sexta-feira, 29 de abril de 2016

Muitas travessias pelo caminho!

Boas!

No mês de maio o veleiro Soneca completa dez anos de lançamento ao mar. Essa data tão especial será comemorada do jeito que o Soneca e o Tio Spinelli mais gostam: velejando!

Por isso a partir de 21/05 nossa Escola de Vela Oceânica terá várias travessias oceânicas, como parte das comemorações desse aniversário.

Confiram nossos roteiros:

Data: 21/05/2016 
Atividade: 
Travessia Ubatuba - Angra dos Reis (dois dias)
Base: Ubatuba
Alunos inscritos:
04 VAGAS

Data: 30/05/2016 
Atividade: 
Travessia  Angra dos Reis - São Francisco do Sul (quatro dias de navegação)
Base: Ubatuba
Alunos inscritos:
04 VAGAS

Data: 11/06/2016 
Atividade: 
Travessia   São Francisco do Sul - Ubatuba (três dias de navegação)
Base: Ubatuba
Alunos inscritos:
04 VAGAS

Os preços de cada travessia são acessíveis e incluem todas as despesas de bordo (instrução, alimentação, água e diesel). Ex-alunos têm descontos especiais e todos têm condições de pagamento bastante facilitadas.

Mas não é só isso. O veleiro Fratelli já está inscrito para a REFENO 2016 - Regata Recife - Fernando de Noronha e a partir de julho começará a subida da costa brasileira, de Santos até Recife! Em breve divulgaremos mais informações sobre esse projeto e como você  poderá participar dessa aventura!

E vamos no pano mesmo!

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Velejada dos Fortes

Boas!

No último dia 21/04 a ABVC realizou a Velejada dos Fortes, em homenagem à semana do Exército. Com a ajuda do Coronel Elcio Secomandi, amigo da ABVC, conseguimos do General Challela (comandante do Forte) uma permissão mais do que especial: poderíamos fundear na praia em frente ao Forte dos Andradas, uma área militar bastante restrita. Mas não ficaria apenas nisso: desembarcaríamos  na praia, seríamos recebidos pelo General, faríamos um mega churrasco e visitaríamos as instalações do antigo forte, escavado na rocha.

Tudo saiu dentro do roteiro e sessenta pessoas participaram do evento, algo inédito por essas águas.

Na tripulação do Malagô estiveram eu e as minhas meninas (Pri, Brida e Alice), meu sogro Celso e nossos amigos Rafael, Carla, Eduardo e Regina. Seguimos no motor até o Forte dos Andradas, pois estávamos um pouco atrasados por conta da maré.

O destaque foi o desembarque. Apesar de termos chegado na praia ao meio dia, como programado, levamos mais de duas hora para desembarcar todos. Isso porque nem todos os veleiros tinham bote  de apoio e, também, porque os poucos que haviam eram aniquilados pelas ondas que quebravam na praia de tombo! Foram capotadas cinematográficas e se os milicos atirassem na gente, seria a invasão da normandia versão tupiniquim. Muitos óculos e celulares foram perdidos. Um terror!



A cerimônia de recepção e de homenagem da ABVC ao General foi inusitada: os militares estavam muito bem fardados; os garçons bastante alinhados. Já os convidados de honra... molhados, com as roupas pingando água salgada, alguns descalços como eu. Foi uma cena curiosa e bastante divertida. Eu tratei de advertir a um dos militares que nós não eramos mendigos do mar, apesar das aparências.



Agradeço ao Cel. Secomandi, pela colaboração de sempre, ao Gal. Challela e ao Exército Brasileiro, pela calorosa recepção, digna de nota. Agradeço também aos velejadores Marcelo Damini e  Rogerio Marques, sócios da ABVC que me ajudaram na medida do possível a desembarcar o pessoal (e a embarcá-los novamente).

O Malagô foi o último veleiro a deixar a praia, às 18h10. Saímos no pano e velejamos até o canal, sob ventos que chegaram a dezessete nós e sob um lua cheia que será difícil de esquecer.

