quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

De Santos ao Chuí... de carro.

Boas!

Por vezes as coisas mais legais acontecem por acidente. Nossa última viagem, que nem de longe estava programada, foi assim. 

Saímos eu e as meninas dia 21/12 de Santos com destino ao Beto Carrero World. Essa parte estava programada. Passamos o dia 22 no parque, que fica na cidade de Penha/SC e depois de um dia bem legal e exaustivo tomamos o rumo da pitoresca Santo Amaro da Imperatriz, cidade vizinha de Palhoça com apenas três ou quatro ruas onde moram o pai da Priscila, Celso, e sua esposa Fabiana. Há três anos passamos o Natal lá. Em Santos somos apenas nós quatro e a Priscila sofre algum banzo nessa época. De toda forma não é nenhum sacrifício e foi bom dar um tempo do barco - até porque dia 02 iríamos para o Caulimaran, do Ulisses, levar a Priscila para conhecer Lopes Mendes!

No dia 26 bem cedo colocamos a Brida em um avião para Porto Alegre, pois ela costuma passar as férias de verão com sua família gaúcha. Exercitamos o nadismo por algum par de  horas na Guarda do Embaú e combinamos que no dia seguinte iríamos até Laguna, conhecer o Farol de Santa Marta. Laguna fica a 110 km de Santo Amaro da Imperatriz.

Chegamos em Laguna em um domingo. Estranhamente (ou não) tudo estava fechado no centro histórico, incluindo o museu Anita Garibaldi. Foi um tanto frustrante, confesso. Sem opção pegamos a balsa e seguimos para o farol. A estrada é bastante interessante, com dunas que faziam a Alice jurar que estava em um deserto. Visitamos o farol, muito bonito e imponente, que marca o fim de área meteorológica ALFA e inicia as áreas BRAVO e CHARLIE. Essas áreas, assim como as demais, são objeto do boletim climático meteoromarinha, emitido duas vezes ao dia pela Marinha do Brasil.

Lá no alto do farol, que fica em uma colina, eu comentei com a Priscila que Torres, no Rio Grande do Sul, ficava a apenas uns duzentos e poucos quilômetros dali. Foi então que eu vi nos olhos dela um brilho que há tempos não via... e foi assim que sem querer vimos o por do sol em Torres ainda naquele dia 27/12.

Casa de Anita, em Laguna/SC

Dirigindo nosso fusquinha japonês no "deserto" do Farol de Santa Marta.

O Farol de Santa Marta.

Hora de voltar...

... ou de ir mais longe?
No dia seguinte a Alice fazia aniversário. Cinco aninhos, uma mãozinha cheia. Fomos comemorar na praia da guarita, escalando os promontórios e vendo a linda vista que se tem da mais bela praia gaúcha (que alguns dizem aliás, ser a única praia bela daquele estado). 

Torres/RS


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Lá pela hora do almoço decidimos que se Porto Alegre ficava a apenas uns duzentos e poucos quilômetros dali, uma descida até lá poderia valer a pena. Eu sempre quis conhecer POA. Foi ai que a coisa que não estava planejada ficou um pouco mais bagunçada. A Priscila nasceu em Bento Gonçalves, mas foi criada em São Leopoldo. Não havia como convencê-la a passar tão perto de suas origens e não ir rever familiares e amigos. Abortei POA (que ficou para a volta) e segui para São Leo, onde passaríamos apenas uma tarde!

Que nada. Essa tarde virou quatro dias e três noites de visitas a lugares mágicos, pessoas maravilhosas e um festival de churrascos de boas vindas que nos deixou emocionados. Isso sem contar mais uma festa de aniversario para a Alice, com a presença da Brida - que não entendeu nada, pois não era para estarmos ali de jeito nenhum!

Festa! Foi assim quase todas as noites...


Nesse clima eu não tinha como tirar a Priscila dali e levar para Angra, como estava programado. Entre deixar o Ulisses "p. da vida" e a Priscila com ódio mortal de mim a escolha é mais ou menos óbvia. Ficaríamos no Rio Grande do Sul. Avisei o Ulisses e recebi uma bela e merecida resposta malcriada. É a vida...

Dia 01/01 era o dia de voltar para casa. Mas... o Farol do Chuí, começo da área Alfa estava tão pertinho... Quando iríamos ali de novo? De barco não dá para entrar no arroio e nem sequer dá para ver os campos neutrais, com suas paisagens únicas. Quando se navega por ali deve-se ficar o mais distante possível de terra...

Ao invés de voltarmos para Santos, pegamos o caminho de Pelotas. Antes, no caminho, paramos em São Lourenço do Sul, terra do Laurence, lá do clube e dono do Gaudério, que nos enviou músicas da cidade para ouvirmos durante a visita. Foi em São Lourenço que eu conheci, enfim, a Lagoa dos Patos. Minha curiosidade por aquele mar de água doce sempre foi enorme e estar ali foi bem legal. Por ser "primeiro do ano" tudo, simplesmente tudo, estava fechado. Sem conseguirmos almoçar a famosa traíra do balneário, demos uma volta generosa pela cidade e seguimos para Pelotas.

