quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Quem tem medo do lobo mau?

Boas!

Quem tem medo do lobo mau? Acredito que nem mesmo minha filha Alice, de seis anos, tem. Mas do Velho Lobo do Mar... Ah, desse eu me pelo de medo!

Ano passado, se a memória não me falha, um desses velhos lobo do mar foi contratado para levar um veleiro de vinte e três pés do Rio de Janeiro para Ubatuba. A história está melhor contada no blog do Vivre, do Walnei Antunes. Em linhas gerais o sujeito era um capitão muito experiente, um velho lobo do mar, velejava desde espermatozoide e, contrariando a previsão de ventos fortes (contrários), ressaca e as súplicas para que esperasse dois ou três dias, saiu mesmo assim. A travessia durou poucas horas. O barco capotou antes mesmo de sair da Guanabara.

Como eu disse, me pelo de medo de velhos lobos do mar.

Nos dias 01, 02 e 03 de setembro deste ano gravamos um episódio do #SAL em Ubatuba, sob a batuta do Spinelli e a bordo do Soneca. O tema foi um curso de vela apenas para mulheres de velejadores. Foi nossa segunda experiência nesse sentido, ano passado fizemos um em parceria com a ABVC.

As meninas pegaram ventos de 35, quarenta nós, com a mestra na segunda da forra e storm. Estão apaixonadas pela vela. Isso mostra que com a orientação adequada, com um barco forte e bem preparado, qualquer um pode enfrentar condições adversas sem quebrar o barco, sem fazer água e, o mais importante, sem machucar ou traumatizar ninguém.

Um veleiro não deve ser um espanta família. Pelo contrário, ele é um local onde a família pode passar tempo de qualidade. E tempo em família hoje, é nossa maior riqueza.

Veleiros e agendas não combinam. 

Hoje em dia, só pega porrada quem quer. 

Os grandes navegadores que conheço, e conheço alguns,  antes de qualquer travessia se preparam, preparam o barco, estudam a previsão. 

O que aquele velho lobo do mar  fez é um lamentável exemplo daquilo que a vela não é. E um exemplo a não ser seguido, embora haja por ai alguns neófitos com complexo de inferioridade que querem provar algo para alguém, ou para si mesmos. O fato é que ninguém que tenha  zero preparo, esteja com um barco que  mal conhece ou inadequado, e que não tinha tripulação treinada, deve se lançar deliberadamente ao mau tempo. E quem tem preparo de verdade, espera a condição certa antes de ir de Santos para o Rio de Janeiro, ou "só até ali" (minha especialidade).

Peço perdão a quem não concorda, mas esse tipo de pessoa representa tudo aquilo que eu acredito que não deva ser feito no mar. 

Ganha-se experiência? Olha... Ser devorado por um leão também é experiência. E não faz disso ninguém melhor.  Ir para o mau tempo, mesmo que seja para aprender, significa que se fará uso das técnicas de velejar em mau tempo. Capear. Rizar. Correu com o tempo. 

A Cusco Baldoso já formou mais de duzentos velejadores. Há quase uma centena de barcos de alunos por ai. E nunca ninguém se traumatizou, machucou ou perdeu o amor pela vela ou o principal, o respeito pelo mar. 

Não se enganem, o velho marinheiro sabe que ele nunca venceu a tempestade, foi o mar que deixou ele passar.

E vamos no pano mesmo.

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