E vamos no pano mesmo!

Galeria, com fotos do mestre das lentes Edson Leguth:
































segunda-feira, 18 de abril de 2016

Com emoção...

Boas!

Nesse final de semana as meninas estavam querendo navegar. E navegar com elas, é sempre uma emoção (no sentido figurado e literal).

No sábado resolvi levá-las até um lugar onde nunca havíamos estado por aqui, a Ilha do Mato, na praia do Guaiuba. Há tempos tenho passado por ali, mais ao largo, e vejo diversas lanchas fundeadas. Claro que isso não é boa referência, mas talvez valesse a pena ir ver como era o lugar.

Quando chegamos já passava de 14h e o ancoradouro estava cheio de lanchas. Fundeamos mais para fora, mas dentro do canal. A profundidade é de nove metros (eu prefiro ancorar  em cinco, pois é menos corrente para puxar no braço depois) e a geografia do lugar (um canal estreito entre uma ilha e o costão rochoso) forma alguma correnteza, mas nada absurdo. Absurdo mesmo só os jets, que passam por ali em velocidade sem se dar conta de que há gente nadando... As meninas mergulharam a tarde inteira, em uma água de 29º C que lembrava nossa amada Paraty.



A emoção desse dia foi meu óculos ter sumido misteriosamente durante o tempo que fui nadar e, no meu procura ali, procura lá, a Alice soltava de vez em quando: "Acho que caiu no mar...". Fui ter uma conversa mais séria sobre isso com ela e perguntei: "Eu posso continuar procurando os óculos ou eles estão mesmo no mar?". Ela, mesmo jurando não saber nada sobre o assunto, foi bastante categórica: "Com certeza está no fundo do mar... bem lá no fundo. Mas não fui eu!". Pois é, voltei para casa em braile.



No dia seguinte fomos repetir a façanha, já que o dia anterior havia sido tão agradável. Eu me esqueci, porém, da lição sagrada: no mar nenhum dia é igual ao outro...

Fomos motorando até a Ilha do Mato, onde chegamos em cerca de uma hora de navegação. Ai o caldo começou a desandar. Parei o barco na ancoragem e me preparei para descer o ferro. Demorei um pouco para safar âncora e nessa o vento girou o barco.  Voltei para colocar o Malagô mais uma vez contra o vento e a Priscila se ofereceu para ir lá na proa fazer o serviço. Como ela já fez isso milhares de vezes, pensei, não haveria problema. Ledo engano...

Ela não baixou o ferro, ela o soltou. A corrente descia sem controle algum. São trinta metros de corrente e vinte de cabo sintetico nesse meu arranjo de fundeio usado para ir só até ali. Vi, alarmado, o cabo sintético começar a desaparecer também. Só tive temo de gritar: segura o cabo!!!
Por sorte a Priscila segurou o cabo a uns dois metros dele acabar. Teríamos ficado sem âncora. Aproveitei a lição e ensinei, uma vez mais, a dona Patroa a baixar a âncora. Casa de ferreiro...

Mas não era só isso que estávamos sem. As meninas foram nadar e eu fui dar uma geral no barco. Percebi, então, que não havia mais do que meio litro de diesel no tanque! Eu uso no dia a dia um tanque pequeno, de vinte e cinco litros. O tanque do barco tem duzenos litros e é muito diesel para mim. Desse jeito há menos condensação no tanque e a manutenção é muito facilitada. Ocorre que de vez em quando tem que encher e a última vez que eu enchi o tanque foi no dia vinte.

Vinte de janeiro!

Ficar sem diesel não era nenhuma emergência, pois havia vento e, afinal, somos um veleiro. Então, para não perder o tal do vento que soprava generoso (e que tende a sumir no final da tarde), subi a vela mestra e nos tirei do fundeadouro no pano mesmo. O pouco de diesel que nos restava eu usaria para nos safar de algum eventual perigo ou para colocar o barco na vaga.



