemas...

...e o Cusco Baldoso em modo tempestade.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O Cusco está de volta!

Boas!

Nesse final de semana a minha amada Priscila resolveu atender meus reclamos e sentar em frente ao Corel Draw para fazer o selo da nossa escola de vela! Nessa quem voltou foi o cusquinho amarelo com as orelhas jogadas para trás pelo vento e que adornou nosso valente Rio 20, barquinho que só nos deu alegrias - e muitas!

Cusco baldoso é um apelido carinhoso que a Priscila me deu quando nos conhecemos. Eu não sabia o que significava, pois a língua falada nos pampas tem suas peculiaridades e por vezes beiro ao dialeto ou à corruptela... mesmo assim gostava da sonoridade. Cusco nada mais significa senão cachorro sem raça definida, o bom e velho vira-latas (quem teve um jamais esqueceu!). Baldoso é aquele que tem balda, ou manha.  Um cusco baldoso, assim, é um vira-latas manhoso!




Então bora lá virar latas!


domingo, 7 de outubro de 2012

De volta ao meu aconchego...


Boas!

Apesar de ter aula de vela agendada para o dia 06/10, tive que cancelá-la e acabei não velejando nesse final de semana. Ainda assim  passei o sábado todo a bordo do meu querido Cusco Baldoso. Instalei a segunda placa solar de 30W - no total ele agora tem 90W e energia para o piloto e para o cd/dvd não deve ser problema tão cedo. As luzes de navegação ainda precisam ser substituídas por LED, mas isso vem já já. 

Sofri um "acidente de trabalho" semana passada (sábado, 29/09), mas dele já estou bem e a partir do dia 12/10 devo ter vida absolutamente normal. Agora é uma amigdalite que me pegou, mas já já ela passa também. Tudo passa nessa vida, até uva...

Em novembro o plano era passar dez dias entre Ilhabela e Ubatuba (plano original de outubro, rs). Ia fazer o Cruzeiro Costa dos Tamoios, com o pessoal da ABVC, mas a Priscila não pode nessa data. Mas eu não reclamo: depois que a gente adia a partida para a outra vida , de alguma forma todo o restante é 100% lucro.

Estrelas à barla para todos nós.


Em Tempo.: sempre, sempre, sempre passe abaixado por uma retranca, mesmo que ela esteja cheia de vento para o outro lado. Em travessias, habitue-se ao "preventer". Não relaxe, nunca. Olhai e vigiai!