Dia desses eu estava no Soneca, durante sua estadia aqui no Clube Internacional de Regatas. Enquanto o Tio Spinelli falava de seus planos e os marujos Bruna e Vitor se debruçavam sobre cartas náuticas, ansiosos com a viagem, eu me peguei pensando em quanto aquele barco era diferente, comendo um naco de doce de banana.
O Soneca é um barco espartano. Não tem luxos como ar condicionado, geladeira elétrica ou convés de teca. Aliás em seu convés pode-se andar calçado, coisa que me agrada por demais! A comida é feita em conservas e com isso no meio do oceano pode-se comer um bife a rolet com cheiro de recém cozido. O casco é um tanque de guerra.
A bandeira da Argentina hasteada na cruzeta do Soneca. |
Cada coisa em seu interior não está lá à toa. Cada item tem sua função específica e está em lugar determinado. Não raro a gente escuta o Tio dizer: "Pega aquilo que está no segundo armário da cabine de proa, a bombordo, em uma caixa amarela de tampa transparente". E sempre a tal coisa está lá, do jeito que ele falou. Em uma travessia, em especial em uma travessia longa como a que o Soneca fez, ter tudo arrumado a bordo e ter uma mapa mental da arrumação é uma questão de sobrevivência.
O Spinelli tem uma sintonia com o mar e com seu barco que hoje em dia é algo cada vez mais raro. Ele é um dos poucos velejadores que hoje em dia têm alma de explorador. Tem uns seis GPS a bordo, mas sabe usar o sextante. Estiva cabos de um jeito simples e que nunca dá enrosco. Prefere ir no vento. Ele sabe que um veleiro é mais do que um objeto de lazer dominical ou um item de status. Mais do que isso, é uma máquina de viajar, ávida por conhecer o que existe além do horizonte. O Tio conversa com o Soneca e sabe ouvir o que ele diz. E vice versa. É algo que quem é apaixonado pelo mar, por aventuras, por navegação, enfim, adora ver.
Não, o Soneca não é um barco luxuoso. Mas é um barco que vai para qualquer lugar - coisa que muito barco chique por ai não faz, em especial aqueles condenados a boiar no píer à espera de um verão que muitas vezes não vem.
Vitor Young em momento Soneca. |
Ontem pela manhã o Soneca completou a travessia a que havia se proposto. De Ubatuba a Buenos Aires foram percorridas 1.226 milhas náuticas, ao longo de 24 dias e 04 horas - sendo que cerca de dez dias foram de exclusiva navegação (os demais foram em portos, a espera de tempo adequado). Houve escalas em Santos, Paranaguá, São Francisco do Sul, Joinville, Porto Belo, Florianópolis e Rio Grande. Na tripulação que chegou à capital portenha tivemos a Bruna Tau, de São José dos Campos, o Vitor Young, de Santos e o Silvio Guimarães, de Barretos. Ainda tivemos a companhia do José Eduardo e do Genésio por parte do caminho.
A tripulação: Vitor Young, Silvio Guimarães, José Spinelli e Bruna Tau. |
Eu acompanhei tudo aqui do escritório e passei através do blog uma ínfima parte do que eles viveram. A verdade, porém, é que apenas quem esteve lá tem a dimensão do tamanho do feito, por mais que o Tio vá falar dessa travessia como uma simples ida até ali. Vivemos em um país que permanece de costas para muitas coisas, incluindo o mar - embora nossa vocação marítima proporcional aos mais de oito mil quilometros de costa. Passamos dia após dia inventando amarras e adiando o sonho que temos de ir lá ver, como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Não, não temos.
Bruna, Vitor (com umalinda camiseta) e Silvio. |
Eu viajei com eles, mas via Spot. |
O Soneca na noite de Puerto Madero. |
Por isso, mais do que registrar o final dessa travessia, eu gostaria de parabenizar enfaticamente a Bruna, o Vitor, o Silvio, o Genésio, o José Eduardo e, principalmente, o Tio Spinelli, por terem tido a coragem de ir até lá e ver o mundo com seus próprios olhos, por serem os protagonistas de suas próprias vidas.
Agora é pensar na volta! Temos duas vagas!!!
E vamos no pano mesmo!
Juca. Como dizia um antigo marinheiro do CRG... "Num barco, cada lugar tem seu nome e cada coisa seu lugar". Abraço.
ResponderEliminarEu não diria melhor! Traduziu o que eu vi do Soneca e do Tio Spinelli!
ResponderEliminarJuca, tive a oportunidade de conhecer o Tio quando vim morar em Ubatuba e a felicidade de tê-lo a bordo do Gaipava para uma velejada radical afim de constatar a casca grossa do barco e do marujo. Confesso que o Gaipava saiu-se melhor que eu, mas tirei grande aprendizado daquele dia. O Tio Spinelli foi em dois outros dias só prá melhorar meu sistema de riso da mestra. Velejamos também eu e a Maria no Soneca. Por tudo, nada me surpreende que tenha chegado onde chegou. Só lamento não ter ido nessa...
ResponderEliminarRiso = Rizo. Ops...
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