Mas Murphy é um cara implacável. O vento de dez nós de leste que estava soprando antes simplesmente acabou. Teríamos cinco milhas pela frente e nossa velocidade era de apenas um nó, e isso graças a maré e a uma brisinha que entrava de quando em vez. No geral era mar espelhado. Avisei as meninas que seriam cinco longas horas até a marina. Houve alguns protestos, mas no geral elas foram bem legais (exceto por essa mania de dormirem abraçadas nas catracas!). 

O plano era levar o barco até pelo menos a entrada da barra e de lá pedir auxílio para a catraia do clube. Não pela ausência de vento, nem de diesel, mas pelo estado mental das meninas. Quem tem três mulheres em casa sabe que elas podem lhe deixar maluco em questão de segundos!

Na saída do Guaiuba havia uma lancha, a Hora do Ronco, fundeada em um lugar pouco usual. Havia um cheiro de churrasco e bordo e pessoas nadando em volta. Ao chegar mais perto alguém gritou: "- Vocês têm um alicate?! Meu motor [à gasolina, claro] quebrou!". Desviamos nosso curso (eles estavam à barla, e nós íamos para sota) e fomos até a lancha emprestar o alicate. É a lei do mar! Sem saber aquele sujeito me fez um grande favor: quando as meninas pensavam em reclamar da demora, eu as lembrava que aquele cara e sua tripulação nem tinham saído do lugar.

Depois de três horas estávamos no través da Ilha das Palmas. Navegamos apenas três míseras milhas, mas estava tudo dentro do previsto e andar a um nó constante é melhor do que não andar a nó nenhum, ou andar para trás. As meninas dormiram e isso me deu certo alento. A chateação é que na entrada da barra as poucas rajadinhas de dois nós vinham de popa e a mestra e a genoa não armavam de jeito nenhum. O alicate a essa altura jamais seria devolvido. Ai veio a complicação:a Brida acordou com frio. Febre! Precisávamos fazer alguma coisa... Mas o quê?



Foi então que do nada  uma lancha parou do nosso lado. A bordo, nosso amigo e instrutor em nossa escola de vela Alan Trimboli: "-Alan, você tem diesel ai?" - gritei. E ele respondeu: "- Reboque?! Pega o cabo!". Bem, não era bem o que eu queria, mas servia também!

A Enseada  nos rebocou até a entrada da marina do CIR. Lá eu liguei o motor e soltei o cabo, certo de que teria diesel suficiente para entrar na vaga. Mas Murphy estava com tudo... Disse para a Pri: "- Pronto, chegamos em ca...". 

Nesse instante a proa do Malagô subiu um metro: encalhamos na entrada do clube! Que mancada essa minha, pois aquele banco de areia é manjadíssimo (e não foi a primeira vez que encalheu nele. Nem a segunda. Ok, nem a terceira!). Nisso uma outra lancha veio nos socorrer e... encalhou também! Por sorte a maré estava subindo e quando uma lancha grande passou, liguei o motor e aproveitei a marola para desencalhar. Deu certo! A outra lancha foi desencalhada pela barquinha do clube.

"- Agora vamos para casa", disse. Mas... ao entrar na vaga a maré ainda não estava alta o suficiente e... encalhamos de novo! Por sorte já estávamos no clube e o pessoal da catraia nos ajudou a resolver a situação. 

No fim ficaram as gozações e as lições. O mar é assim, sempre nos mostra que a gente não sabe de nada, principalmente quando acha que já está entendendo alguma coisa. A febre da Brida passou e ficamos todos bem, com mais uma história para contar e muita tiração de sarro para aturar!

E vamos no pano mesmo!

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Do Rio de Janeiro a Santos...

Boas!