Pelotas é uma cidade grande e bem equipada. mas lá tudo também estava fechado. Nossa única opção foi o shopping - onde eu percebi, para desespero da Priscila, que alguns mitos sobre o lugar são bem reais. De toda a forma um shopping não era bem  a 'vibe' da viagem, mas era o que tinha para o almoço, literalmente. Depois da refeição fomos conhecer a praia de Laranjeiras, onde passamos um final de tarde memorável, às margens da Lagoa dos Patos. Tinha até um veleiro na água, com panos em cima, em um dia que estava para lá de vinte nós!

São Lourenço do Sul e suas árvores de tronco baixo.



Gasolina cara.

Pelotas/RS.





O dia seguinte foi "o dia". Acordamos mais ou menos cedo e seguimos para o Chuí. O fim do Brasil, seu ponto mais ao sul, estava ali a 260 km de distância. A estrada é sensacional. Depois de Rio Grande ela fica em pista simples. É bem conservada, sempre plana e com retas de mais de 100 km ! O ponto alto foi a passagem pelo parque do Taim, sob um céu azul anil (não é à toa que eles dizem que no Rio Grande do Sul o céu é mais azul) e desviando de capivaras, gaviões e cobras (sem querer eu atropelei uma dessas cobras na estrada - espero que ela esteja bem).

Depois de Rio Grande só vimos outra cidade em Santa Vitória do Palmar, distante apenas 20 km do Chuí. Entre uma cidade e outra não há nada além de enormes fazendas de arroz. Entramos em Santa Vitória e procuramos um hotel, mas estava tudo fechado (nosso karma). O plano era ficarmos hospedados ali, mas não aconteceu. Seguimos para o Chui admirando o parque eólico que vai até onde a vista alcança.

Chegamos no Chui ao som de uma rádio uruguaia. Passamos por um posto de gasolina, depois procuramos vaga em um hotel que ficava cem metros à frente. Depois de mais cinquenta metros passamos por uma rotatória e, para nossa surpresa, o Brasil acabava ali: estávamos no Uruguai! Chuí não tem nem quatro quarteirões.

Instalados no Hotel fomos brincar de ficar cruzando a fronteira, feito crianças bobas: cansei do Brasil, vou embora para o Uruguai; ah, mas que saudades do Brasil, vou voltar!

No Uruguai a Alice começou a chorar com medo das pessoas que falavam "daquele jeito", nas palavras dela. Passeamos por umas lojas da zona livre e, no fim do dia, fomos encontrá-lo: o Farol do Chuí.

Infinita highway...

Retas sem fim...

... um céu azul que doía de tão lindo.

Santa Vitória do Palmar.

Pertinho...

Parque eólico a caminho do Chuí.




Acabou o Brasil?!

E ali estava ele...

O farol é do Chuí, mas fica em Santa Vitória do Palmar...



O arroio Chuí. Do meio para lá é o Uruguai.



Essa garotinha já tem histórias para contar...

Quem de vocês já pegou um peixe no Chuí?



Essa viagem foi atípica e memorável. Percorremos dois mil quilômetros para chegar ali. Paramos em dezoito cidades (Penha, Santo Amaro da Imperatriz, Palhoça, Florianópolis, Guarda do Embaú, Laguna, Torres, São Leopoldo, Portão, Gramado, Montenegro, São Lourenço do Sul, Pelotas, Santa Vitória do Palmar, Chui, Chuy, Tapes e Porto Alegre)  e estivemos em dois países.

Confesso que chegar no Farol do Chuí foi um pouco melancólico, pois representou o fim de nosso avanço. Tanto que só fomos para lá ao fim do dia. A vontade era de continuar seguindo, sempre ao sul... Como quando estamos velejando, chegar às vezes é um pouco chato, pois o mais legal é o caminho. Chegar é terminar a viagem e essa nossa viagem, muito simples e até bobinha, foi linda por causa disso: o caminho foi maravilhoso. Em cada lugar descobrimos algo legal e diferente, em todos os lugares fomos recebidos com muito, muito amor. Voltar para casa foi um pouco complicado por conta disso e pelo fato de que os dois mil quilômetros seguintes seriam feitos praticamente direto (fizemos em três dias e doeu!).

Para mim foi muito legal ver o Farol do Chuí. Eu me senti de alguma forma vitorioso ao me banhar no arroio e ao ver a Alice fazendo um castelinho de areia na praia brasileira mais ao sul possível - coisas de quem adora olhar mapas e imaginar viagens pouco convencionais. Mas muito mais legal que isso foi ver a emoção e as lágrimas no rosto dos amigos que reencontravam a Priscila. Isso me marcou muito.  Em todas as casas que visitamos (e foram muitas), houve sempre um longo abraço apertado e um choro feliz. Havia dez anos que ela não ia no Rio Grande do Sul, mas ela manteve laços muito fortes lá. Apesar de não ter saído de lá por minha causa, eu me senti um pouco culpado por tirar aquilo dela. Não sei explicar bem isso. Mas sei muito bem como é bom ver que a mãe das minhas filhas é uma pessoa tão amada e querida. Fiquei ainda mais orgulhoso dela. No final, bem analisada a carta náutica da minha vida, é ela o meu verdadeiro farol.



E vamos no pano mesmo!


2 comentários:

  1. Que lindo Juca, emocionante relato, viajar por terra também nos traz muitas emoções e recordações. E que declaração à Almiranta hein?!

    Só faltou vocês passarem por aqui de novo!

    Grande abraço da nossa família à sua desde a Babitonga!

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    1. Pois é, a gente até pensou em ir ai... Mas da próxima com certeza! Bons ventos, meus amigos!

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