sábado, 4 de janeiro de 2014

Refugiados da vela.

Boas!

Depois de oito anos seguidos passando o final de ano em Paraty ou em Angra dos Reis, voltamos nossos olhos para o sul do país. Como diz um amigo, a vida é curta demais para andar de moto 125 e viajar para os mesmos lugares. Deve ser mais curta ainda para viajar para o mesmo lugar em uma moto 125, como a minha!

Preparamos o Malagô para a travessia contando com muita ajuda, dentre as quais ressalto a do Paulo, do Bepaluhê que nos deu informações valiosas; do Rico e sua família, do Hoje!, que nos acolheriam muito bem em São Francisco do Sul e a do Fredy, da Velamar que nos remeteu as cartas impressas faltantes e outros itens com extrema presteza e rapidez. 

Passei dias preparando o barco. Revisei item por item. Fiz uma cirurgia no teto para extrair uma parte podre. Troquei cabos. Comprei os mantimentos. Blá blá blá...

Mas... se Drummond fosse velejador, diria que no meio do caminho havia uma regata, não uma pedra. 

Dada a largada da Regata da Marinha e após quase abalroar um incauto windsurfista - fui bastante cordial com ele, claro - percebemos que o barco andava muito mais com a genoa 150  (mas que eu acho que é 200, dadas suas proporções colossais) do que com a 120. Caçamos tudo e mandamos ver, empolgados pois pela primeira vez desde que começamos a correr regatas estávamos colados com a flotilha e não a vendo lá longe, no horizonte. No popa, então, que beleza!

Regata da Marinha 2013 - DNF
Foi nesse clima altamente competitivo que na terceira perna (de um total de quatro) vi um cabo de aço se afrouxar! O fuzil de um dos brandais de força (o de bombordo) arrebentou. Foi sorte duplamente: a uma por ter sido o de um brandal de força, pois fosse do estai e o mastro teria quebrado; a duas por ter sido ali, no quintal de casa. Tivesse ocorrido durante a travessia  e a onça seria brava. 

Daria para consertar para irmos para o Sul? Sim. Mas, sinceramente, eu não aguentava mais. Não queria mais saber de barcos, muito menos de barcos temperamentais como o Malagô. Não adianta, ele só faz o que quer e ele não quria ir para o sul. Barco teimoso dos infernos!

Enfim, ele não queria ir, mas eu sim! Se ele é teimoso,eu sou mais.

Interrompi a tentativa de conserto e o deixei sujo e bangunçado como estava e lhe disse: "- Pois fique ai que eu já me enchi de você!"

Fomos de avião para Santa Catarina - e no meio do caminho, por sorte (eu tenho pavor desse bicho chamado avião, chego a dar vexame) não acabou a gasolina. Como tudo nosso estava no barco e eu não queria mais saber dele, nem malas levamos (pois eu não aqueria saber de "Mala" nenhum!-é sério, compramos roupas e tudo o mais lá, na Havan e na Hering do Beira Mar). Fomos só com a roupa do corpo e documentos: quatro, refugiados da vela na casa do sogro! 

A viagem foi sensacional. Fizemos de tudo um pouco, mas claro que não ficamos muito longe da água: rafting no rio Cubatão do Sul, SUP na Lagoa da Conceição, cachoeiras e passeios por Floripa, lugar onde conheci e depois raptei minha Priscila.

Eu não aguentava mais churrasco!

Santo Antonio Lisboa, nosso cantinho em Floripa.

É Natal! 

Ok, eu tenho medo disso ai... mas sempre que vou lá, faço!

Não, eu não encolhi a barriga e não, a prancha não estava no fundo!

Vista do quintal do vovô, em Santo Amaro da Imperatriz. Dias lindos!

E pela primeira vez na vida a Alice fez aniversário em terra e longe de um veleiro. Eu sou um monstro!

Rio do Braço, dentro da reserva da serra do tabuleiro. Ainda há tanto o que ver...

O combinado seria voltarmos dia 06, pois volto a trabalhar dia 07. Porém, contudo, todavia e entretanto, na virada do ano comecei a sentir saudades dele. Preocupação também. Remorso, talvez. Como estaria nosso velhinho?! Eu devia ter mais paciência com ele, coitadinho... Sou um canalha! A Priscila me perguntava toda hora  quando iria consertá-lo. A Brida também. A Alice dizia: "- Eu amo o 'Gô'"...

Não teve jeito. Peguei meu sogro (e o carro dele, não necessariamente nessa ordem) e no dia 02 a tardinha já estávamos em Santos. As meninas ficaram lá mais uns dias... 

Na manhã seguinte, bem cedo, fomos ver nosso amigo. Ele estava meio bravo, de cara amarrada, todo fechadão, mas logo mostrou que não é de guardar rancor. O lavamos bem lavadinho e fizemos um monte de carinhos e elogios. Conversei bastante com o Malagô e acredito que estamos de boas relações novamente (embora eu saiba que ele continua teimoso que só ele! Amar não é se iludir...).  O Celso, meu sogro, tem profundos conhecimentos de marcenaria e o Fabio  providenciou os seis novos fuzis em aço inox 316 (ajudado pelos outros membros da nossa tripulação: Aruã, Cassio e Luiz Malito - valeu galera!!!).  Agora é mãos à obra, pois eu não vejo a hora de velejar de novo.No amado Malagô, é claro!

E vamos no pano mesmo!

9 comentários:

  1. Juca as vezes temos de arribar, seja por cansaço, esperteza, medo, segurança ou mesmo para manter o rumo. Fico feliz que você tenha feito as pazes com o malogô, mas acho que ele fica meio chateado de ser forçado a participar de regatas, ele é "cruzeirista" por nascença e convicção!

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    2. Walnei! Vamos por partes... rs. O Malagô é um Classe Brasil, ou seja, ele foi concebido para correr regatas, em especial a Buenos Aires Rio e a a Rio Santos. O Velho Mala tem, em sua história, dezenas de participações nas maiores regatas de oceano do Brasil. O tempo passou, ele se tornou obsoleto, mas se bem tocado, não faz feio. A duas, eu pessoalmente não sou fã de regatas. Mas não há como negar que elas te fazem velejar melhor e eu quero ser um velejador dos bons.Preciso aprender mais e mais. A três tem o fato de que a praia paradisíaca mais próxima fica a 44 milhas... isso complica o uso do barco por essas bandas e dá uma grande saudade do tempo em que eu ficava em Ubatuba. Mas no fundo vc já me conhece e sabe que eu não estou tão feliz com essa história e com os danos que tenho causado ao velhinho por conta disso... rs Mas por agora, aqui é meu lugar.

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  2. Esqueci de comentar, mas que a prancha esta encostada no fundo, isso ta! Nem vou falar da murchada na barriga!!!!

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  3. Malagô está com status de celebridade, e o pior é que é excêntrico e também não gosta disso. Apaziguemos os ânimos, ele pode, já é um senhor experiente. Obrigado pela referência no texto e na história e sabe que quando o Malagô se interessar em vir para o sul, os faróis estarão acesos à espera de vocês. Parabéns pela postagem, ficou ótima!

    Abraços da nossa família à sua desde a Babitonga.

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    1. Rico, nós não cancelamos nosso encontro, apenas o adiamos! Mais uma vez obrigado pela acolhida em uma época que eu sei que é de muito trabalho para vcs!

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  4. É isto aí Juca,
    há tempo para amar e tempo para trabalhar ...
    tempo para velejar e tempo para curtir a família e agradar nossas princesas que tanto fazem para nos ver felizes.
    Quanto ao Mala.... calma com o andor pois o Santo é de barro.
    Cuide dele e seja feliz com ele, e "que seja eterno enquanto dure..."
    Conte comigo sempre que precisar.
    Abraços
    Paulo Ribeiro
    Bepaluhê

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    1. Pois é, paulo. Há tempo para tudo e esse não era nosso tempo. Mas ele virá! Bons ventos e obrigado por tudo!

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