Como planejado, saímos às 04h00 do sábado (02/04/16) da piscina do Iate Clube do Rio de Janeiro.  Ainda estava bastante escuro. Seguimos a dois nós, prestando bastante atenção nos veleiros apoitados e nas bóias de poitas vazias. Na altura da laje que fica aos pés do Pão de Açúcar guinamos à boreste e ganhamos o canal que leva da Guanabara ao mar aberto.  A cidade do Rio de Janeiro dormia e exibia apenas os contornos de seus morros. O Cristo Redentor, iluminado, parecia flutuar. Na tripulação eu, o dono do barco e o Marcelo.

Aumentamos o giro do motor e subimos a vela mestra. Nossa derrota era bastante simples: passar as Cagarras por bombordo (ou seja, passar por dentro do arquipélago, do lado da praia) e, de lá, colocar a proa na Ponta do Boi, do lado de fora da Ilhabela (evitado por quase todos  que passam por ali); da Ponta do Boi o waypoint seguinte era a Ilha da Moela, já na porta de casa, aqui em Guarujá. Duzentas milhas náuticas, redondas.  

Para evitar problemas combinamos algumas coisas ainda no restaurante do ICRJ: eu seria o capitão; ordens não seriam questionadas, mas apenas cumpridas (explicações didáticas viriam apenas depois de feita a faina) e haveria turnos de duas horas para cada um vigiar o leme e a navegação, sem concessões. 

Nosso combinado foi seguido à risca e o resultado foi uma viagem tranquila, sob um céu de brigadeiro, azul que chegava a doer de dia; estrelado ao infinito à noite e um mar de Almirante. Fizemos a navegação em carta de papel, com marcações visuais e auxílio do GPS. Se eu pudesse acrescentar alguma coisa seria apenas vento! Mas ai seria perfeito e, a perfeição utópica, não existe...

Seguem as principais anotações do diário de bordo:

02/04/2016
04h00 - Saída Iate Clube Rio de Janeiro. Maré vazando. Sem vento.
05h45 - Ilhas Cagarras. Colocamos no rumo da Ponta do Boi.
07h27. Través Ilhas Tijucas. 
08h00 - Café da manhã.
09h02 - Abrimos a genoa.
09h45 - Vento N. Velejamos bem até 10h20. Vento sumiu novamente.
10h30 - Través da Ilha Rasa de Guaratiba.
13h00 - Almoço - lasanha. Ainda com sinal celular. 
13h25 - Través da Laje da Marambaia. Fim do sinal celular.
13h30 - Vento de SW. Aterramos para aproveitá-lo, mas isso mudou nosso rumo e nos forçará a fazer IB pelo canal. Compensa?
14h00 - Vento acabou. Enrolamos a genoa. Reaproamos para a Ponta do Boi.
15h00 - Través da Ilha da Marambaia. Abrimos a genoa.
16h39 - Golfinhos na proa!!! Través da Ilha de Jorge Grego, na Ilha Grande.
17h10. Fizemos contato com o navio Mercosul Santos por rádio VHF. Ele nos vê no radar. Passou previsão do tempo. 
18h00 - Acendemos luzes de navegação.
18h44 - Través da Ponta da Joatinga. Ao longe vemos apenas luzes que acreditamos ser de Angra ou Paraty. Impossível definir a linha da costa.
23h25 - Través da Cabeça do Índio. Estamos em São Paulo novamente!

03/04/2016
02h20 - Través da Ilha Vitória. Golfinhos aos montes ao lado do barco.
04h00 - Través da Ilha de Búzios. Lua no céu.
05h20. Entrou um vento de 30 nós na Ponta do Boi. O barco atravessou. Aproamos e baixamos a vela mestra, seguindo apenas de buja com vento pela alheta. Tripulação nota dez! 
07h45 - Terminamos Ilhabela. Sinal de celular retornou. Levantamos a mestra novamente.
09h45 - Través de Alcatrazes. Alarme de colisão com navio no AIS. Desviamos para BB. Passou a uma milha, sentido oposto.
11h45 - Través de Boraceia.
15h41 - Través da Ilha da Moela.
17h03 - Marina em Guarujá. Fim da travessia.

E Vamos no pano mesmo!!!

Galeria: