domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Capitão Ernesto !

Boas!

Nesse final de semana voltei ao canal de bertioga, para dar aulas. Não, o Velho Mala continua em Ubatuba. Desde novembro eu vinha prometendo aulas para o Marcio e cia. ltda e havia chegado a hora de cumprir. Eles compraram um Gaivota 23, antes chamado Capitão Ernesto e é ele, o Capitão Ernesto (o de carne e osso e que nem habilitado era) o centro desse post.

O cara é uma dessas figuras ímpares. "Funcionário da Dilma" (quando eu o conheci ele se dizia empregado do Lula), recebia sua aposentadoria no dia dois de cada mês e se mandava do interior de São Paulo para o Chinen. Entrava no barco  e... não, ele não saia. Ficava dormindo dias e dias. Em média dez em cada mês.   Não tinha TV, nem rádio, nem um livrinho que fosse para ler. Tudo bem, talvez eu esteja exagerando um pouco: vez ou outra ele acordava, fazia feijão na garrafa (eu não domino a técnica nem o suficiente para descrever) e nadava do barco para a marina  agarrado em um bóia circular (e vice-versa), Quando fazia muito frio lá estava ele em um botinho emprestado. Mas todos os meses o Ernesto passava seus dez dias a bordo. E só comia isso: feijão cozido na garrafa.



Velejar? "-Ah, primeiro eu tenho que comprar um GPS!", desconversava emendando em uma piada (sem graça, na maioria das vezes, mas que tinha um certo colorido por conta do seu jeitão boa praça, de sotaque interiorano carregado).

Um belo dia, depois de tantos anos, ele resolveu tomar coragem. Colocou o motor de popa no suporte (coisa fina, Mercury 8HP rabeta longa com partida elétrica!)  e saiu em direção ao mar. Vela? Não, ele ainda não tinha o GPS. Seguiu pelo canal, passou a barra e guinou para a esquerda, rumo ao Indaiá. "- Nossa, como esse lugar é bonito!", pensava enquanto margeava a praia, olhando para as crianças brincando na areia e para as construções da orla. Estava tão perto que podia sentir o cheiro da carne assando em um fogão no terceiro andar de um prédio nas redondezas! O barco balançava um pouco, meio de lado, mas ele não se importava. Só queria ver aquele litoral tão belo, que antes estava tão perto  mas ao mesmo tempo, tão distante. O barco balançava e a praia ficava cada vez mais perto... mais perto... mais perto... e as ondas ficavam maiores... maiores... maiores... a espuma branquinha era tao linda! Foi então que  que em frente ao SESC Bertioga uma ondinha de dois metros mais maldosa capotou o Capitão Ernesto - veleiro e capitão - que arrastado pela vaga encalhou, meio de lado, na praia.

Pois é.

O veleiro foi resgatado (a muito custo) e não houve nenhum dano, nem físico, nem material.

No mês seguinte, porém, o Ernesto não veio. Nem no seguinte. No terceiro ele veio, mas já para mostrar o barco para possíveis interessados. Um dia, então, o barco passou a ser do Márcio e ontem, depois de tantos anos,  velejou (de verdade) pelo canal, a todo pano. Barquinho legal, hoje batizado de Nathália, até me agradeceu por ter recuperado sua identidade quando subi no caíque para ir embora. "- De nada, meu amiguinho! Velejar é preciso!". Já o Ernesto não é mais Capitão: comprou um Gurgel Carajás, uma barraca de camping e hoje em dia faz seu feijão na garrafa em algum lugar do vale do ribeira!

E vamos no pano mesmo!


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