quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Velejando com Deus

Boas!

Ontem à noite tive, uma vez mais, uma medida de minha ignorância e, para minha surpresa, de um infeliz preconceito que carregava. Há tempos acompanho - de longe - o projeto Velejando com Deus, do casal Marcio e Daniela Nuncianori. Inclusive, já vi o veleiro deles na baia da Ilha Grande e, dia desses, entrando aqui na barra de Santos, embora não os conheça pessoalmente.
Por conta de um convite divulgado no fórum da revista náutica, decidi ir ver o curta metragem sobre o projeto que integra o festival Curta Santos, Na Força dos Ventos (Dir. Alyson Montrezol, 2010). O Cine Roxy, afinal, fica a apenas poucas quadras de minha casa. Mas, confesso, achava que a temática seria do tipo evangelizadora e carregada de um viés ideológico e religioso que, admito, não tenho muita paciência para enfrentar.
Ledo engano. O filme e o projeto em si não têm nada disso. O primeiro é uma ode à vida no mar. Bem idealizado, bem produzido. Suas personagens não são pessoas aventureiras, não são audazes nem destemidas. São gente como eu e você, com a diferença que tiveram a coragem de realizar o que um dia, antes, foi apenas sonho. Pessoas que não romantizam a vida a bordo. Vão além e a amam, com a rudeza e com as belezas que somente as pessoas que realmente "são do mar" sabem enxergar, enfrentar e transformar em momentos de plenitude. E provam que essa conversa de não se chamar cabo, de corda, é uma bela idiotice de velejadores de Iate Clube.
O segundo, o projeto, é pura poesia. Caridade, devoção e amor ao próximo (sinônimos?), sem pieguices, chatices e tudo o mais que eu imaginava fosse encontrar. Uma bela forma de fazer da vida a bordo, mais do que um simples cruzeiro de verão, mas algo realmente importante. Pequenos gestos, um sorriso, uma palavra de carinho e incentivo. Não são estas as coisas mais importantes da vida? A certeza de que a resposta para esta pergunta é afirmativa vem acompanhada da incômoda constatação de que nem é preciso viver em um veleiro para, também, fazer a diferença na vida dos mais necessitados. Não somos, cada um de nós, um veleiro?
Ao final do filme o Marcio conta que os outros barcos, ao avistarem o Bora Bora, dizem que seus tripulantes estão bem, pois estão velejando com Deus.
Eu concordo.