quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Propriedade compartilhada de veleiros.

Boas!

Domingo passado eu fui velejar com o Rodrigo e com a Simone, dois alunos que fizeram o curso conosco em maio desse ano e que recetemente compraram seu próprio veleiro, o Anarquia, um Pantanal 25  projetado pelo  Cabinho.



Foi a primiera vez que velejei em um Pantanal 25 e gostei muito do barco. O espaço, como característica dos barcos do Cabinho, é de um 28 pés e o desempenho não decepciona: com uma leve brisa de cinco nós entramos e saímos da baia algumas vezes, fazendo bons ângulos de orça. O cockpit  é bastante espaçoso e bem arranjado e a ausência do estai de popa torna-o desimpedido. A popa é aberta e tem um excelente acesso ao mar. A boca é estreita (pois o barco foi projetado para ser rebocado em nossas estradas por um carro de passeio), o que faz com que o ajuste de velas tenha de ser bem feito, sob pena de comprometer o rendimento. Como resultado tem-se um barquinho ao mesmo tempo técnico e divertido. 


O Anarquia é um barco muito bem cuidado e mantido e eis ai um ponto interessante, que me fez pensar sobre algumas coisas. O Rodrigo e a Simone não o compraram inteiro, mas sim uma cota, administrada pela empresa Brazil Boat Share, com sede em Guarujá.

O sistema de compartilhamento de embarcações no Brasil ainda está em desenvolvimento e por isso envolto em mitos e mistérios. O maior entrave, na minha opinião, está no fato de as pessoas desenvolverem uma relação pessoal muito íntima com o barco. Mais do que a extensão da própria casa, um veleiro acaba virando a escova de dentes do dono. E escova de dentes, barraca de camping e a mulher da gente, não se compartilha.


Quando se tem condições de estar sempre no barco isso não é um problema. Vai-se sempre e faz-se como eu: dez horas consertando, limpando e arrumando, para uma ou duas horas velejando!

Agora, para quem não mora perto do barco e volta e meia é atropelado pelos compromissos de trabalho e família, a propriedade compartilhada, se bem administrada, tem várias vantagens. 

Nós chegamos no domingo de manhã na Marina Astúrias. O barco, que fica guardado no seco, já estava na água, limpo, abastecido e montado. Foi só ligar o motor e sair. Depois subir as velas e velejar. Na volta, depois de várias horas velejando, foi só deixá-lo no pier. A subida, arrumação e etc fica por conta da empresa administradora.  Entre a data da compra e a primeira velejada 'solo' do casal, passaram vários finais de semana que eles simplesmente não teriam condições de usar o barco. 

Eis ai uma belíssima vantagem: se o Rodrigo e a Simone ficarem um mês sem poder ir ao barco, ele estará lá: limpo, cuidado, pronto para uso. Não ter que se pegar em Nossa Senhora dos Veleiros na Poita ao menor aviso de mau tempo emitido pelo Gajeiro pode ser interessante. 



Sim, é possível contratar um marinheiro e vivenciar essa mesma tranquilidade. 

Porém entra ai outra vantagem desse sistema: o custo. 

Em nossa escola de vela nós usamos um fast 230, o Grandpa, que foi comprado por mim em sociedade com dois alunos que depois se tornaram amigos. Para o nosso 23 pés pagamos R$ 545,00 por mês só de marinheiro.  Como somos em três vivenciamos um pouco da experiência do compartilhamento: cada mês um de nós paga essa despesa. Acreditem, dói muito menos, assim como doeu muito menos pagar 1/3 do valor do piloto automárico e do GPS. 

O Malagô (40 pés), que é apenas meu, não tem marinheiro, pois o preço aqui em Guarujá para ele esteve estratosférico e fora de minhas possibilidades. A limpeza é feita por mim ou por algum marinheiro avulso. Nele eu pago tudo sozinho e já fali um par de vezes. Na propriedade compartilhada há uma clara redução de custos.

Um problema que se coloca é o do tempo de uso e quando se poderá usar o barco.

No caso da Anarquia o sistema é interessante: casa cotista começa o ano com 600 pontos. Cada vez que usa o barco "gasta" 10 pontos, sendo que a reserva é feita totalmente on line. Se mais de um cotista quiser usar o barco em um mesmo dia, abre-se uma disputa, que é resolvida após um leilão: quem der mais pontos pelo dia, "leva o barco". Esse sistema me apreceu melhor do que calendários pré-estabelecidos, que nem sempre casam com a previsão do tempo. Se em um final de semana chuvoso ninguém usar o barco, ninguém perdeu a vez. 

Uma coisa que me incomoda em alguns sistemas é o número de cotistas, às vezes mais do que dez. No Grandpa nós somos em três e a coisa funciona muito bem, pois o Cassio mudou para os EUA, o Aruã não usa - só paga - e eu só uso, rs. Além disso somos amigos e usamos o baco juntos várias vezes. No Anarquia, salvo engano, são seis cotistas, sendo um deles o administrador. 

Se os cotistas se conhecerem e interagirem a coisa tende a funcionar melhor do que no esquema cada um por si. Comprar com amigos pode ser uma boa saída para isso.

O fundamental, porém, é que a empresa administradora faça seu papel e consiga deixar o barco em perfeitas condições após o uso. Outra coisa que penso ser importante é "engessar" as alterações do barco. Ele deve ser o mais completo possível (para dispensar a colocação de novos equipamentos) e, também por isso, não se deve estimular muitas modificações, pois para tanto todos os cotistas precisam estar em acordo e democracia demais, às vezes, é algo que leva ao conflito.

Enfim, vou acompanhar de perto esse sistema, mas para quem tem a vida corrida e o barco é apenas mais uma coisa a se desfrutar, me pareceu um sistema inteligente, prático e economicamente viável (a cota sai por R$ 18.900,00), desde que você não queria fazer do barco a sua casa ou a sua vida, como eu tenho feito com o Malagô, nem faça questão de pendurar dentro da cabine aquele quadrinho que você trouxe de Porto Seguro.



E vamos no pano mesmo!



6 comentários:

  1. Perfeito Juca, é isso mesmo !!! Compartilhar com amigos é a saída e ainda pode-se pernoitar com mto bom humor. Bons ventos.

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  2. O TikiRio foi construido assim. Um socio apenas investidor casava 50% do valor e eu e o Fred trabalhavamos e davamos 25% cada. Hoje o barco é 33% meu, 33% Fred, 33% Celestino e 1% Nossa Sra dos navegantes. Feriadões são negociados e por enquanto não tem dado problema. Apenas a manutenção é que as vezes fica mais nas minhas costas por ser eu que mais uso o barco e não vou ficar esperando que o outro conserte algo.

    P.S o Pantanal é maneirinho mesmo. Aqui no Rio tem dele por R$ 100.000,00 todo no vacuo com divinicell, cabine elevada, leme de carbono e ouras coisitas mais veja em www.mutoprotec.com.br

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  3. Esse valor de 545,00 e para cada condômino.

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  4. Legal essa dica do compartilhamento, adorei velejar, mas confesso que me desânimo com os custos e tempo que temos que dispor para se ter um barco, ainda mais morando distante das marinas e a correria do trabalho... Me animei novamente e vou pesquisar e conhecer essa ideia do barco compartilhado.

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  5. o compartilhamento é fantástico, ideia excelente.. masssss ... achei alto, tanto o valor da cota, quanto a mensalidade para manutenção...

    fico em dúvida se um barco destes realmente custa 120mil reais.... comparando o que vejo no mercado...

    Já tive veleiro em sociedade com outros 2 amigos, nunca tivemos problemas de agenda.... recomendo !!!

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